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Painel de musaicos das Musas |
Muito possivelmente nunca ouviu falar de Torre de Palma.
A não ser que tenha visitado o Museu Nacional de Arqueologia em Lisboa e tenha podido ver o belíssimo
painel de mosaicos das Musas. Ou que tenha passado por Vaiamonte, uma aldeia alentejana
do concelho de Monforte.
Trata-se das ruínas duma villa romana, uma sumptuosa residência
que terá pertencido a uma poderosa família, os Basilii, cujo nome é conhecido através
de uma inscrição encontrada no local, que aqui viveram entre os séculos II e IV
e aqui construíram a sua residência, explorando
um vasto latifúndio, que incluía lagares, celeiros e outras dependências agrícolas.
Estas ruínas romanas foram descobertas
por acaso. Segundo reza a história, "numa manhã de março de 1947, a aiveca
do charrueco de Joaquim Inocêncio, pôs a descoberto um pequeno fragmento de mármore
trabalhado que pertencia ao capitel de uma coluna. À hora do jantar, ao meio-dia,
engoliu rapidamente a açorda, muniu-se de um enchadão e foi direito ao local. A
uns cinquenta centímetros de profundidade encontrou um pavimento de pedrinhas coloridas
com figurações para ele totalmente desconhecidas.(...) Consciente do que tinha diante
dos olhos, mandou remover alguma terra em volta da porção de mosaicos visível -
deste modo começou a pôr a descoberto nada mais nada menos, do que o monumental
Mosaico das Musas de 10,24m x 6,35m” (Lavoura Portuguesa, nº.3 – 4, Março - Abril – 1967).
A villa desenvolve-se em torno de um vasto
pátio interior, de forma trapezoidal. As amplas instalações da residência dos proprietários,
cuja entrada principal se fazia através do tablinum
ou sala de receção, onde se encontrava o célebre mosaico das Musas, agora em Lisboa,
estavam dispostas em torno de um peristylium,
um pátio quadrangular com um alpendre assente em colunas que tinha um tanque ao
meio, o impluvium, e era pavimentado com
mosaicos diversos.
A axedra, a sala destinada à prática musical
e ao convívio, abria também para o pátio, e o seu pavimento era constituído pelo
mosaico dos cavalos. A sala dos banquetes ou triclinium, estava revestida de frescos com desenhos de flores e frutos;
o pavimento era constituído por um mosaico com reproduções de flores.
A Norte da villa encontram-se as ruínas da Basílica
Paleo-Cristã, provavelmente do século IV, com três naves de sete tramas e absides
contrapostas, a qual tinha um batisfério em forma de cruz, de Lorena, com dois lanços
opostos de quatro degraus, considerado como sendo um dos mais complexos da Península
Ibérica, só paralelos na Palestina e no Norte de África.
Apesar de esta villa ter “desaparecido” do
mapa até ao século XX, Palma surge referenciada já no século XIII em documentação
relativa à ordem de Avis. No reinado de D. Dinis, a Herdade da Palma já pertence
a coroa portuguesa que, a partir de então, foi sucessivamente utilizando como reconhecimento
por serviços prestados.
A antiga Herdade de Torre de Palma da Sociedade Agrícola
da família Costa Pinto, de mais de 2000 hectares, esteve durante mais de três décadas
ao abandono. Tendo sido ocupada durante a Reforma Agrária, foi sede duma cooperativa
agrícola durante nove anos. Começou então uma dura batalha jurídica entre os antigos
proprietários, a família Costa Pinto, e o rendeiro, Dr. Teófilo Duarte, que chegou
a ir até ao Tribunal Europeu. A ação foi ganha pelo rendeiro que acabou por vender
a propriedade a um casal de farmacêuticos de Vila Fernando, Paulo Barrada Rebelo
e Ana Isabel Rebelo, que se apaixonaram por ela assim que a conheceram. Uma história
de amor que deu frutos: uma bela unidade hoteleira exclusiva entre Vaiamonte e Monforte,
a 150 m das ruínas romanas de Torre de Palma: a Torre de Palma Wine Hotel.
Foram incorporados quer na arquitetura quer na decoração,
tudo o possível. Assim que se passa o original portão de grades, recuperado, fica-se
numa ampla eira. À frente a antiga casa senhorial com a torre no cimo da qual um
catavento com um orgulhoso galo marca presença.
À direita, o restaurante Palma, amplo, e com uma decoração
que denota a mão de Rosarinho Gabriel: as paredes das entradas forradas a preto
que põe em realce os objetos de porcelana branca, entre os quais bules.
Atualmente, o restaurante tem à sua frente Miguel Laffan,
sendo Márcia Dias a responsável pela doçaria. A cozinha alentejana é privilegiada
no cardápio, como seria de esperar. Os ingredientes vêm da horta biológica da propriedade.
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Cachaço de porco braseado |
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Pernil de borrego assado lentamente |
À esquerda da entrada temos a adega com toneis de inox
para os vinhos brancos e de mármore branco para os tintos — uma reminiscência dos
antigos romanos e aproveitando a pedra típica da região. O vinho tem a assinatura
do seu enólogo: Duarte de Deus, que produz
vinhos de autor, como é o exemplo do blend Arinto/Alvarinho, que respeitam o terroir, praticamente feitos
à mão, em pequenos lotes e com intervenção minimalista.
Lagares de mármore |
Também aqui na adega se encontra a loja de produtos
próprios (por exemplo, compotas de frutos do pomar biológico do hotel) ou produtos
regionais. O hotel Torre de Palma iniciou uma série de contactos com produtores
locais que poderão usar a loja do hotel para dar a conhecer e vender os seus produtos
quer sejam agrícolas ou de artesanato, como por exemplo, os .biscoitos de Rosário Gomes, Percoto du Monti, de Cabeço de Vide.
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Piripiri gourmet |
Antes de entrarmos na casa senhorial, paramos na pequena
capela, à esquerda. Pequena, simples, todas em branco, com um altar de mármore sobre
o qual está pendurado um belíssimo Cristo, feito em cortiça pelo artista plástico
Pedro Vaza que, com esta obra, mostra mais uma vez a relação ancestral do homem
com a natureza, tão típica do seu trabalho.
Entramos então na casa principal e subimos à torre que
aprece rasgar o céu. Do seu alto, o cenário não poderia ser mais idílico, com o
olhar a perder-se pela imensidão das terras, ainda com algumas searas e vinha. Visto
do daqui, o pôr-do-sol é lindo, deixando o horizonte pintado com tons alaranjados
dum fim de dia alentejano.
Os alojamentos foram inspirados na vivência diária dos
romanos. Marcados pela simplicidade e sofisticação, os 19 alojamentos (oito casas
típicas alentejanas, um loft rural, cinco quartos no antigo celeiro e casa senhorial)
esperam o visitante. As unidades de alojamentos, todas com uma decoração diferente,
têm quarto e sala de jantar/de estar, mas não têm cozinha, podendo as refeições
serem encomendadas no restaurante. O hotel quer marcar pela diferença no serviço.
“Queremos que os clientes se sintam em casa, mas que tenham à sua disposição um
serviço de 5 estrelas”.
Todos os locais comuns são polivalentes e multifunções.
Por exemplo, a Casa do Forno pode ser adaptada para qualquer função que o visitante
queira, seja um jantar rústico cozinhado no forno de lenha, seja um brunch requintado
ou uma simples reunião de negócios.
Nas antigas cavalariças foi instalado o bar, amplo e
com baloiços como assentos. A biblioteca está na Sala da Torre. Na antiga cozinha
com uma enorme lareira — aliás no hotel existem 21 lareiras — está a sala de jogos.
Para relaxar, o hotel tem á disposição não só duas piscinas
(uma interior e uma exterior), como um spa e oferece ainda passeios pedestres, de
BTT e a cavalo.
Enfim, um leque de atividades para um fim-de-semana
ativo ou de total relaxamento para retemperar as forças na magia alentejana.