O
Trilho dos Pescadores, o percurso pedestre mais emblemático da Rota Vicentina,
é uma experiência singular que abraça a nossa costa sudoeste, estendendo-se por
mais de 220 quilómetros entre São Torpes, a norte de Sines, e Lagos, no
Algarve. Mais do que uma simples caminhada, é uma imersão profunda no litoral
alentejano e algarvio, seguindo os antigos caminhos utilizados pelos pescadores
locais.
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Sinalização |
A
particularidade do Trilho dos Pescadores reside no facto de quase todas as suas
etapas serem sempre junto ao mar, serpenteando por falésias vertiginosas, dunas,
baías encantadoras e praias selvagens – com panorâmicas constantes sobre o
Atlântico.
A
dificuldade do trilho dos Pescadores é considerada moderada a alta,
principalmente devido ao terreno arenoso e irregular. Caminhar em areia mole,
por vezes por longas distâncias, é muito cansativo. Tem também subidas e
descidas íngremes que requerem alguma agilidade e muita atenção. Contudo, somos
recompensados por uma beleza natural avassaladora: praias desertas que parecem
saídas de um sonho, o som incessante das ondas e a oportunidade de observar a
flora e fauna costeiras, incluindo aves marinhas e, com sorte, a rara
cegonha-branca, que nidifica nas falésias marítimas.
O
percurso está dividido em várias etapas diárias, cada uma com uma distância que
varia entre 10 a 20 quilómetros, ligando pequenas vilas e aldeias piscatórias
como Porto Covo, Vila Nova de Milfontes, Almograve, Zambujeira do Mar ou
Odeceixe. É fundamental levar calçado adequado, água abundante, protetor solar
e um chapéu, já que a exposição ao sol é constante e não há localidades no meio
das etapas.
Nós
fizemos somente duas etapas.
A
etapa entre Porto Covo e Vila Nova de Milfontes do Trilho dos Pescadores, com
aproximadamente 20 quilómetros de extensão, é, sem dúvida, uma das mais emblemáticas
e desafiantes da Rota Vicentina, mas também uma das mais gratificantes..
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Porto Covo - Vila Nova de Milfontes |
O ponto de partida em Porto Covo, junto ao mercado, é encantador, com as típicas casas alentejanas caiadas de branco.
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Porto Covo |
O trilho serpenteia por falésias espetaculares, dunas e pequenas enseadas isoladas, onde o azul intenso do Atlântico choca com o negro das rochas. A dificuldade do percurso reside precisamente na sua natureza arenosa e irregular.
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Algumas partes do trilho exigem muito cuidado |
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Formações rochosas interessantes |
Ao
longo do caminho, temos , porém, vistas espetaculares. As praias selvagens,
como a Praia da Ilha do Pessegueiro, com a sua história e o mítico forte, ou a
Praia do Salto, acessível por difíceis descidas, são verdadeiros santuários
naturais. É comum avistar aves marinhas a planar sobre as falésias, e a flora
costeira, resistente ao vento e à salinidade, adiciona um toque de muitas cores
ao cenário.
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Fortaleza do Pessegueiro |
Apesar
do desafio físico, a beleza e a sensação de isolamento que esta etapa
proporciona são incomparáveis. A cada curva, uma nova paisagem sempre com o som
das ondas.
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Formações rochosas interessantes |
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A igreja de Vila Nova de Milfontes |
A
chegada a Vila Nova de Milfontes é um alívio bem-vindo e a promessa de descanso.
A vila, junto à foz do Rio Mira, oferece tudo o que precisamos para recuperar
as energias. Ficámos num simpático apartamento do Duna Parque Beach Club.
Depois de um duche reparador, fomos jantar num restaurante a somente 350m (não,
não queríamos andar muito…), o Dunas Mil, com uma belíssima vista sobre o rio Mira e um serviço muito acolhedor - uma
deliciosa sopa de peixe e um peixe frito (dourada) com migas de coentros e
salada. Fantástico! Depois foi cair na cama e dormir ferradamente até ao dia
seguinte.
Após um belo
pequeno-almoço na Paparoca com uma deliciosa tosta mista em pão alentejano,
metemo-nos à estrada. Esta etapa do Trilho dos Pescadores, com uma distância de
aproximadamente 15 a 16 quilómetros e que liga Vila Nova de Milfontes a
Almograve é frequentemente considerada um dos percursos mais acessíveis que nós
não confirmamos….
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Vila Nova de Milfontes - Almograve |
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A foz do rio Mira |
O início da etapa é marcado pela travessia da emblemática ponte sobre o Rio Mira em Vila Nova de Milfontes donde se tem uma fantástica vista panorâmica sobre a foz do rio, as suas margens e a própria vila. Depois da ponte, o trilho afasta-se ligeiramente da linha costeira, percorrendo algumas áreas rurais e de bosque, muito denso. Em certas secções, o trilho pode passar por "túneis" formados pela vegetação densa, criando uma sensação de descoberta e aventura.
Ao longo do percurso, fomos
presenteadas com paisagens variadas. Pequenas praias e enseadas escondidas
surgem pontualmente, convidando a breves pausas para apreciar a tranquilidade e
a força do Atlântico – ou para comer algo para recuperar forças. As gaivotas
são uma presença constante, adicionando vida e som à paisagem.
A proximidade do mar é
uma constante, mesmo que nem sempre visível, com a maresia e o som das ondas a
acompanhar os passos.