Nove quilómetros de areia dourada e fina! Águas translúcidas,
mornas, de vários tons de azul! Clima ameno todo ano! Sabe onde fica? Porto Santo,
uma das ilhas do arquipélago da Madeira. Um paraíso no meio do Atlântico.
E não é preciso programar férias longas. 2/3 dias bastam para
recuperar as forças, relaxar na ilha, que está bem perto de Portugal, a somente
1h40 de avião. E muitas vezes a preços espetaculares, mais baratos até do que uma
ida ao Porto ou ao Algarve em portagens e combustível. Venha até Porto Santo!
Domingo
15h. Estava a aprontar- me para sair de casa e rimar ao aeroporto
quando a minha companheira de viagem me telefona a dizer que tinha recebido um SMS
a informá-la de que o nosso voo tinha sido cancelado. “Há não vamos para Porto Santo”,
constata ela.
Não, não iria desistir e prescindir destes três dias de descanso
naquela bela ilha do Atlântico.
Vejo online que alternativas haveria à easyJet. O próximo voo
desta companhia aérea só ´seria na 4ª f seguinte, no dia do nosso regresso. Que
fazer? O e-mail era claro. Poderíamos remarcar o voo sem custos ou pedir o reembolso
ou um voucher.
Liguei para o centro de atendimento, pensando que não iria resolver
o assunto. Esperei bastante tempo até ser atendida, sempre a ouvir as mensagens
de que seria mais cómodo ir â página web.
Finalmente, alguém atendeu. Uma senhora, Carolina, com uma voz
muito simpática que nos ofereceu um voo alternativo, mas via Funchal com chegada
a Porto Santo no dia seguinte por volta das 7h30. Nem teríamos de dormir no aeroporto.
Poderíamos reservar um hotel num Funchal e a easyJet reembolsar-nos-ia os nossos
custos.
A causa do cancelamento: o avião previsto para efetuar o voo
sofrera danos no solo em Lisboa, causados por uma roda . Os engenheiros da easyJet
verificaram que os danos eram substanciais e foi tomada a decisão de cancelar o
voo. Em última análise, e no caso deste voo, os atrasos fizeram com que a tripulação
ultrapassasse o limite máximo legal de horas de operação.
Às 22h50 lá partimos na TAP para o Funchal. Aí tomámos o táxi
da Sra. D. Dores Abreu, uma mulher de armas todas decidida, que nos levou para o
Vila Galé de Santa Cruz.
Tiro e queda, deitámo-nos e dormimos muito rapidamente.
2ª f
Um pouco antes das 6h, o despertador tocou. Aprontámo-nos e a
Sra. D. Dores Abreu levou-nos de volta para o aeroporto. O avião da Binter Canárias
descolou às 7h22. Depois entrámos dentro duma nuvem e, uns minutos depois, o piloto
anunciou para nos prepararmos para aterragem. Aterrámos às 7h34. 12 minutos de voo!
Um táxi levou-nos para o apartamento que tínhamos alugado. Rapidamente
lá chegámos, pois em Porto Santo tudo é perto. Porto Santo tem uma área de 42,48
km2 e uma população de pouco mais de 5 mil pessoas. O apartamento foi
uma boa descoberta. Tinha dois quartos, duas casas de banho e uma boa sala, perfeito
para os nossos três dias de relax.
Apartamento Beach Relax |
Refrescámo-nos e fomos até ao Shopping Zarco, a aprox. 400 metros
comprar o que precisaríamos para os três pequenos-almoços.
A descoberta oficial da Ilha de Porto Santo ocorre no século
XV durante o reinado Dom João I. Embora a localização das ilhas já fosse conhecida,
por já haver referências das mesmas em cartas marítimas, só nessa altura é que o
território foi reconhecido perante a corte portuguesa e foi decidido o seu povoamento.
Porto Santo foi a primeira ilha do arquipélago da Madeira a ser descoberta pelos
navegadores João Gonçalves Zarco, Tristão Vaz Teixeira e Bartolomeu Perestrelo em
1418 – mas por mero acaso. Os marinheiros chegaram esta pequena ilha arrastados
por uma tempestade. Chamaram-lhe então Porto Seguro ou Porto Santo, pois livrou
a tripulação dum naufrágio e morte certa.
O Infante D. João I foi o primeiro donatário da ilha entre 1418
e 1419, tendo nomeado Bartolomeu Perestrelo para Capitão donatário, que ficou encarregue
da sua colonização. Após a morte do João I, o seu sucessor, o rei D. Duarte, doou
o arquipélago da Madeira ao Infante Dom Henrique em 1433.
Uma das filhas de Bartolomeu Perestrelo, Filipa Moniz, casou
com o navegador Cristóvão Colombo. A casa onde supostamente terão vivido é agora
um museu.
Naquele tempo, as ilhas eram muito vulneráveis a ataques de piratas
e corsários. Também Porto Santos não foi
poupada a esses ataques violentos. O mais cruel aconteceu em agosto de 1617, efetuado
por uma frota argelina de oito navios. Foram levados para Argel 900 habitantes,
tendo ficado na ilha apenas 18 homens e sete mulheres que se esconderam em grutas
nos montes e em silos de cereais, escavados no pavimento de algumas casas.
O objetivo principal destes ataques era a captura de cristãos
para serem vendidos como escravos. Para isto eram escolhidos principalmente os homens
válidos e jovens, as mulheres em idade fértil e as crianças por constituírem mais
fácil veículo de propagação da fé.
Fortalecidas com um bom pequeno-almoço, fomos até Vila Baleira, a capital da ilha, sempre pela maravilhosa praia de areia dourada.
Saímos na Praia da Fontinha, junto ao hotel Torre
Praia e aos balneários bem coloridos. No final da rua, há a fábrica da água, agora
desativada, que em tempos engarrafou água que vinha duma nascente , daí o nome da
praia. Foi fundada em 1921 por João Vicente da Silva, adquirida pouco tempo
depois pela empresa Araújo, Tavares & Passos Lda., cujas quotas ainda pertencem
às famílias Araújo e Tavares.
Fábrica da Água |
Desde finais
do século XIX, falava-se da hipótese de exploração das águas minerais da Fontinha,
havendo mesmo quem a levasse para a Madeira, pois dizia-se que tinhas propriedades
medicinais. A 7 de janeiro de 1893 foi efetuada em Paris a primeira análise das
águas da Fontinha, que revelaram serem bicarbonatadas, cloretadas e sulfatadas sódicas,
aconselháveis, portanto, para o tratamento de doenças de pele e do aparelho digestivo.
Infelizmente,
em 1995, após uma vistoria realizada pela Direção
Regional de Saúde Pública, foi ordenada a cessação de laboração da unidade fabril.
Cristóvão Colombo |
Infante D. Henrique |
"Pau de sabão" |
Seguimos até ao jardim municipal, um local muito agradável, com
o busto do Cristóvão Colombo, uma estátua do infante D. Henrique, inaugurada em
2018, e o Padrão dos Descobrimentos, conhecido por “Pau de Sabão”.
Igreja de Nossa Senhora da Piedade |
altar -mor |
Jesus e os onze apóstolos |
Subimos a rua e chegámos à igreja-matriz, a Igreja de Nossa Senhora da Piedade, edificada em 1430. No entanto somente
em 1500 é determinada igreja paroquial. A igreja foi destruída várias vezes durante
os ataques de piratas. Talvez seja esta a razão por o seu nome ter sido alterado
de Nossa Senhora da Conceição para Nossa Senhora da Piedade. A igreja é composta
por dois corpos retangulares, donde se salienta a torre sineira. O interior é de
nave única com quatro capelas laterais. Na capela-mor realça o retábulo de estilo
maneirista que compreende três pinturas, sendo a central dedicada ao Cristo morto,
de Martin Conrado, de 1650, e as laterais
de Max Römer, inspiradas em duas figuras de Albrecht Dürer.
Casa-museu Cristóvão Colombo |
Mesmo ao lado temos a Casa-Museu de Cristóvão Colombo. No decorrer das
obras de remodelação em finais da década 90 do século 20 foram colocadas a descoberto
duas janelas de arco. No edifício ao lado está instalado o Museu dos Descobrimentos
onde se dá a conhecer a posição estratégica que o arquipélago teve nas expedições
marítimas dos descobrimentos.
Jantámos no restaurante Mar e Sol de Maria Miquelina Paixão, uma madeirense
que vive na ilha há 35 anos e que faz uma comida verdadeiramente caseira, que nos
deliciou, enquanto olhávamos o mar. O restaurante está mesmo na praia e foi um ótimo
fim de dia. As lapas grelhadas e o bolo do caco com manteiga de alho estavam divinais.
Lapas grelhadas |
O bolo do caco remontará ao século XV. O seu nome vem do facto de ser
cozido, antigamente, em cima de uma pedra de basalto. Como não precisa de forno
para ser feito tornou-se uma excelente opção para a maioria das pessoas que viviam
em condições económicas muito frágeis. Batata doce, farinha, água, sal e fermento
são os ingredientes do bolo do caco.
3ªf
Começámos o passeio procurando o Moinho das Lombas. Os moinhos de vento
terão surgido na ilha no século XVII por
volta de 1794, sendo muito úteis para a população na moagem de cereais, necessária ao fabrico do
pão, usando a força motriz do vento. A difusão
dos moinhos foi tão expressiva que na atualidade constitui uma imagem de marca da
região. À tarde, aquando da volta que demos
de autocarro pela ilha, vimos três belos exemplares junto ao miradouro da Portela.
A maioria dos moinhos de Porto Santos, construída de madeira,
é giratória, pois a ilha está exposta
ao vento vindo de vários quadrantes.
Moinho das Lombas |
Percorremos ruas e ruelas até chegarmos a Vila Baleira, passando
pelo Forte de São José, seguindo depois até à marina que
está situada na costa sul da Ilha, dentro do porto comercial e protegida por dois
molhes com farolins. É a 1ª marina para os velejadores que vêm de Portugal Continental
ou do estreito de Gibraltar.
Entrada do forte de São José |
Marina de Porto Santo |
À tarde resolvemos fazer uma volta à ilha de autocarro que nos levou à Calheta,
onde pudemos ver bem de perto o Ilhéu da Cal que é o maior de Porto Santo.
Recebeu a sua denominação da predominância do minério da cal neste local. A extração
da cal foi durante muitos anos e uma importante fonte de receita para economia local.
Atualmente as meninas estão desativadas. A separação do ilhéu da ilha deu-se por
erosão.
Ilhéu da Cal |
Seguimos para a Fonte da Areia. A grande
quantidade de areia deu o nome a esta localidade, onde outrora se encontrava a água
mais pura do Porto Santo e que chegou mesmo a ser considerada uma fonte sagrada
pelos habitantes.
Do Miradouro da Fonte de Areia, Porto Santo, avista-se
o Ilhéu da Fonte de Areia, bem como a falésia e a costa norte da ilha.
As rochas arenosas, moldadas pela erosão do vento, são extensas acumulações de arenitos
biogénicos carbonatados, classificados como eolianitos, provocadas pela ação secular
do vento.
Os eolianitos são a rocha-mãe da atual areia da praia
do Porto Santo, cujas partículas arenosas são, na sua larga maioria, constituídas
por fragmentos de conchas de moluscos e algas calcárias, uma herança da vida marinha
que aqui terá existido.
A paragem seguinte foi no Pico do Castelo. Este pico está
intimamente ligado à
história da ilha, tendo
durante séculos como abrigo da população face aos ataques e saques de piratas e corsários.
Este pico, que corresponde a uma antiga cratera vulcânica, encontra-se localizado a 437 m de altitude e proporciona
uma vista excecional sobre Porto Santo. Aqui foi construída uma pequena fortaleza
no século XVI para fazer frente às invasões de piratas. Lá há uma homenagem a António
Bon de Sousa Schiappa de Azevedo (1870-1926), responsável pela reflorestação de
Porto Santo que se encontrava desprovido de qualquer vegetação. O êxito obtido neste
pico deveu-se ao trabalho persistente de arranjar o terreno e construir muretos
em pedra para suporte e sustentação da pouca terra que existia na encosta.
A costa vista do miradouro da Portela |
Antes de regressarmos a Vila Baleira, donde partíramos, parámos
ainda no miradouro da Portela, com os seus três belos moinhos de vento.
4ªf
Capela do Espírito Santo |
Depois do pequeno-almoço e do café na Pastelaria Zarco começámos
a nossa caminhada. A primeira paragem foi na capela do Espírito Santo. A atividade
deste local de culto é remota, havendo referências a uma ermida no século XVI dedicado
ao Espírito Santo. A capela foi reconstruída no final do século XVIII - princípios
do século XIX em estilo protobarroco. A fachada tem linhas simples, mas no interior
destaca-se o altar em talha dourada e policromada em estilo maneirista, de meados
do século XVII.
Fontanário do Espírito Santo |
Logo ao lado está o Fontanário do Espírito Santo. Os trabalhos
de construção desse fontanário tiveram início em agosto de 1890 para servir a população
local, aproveitando as águas do Ribeiro Coxinho. A falta de água foi desde sempre
um desafio, com influência direta na vida das populações. O seu transporte era feito
ou em latas transportadas às costas, ou em bilhas ao pescoço ou até em barris. Enquanto
esperavam que as latas de água se enchessem, tarefa que muitas vezes demorava duas
a três horas, as mulheres aproveitam esse tempo para conviver, conversar e bordar.
Pico Ana Ferreira |
A caminho da praia e da baía do Zimbralinho, temos o Pico de
Ana Ferreira de grande interesse geológico não só pela raridade como dimensão. Este
é o ponto mais elevado do lado ocidental da ilha. Nesta área, que outrora foi uma
antiga pedreira, podem ver-se formações rochosas que resultaram do arrefecimento
do magma no interior das condutas vulcânicas. São popularmente conhecidos como o
“piano”.
Praia do Zimbralinho |
Ilhéu da Cal e costa vista do Zimbralinho |
Continuando a subir em direção ao mar, chegámos finalmente à Baía do Zimbralinho. A praia , de calhau, tem, porém, fantásticas águas azul turquesa, onde se podem ver formações vulcânicas submarinas (pillow lavas). Infelizmente os acessos estão cortados e não se pode descer até à praia.
Restaurante Casa da Avó |
Regressámos ao apartamento, não sem antes mergulharmos nas águas
cálidas. Jantámos divinalmente na restaurante Casa da Avó, onde fomos muito bem
recebidas pelo empregado Alexandre, que nos preparou uma deliciosa poncha: misture
sumo de 2 limões e 1 laranja. Meça o sumo e junte a mesma quantidade de aguardente
de cana e mel a gosto. Mexa com o caralhinho, e delicie-se.
Alexandre a preparar a poncha |
Poncha |
Repetimos as lapas grelhadas com bolo do caco. E como prato principal
pedimos a famosa espetada. A carne derretia-se na boca. Só tivemos pena que não
houvesse milho frito para acompanhar.
A espetada de vitela |
Do restaurante fomos diretamente para o aeroporto. Foram três
maravilhosos dias de relaxamento.