sexta-feira, 10 de maio de 2024

Porto Santo - três dias de descanso

 

Nove quilómetros de areia dourada e fina! Águas translúcidas, mornas, de vários tons de azul! Clima ameno todo ano! Sabe onde fica? Porto Santo, uma das ilhas do arquipélago da Madeira. Um paraíso no meio do Atlântico.

E não é preciso programar férias longas. 2/3 dias bastam para recuperar as forças, relaxar na ilha, que está bem perto de Portugal, a somente 1h40 de avião. E muitas vezes a preços espetaculares, mais baratos até do que uma ida ao Porto ou ao Algarve em portagens e combustível. Venha até Porto Santo!

 

Domingo

15h. Estava a aprontar- me para sair de casa e rimar ao aeroporto quando a minha companheira de viagem me telefona a dizer que tinha recebido um SMS a informá-la de que o nosso voo tinha sido cancelado. “Há não vamos para Porto Santo”, constata ela.

Não, não iria desistir e prescindir destes três dias de descanso naquela bela ilha do Atlântico.

Vejo online que alternativas haveria à easyJet. O próximo voo desta companhia aérea só ´seria na 4ª f seguinte, no dia do nosso regresso. Que fazer? O e-mail era claro. Poderíamos remarcar o voo sem custos ou pedir o reembolso ou um voucher.

Liguei para o centro de atendimento, pensando que não iria resolver o assunto. Esperei bastante tempo até ser atendida, sempre a ouvir as mensagens de que seria mais cómodo ir â página web.

Finalmente, alguém atendeu. Uma senhora, Carolina, com uma voz muito simpática que nos ofereceu um voo alternativo, mas via Funchal com chegada a Porto Santo no dia seguinte por volta das 7h30. Nem teríamos de dormir no aeroporto. Poderíamos reservar um hotel num Funchal e a easyJet reembolsar-nos-ia os nossos custos.

A causa do cancelamento: o avião previsto para efetuar o voo sofrera danos no solo em Lisboa, causados por uma roda . Os engenheiros da easyJet verificaram que os danos eram substanciais e foi tomada a decisão de cancelar o voo. Em última análise, e no caso deste voo, os atrasos fizeram com que a tripulação ultrapassasse o limite máximo legal de horas de operação.

Às 22h50 lá partimos na TAP para o Funchal. Aí tomámos o táxi da Sra. D. Dores Abreu, uma mulher de armas todas decidida, que nos levou para o Vila Galé de Santa Cruz.

Tiro e queda, deitámo-nos e dormimos muito rapidamente.

 

2ª f

Um pouco antes das 6h, o despertador tocou. Aprontámo-nos e a Sra. D. Dores Abreu levou-nos de volta para o aeroporto. O avião da Binter Canárias descolou às 7h22. Depois entrámos dentro duma nuvem e, uns minutos depois, o piloto anunciou para nos prepararmos para aterragem. Aterrámos às 7h34. 12 minutos de voo!

Um táxi levou-nos para o apartamento que tínhamos alugado. Rapidamente lá chegámos, pois em Porto Santo tudo é perto. Porto Santo tem uma área de 42,48 km2 e uma população de pouco mais de 5 mil pessoas. O apartamento foi uma boa descoberta. Tinha dois quartos, duas casas de banho e uma boa sala, perfeito para os nossos três dias de relax.

Apartamento Beach Relax




Refrescámo-nos e fomos até ao Shopping Zarco, a aprox. 400 metros comprar o que precisaríamos para os três pequenos-almoços.

 


A descoberta oficial da Ilha de Porto Santo ocorre no século XV durante o reinado Dom João I. Embora a localização das ilhas já fosse conhecida, por já haver referências das mesmas em cartas marítimas, só nessa altura é que o território foi reconhecido perante a corte portuguesa e foi decidido o seu povoamento. Porto Santo foi a primeira ilha do arquipélago da Madeira a ser descoberta pelos navegadores João Gonçalves Zarco, Tristão Vaz Teixeira e Bartolomeu Perestrelo em 1418 – mas por mero acaso. Os marinheiros chegaram esta pequena ilha arrastados por uma tempestade. Chamaram-lhe então Porto Seguro ou Porto Santo, pois livrou a tripulação dum naufrágio e morte certa.

O Infante D. João I foi o primeiro donatário da ilha entre 1418 e 1419, tendo nomeado Bartolomeu Perestrelo para Capitão donatário, que ficou encarregue da sua colonização. Após a morte do João I, o seu sucessor, o rei D. Duarte, doou o arquipélago da Madeira ao Infante Dom Henrique em 1433.

Uma das filhas de Bartolomeu Perestrelo, Filipa Moniz, casou com o navegador Cristóvão Colombo. A casa onde supostamente terão vivido é agora um museu.

Naquele tempo, as ilhas eram muito vulneráveis a ataques de piratas e  corsários. Também Porto Santos não foi poupada a esses ataques violentos. O mais cruel aconteceu em agosto de 1617, efetuado por uma frota argelina de oito navios. Foram levados para Argel 900 habitantes, tendo ficado na ilha apenas 18 homens e sete mulheres que se esconderam em grutas nos montes e em silos de cereais, escavados no pavimento de algumas casas.

O objetivo principal destes ataques era a captura de cristãos para serem vendidos como escravos. Para isto eram escolhidos principalmente os homens válidos e jovens, as mulheres em idade fértil e as crianças por constituírem mais fácil veículo de propagação da fé.

 




Fortalecidas com um bom pequeno-almoço, fomos até Vila Baleira, a capital da ilha, sempre pela maravilhosa praia de areia dourada. 

Saímos na Praia da Fontinha, junto ao hotel Torre Praia e aos balneários bem coloridos. No final da rua, há a fábrica da água, agora desativada, que em tempos engarrafou água que vinha duma nascente , daí o nome da praia. Foi fundada em 1921 por João Vicente da Silva, adquirida pouco tempo depois pela empresa Araújo, Tavares & Passos Lda., cujas quotas ainda pertencem às famílias Araújo e Tavares.

Fábrica da Água


Desde finais do século XIX, falava-se da hipótese de exploração das águas minerais da Fontinha, havendo mesmo quem a levasse para a Madeira, pois dizia-se que tinhas propriedades medicinais. A 7 de janeiro de 1893 foi efetuada em Paris a primeira análise das águas da Fontinha, que revelaram serem bicarbonatadas, cloretadas e sulfatadas sódicas, aconselháveis, portanto, para o tratamento de doenças de pele e do aparelho digestivo.

Infelizmente, em 1995, após uma vistoria realizada pela Direção Regional de Saúde Pública, foi ordenada a cessação de laboração da unidade fabril.

Cristóvão Colombo

Infante D. Henrique


"Pau de sabão"


Seguimos até ao jardim municipal, um local muito agradável, com o busto do Cristóvão Colombo, uma estátua do infante D. Henrique, inaugurada em 2018, e o Padrão dos Descobrimentos, conhecido por “Pau de Sabão”.

Igreja de Nossa Senhora da Piedade



altar -mor

Jesus e os onze apóstolos


Subimos a rua e chegámos à igreja-matriz, a Igreja de Nossa Senhora da Piedade, edificada em 1430. No entanto somente em 1500 é determinada igreja paroquial. A igreja foi destruída várias vezes durante os ataques de piratas. Talvez seja esta a razão por o seu nome ter sido alterado de Nossa Senhora da Conceição para Nossa Senhora da Piedade. A igreja é composta por dois corpos retangulares, donde se salienta a torre sineira. O interior é de nave única com quatro capelas laterais. Na capela-mor realça o retábulo de estilo maneirista que compreende três pinturas, sendo a central dedicada ao Cristo morto, de Martin Conrado,  de 1650, e as laterais de Max Römer, inspiradas em duas figuras de Albrecht Dürer.

Casa-museu Cristóvão Colombo


Mesmo ao lado temos a Casa-Museu de Cristóvão Colombo. No decorrer das obras de remodelação em finais da década 90 do século 20 foram colocadas a descoberto duas janelas de arco. No edifício ao lado está instalado o Museu dos Descobrimentos onde se dá a conhecer a posição estratégica que o arquipélago teve nas expedições marítimas dos descobrimentos.

Jantámos no restaurante Mar e Sol de Maria Miquelina Paixão, uma madeirense que vive na ilha há 35 anos e que faz uma comida verdadeiramente caseira, que nos deliciou, enquanto olhávamos o mar. O restaurante está mesmo na praia e foi um ótimo fim de dia. As lapas grelhadas e o bolo do caco com manteiga de alho estavam divinais.

Lapas grelhadas


O bolo do caco remontará ao século XV. O seu nome vem do facto de ser cozido, antigamente, em cima de uma pedra de basalto. Como não precisa de forno para ser feito tornou-se uma excelente opção para a maioria das pessoas que viviam em condições económicas muito frágeis. Batata doce, farinha, água, sal e fermento são os ingredientes do bolo do caco.

 

 

3ªf

Começámos o passeio procurando o Moinho das Lombas. Os moinhos de vento terão  surgido na ilha no século XVII por volta de 1794, sendo muito úteis para a população na moagem de cereais,  necessária ao fabrico do pão, usando a força motriz do vento. A difusão dos moinhos foi tão expressiva que na atualidade constitui uma imagem de marca da região. À tarde, aquando  da volta que demos de autocarro pela ilha, vimos três belos exemplares junto ao miradouro da Portela. A maioria dos moinhos de Porto Santos, construída de madeira, é giratória, pois a ilha está exposta ao vento vindo de vários quadrantes.


Moinho das Lombas


Percorremos ruas e ruelas até chegarmos a Vila Baleira, passando pelo Forte de São José, seguindo depois até à marina que está situada na costa sul da Ilha, dentro do porto comercial e protegida por dois molhes com farolins. É a 1ª marina para os velejadores que vêm de Portugal Continental ou do estreito de Gibraltar.

Entrada do forte de São José


Marina de Porto Santo


À tarde resolvemos fazer uma volta à ilha de autocarro que nos levou à Calheta, onde pudemos ver bem de perto o Ilhéu da Cal que é o maior de Porto Santo. Recebeu a sua denominação da predominância do minério da cal neste local. A extração da cal foi durante muitos anos e uma importante fonte de receita para economia local. Atualmente as meninas estão desativadas. A separação do ilhéu da ilha deu-se por erosão.

Ilhéu da Cal


Seguimos para a Fonte da Areia. A grande quantidade de areia deu o nome a esta localidade, onde outrora se encontrava a água mais pura do Porto Santo e que chegou mesmo a ser considerada uma fonte sagrada pelos habitantes.

Do Miradouro da Fonte de Areia, Porto Santo, avista-se o Ilhéu da Fonte de Areia, bem como a falésia e a costa norte da ilha.
As rochas arenosas, moldadas pela erosão do vento, são extensas acumulações de arenitos biogénicos carbonatados, classificados como eolianitos, provocadas pela ação secular do vento.

Os eolianitos são a rocha-mãe da atual areia da praia do Porto Santo, cujas partículas arenosas são, na sua larga maioria, constituídas por fragmentos de conchas de moluscos e algas calcárias, uma herança da vida marinha que aqui terá existido.

A paragem seguinte foi no Pico do Castelo. Este pico está intimamente ligado à história da ilha, tendo durante séculos como abrigo da população face aos ataques e saques de piratas e corsários.

Este pico, que corresponde a uma antiga cratera vulcânica,  encontra-se localizado a 437 m de altitude e proporciona uma vista excecional sobre Porto Santo. Aqui foi construída uma pequena fortaleza no século XVI para fazer frente às invasões de piratas. Lá há uma homenagem a António Bon de Sousa Schiappa de Azevedo (1870-1926), responsável pela reflorestação de Porto Santo que se encontrava desprovido de qualquer vegetação. O êxito obtido neste pico deveu-se ao trabalho persistente de arranjar o terreno e construir muretos em pedra para suporte e sustentação da pouca terra que existia na encosta.

A costa vista do miradouro da Portela

Antes de regressarmos a Vila Baleira, donde partíramos, parámos ainda no miradouro da Portela, com os seus três belos moinhos de vento.


 

 











4ªf





Capela do Espírito Santo

Depois do pequeno-almoço e do café na Pastelaria Zarco começámos a nossa caminhada. A primeira paragem foi na capela do Espírito Santo. A atividade deste local de culto é remota, havendo referências a uma ermida no século XVI dedicado ao Espírito Santo. A capela foi reconstruída no final do século XVIII - princípios do século XIX em estilo protobarroco. A fachada tem linhas simples, mas no interior destaca-se o altar em talha dourada e policromada em estilo maneirista, de meados do século XVII.

Fontanário do Espírito Santo

Logo ao lado está o Fontanário do Espírito Santo. Os trabalhos de construção desse fontanário tiveram início em agosto de 1890 para servir a população local, aproveitando as águas do Ribeiro Coxinho. A falta de água foi desde sempre um desafio, com influência direta na vida das populações. O seu transporte era feito ou em latas transportadas às costas, ou em bilhas ao pescoço ou até em barris. Enquanto esperavam que as latas de água se enchessem, tarefa que muitas vezes demorava duas a três horas, as mulheres aproveitam esse tempo para conviver, conversar e bordar.

Pico Ana Ferreira

A caminho da praia e da baía do Zimbralinho, temos o Pico de Ana Ferreira de grande interesse geológico não só pela raridade como dimensão. Este é o ponto mais elevado do lado ocidental da ilha. Nesta área, que outrora foi uma antiga pedreira, podem ver-se formações rochosas que resultaram do arrefecimento do magma no interior das condutas vulcânicas. São popularmente conhecidos como o “piano”.

Praia do Zimbralinho
Ilhéu da Cal e costa vista do Zimbralinho


Continuando a subir em direção ao mar, chegámos finalmente à Baía do Zimbralinho. A praia , de calhau, tem, porém, fantásticas águas azul turquesa, onde se podem ver formações vulcânicas submarinas (pillow lavas). Infelizmente os acessos estão cortados e não se pode descer até à praia.

Restaurante Casa da Avó

Regressámos ao apartamento, não sem antes mergulharmos nas águas cálidas. Jantámos divinalmente na restaurante Casa da Avó, onde fomos muito bem recebidas pelo empregado Alexandre, que nos preparou uma deliciosa poncha: misture sumo de 2 limões e 1 laranja. Meça o sumo e junte a mesma quantidade de aguardente de cana e mel a gosto. Mexa com o caralhinho, e delicie-se.

Alexandre a preparar a poncha

Poncha

Repetimos as lapas grelhadas com bolo do caco. E como prato principal pedimos a famosa espetada. A carne derretia-se na boca. Só tivemos pena que não houvesse milho frito para acompanhar.

A espetada de vitela

Do restaurante fomos diretamente para o aeroporto. Foram três maravilhosos dias de relaxamento.