sexta-feira, 23 de maio de 2025

Duas etapas do Trilho dos Pescadores

 


O Trilho dos Pescadores, o percurso pedestre mais emblemático da Rota Vicentina, é uma experiência singular que abraça a nossa costa sudoeste, estendendo-se por mais de 220 quilómetros entre São Torpes, a norte de Sines, e Lagos, no Algarve. Mais do que uma simples caminhada, é uma imersão profunda no litoral alentejano e algarvio, seguindo os antigos caminhos utilizados pelos pescadores locais.

Sinalização

A particularidade do Trilho dos Pescadores reside no facto de quase todas as suas etapas serem sempre junto ao mar, serpenteando por falésias vertiginosas, dunas, baías encantadoras e praias selvagens – com panorâmicas constantes sobre o Atlântico.



A dificuldade do trilho dos Pescadores é considerada moderada a alta, principalmente devido ao terreno arenoso e irregular. Caminhar em areia mole, por vezes por longas distâncias, é muito cansativo. Tem também subidas e descidas íngremes que requerem alguma agilidade e muita atenção. Contudo, somos recompensados por uma beleza natural avassaladora: praias desertas que parecem saídas de um sonho, o som incessante das ondas e a oportunidade de observar a flora e fauna costeiras, incluindo aves marinhas e, com sorte, a rara cegonha-branca, que nidifica nas falésias marítimas.

O percurso está dividido em várias etapas diárias, cada uma com uma distância que varia entre 10 a 20 quilómetros, ligando pequenas vilas e aldeias piscatórias como Porto Covo, Vila Nova de Milfontes, Almograve, Zambujeira do Mar ou Odeceixe. É fundamental levar calçado adequado, água abundante, protetor solar e um chapéu, já que a exposição ao sol é constante e não há localidades no meio das etapas.

Nós fizemos somente duas etapas.



A etapa entre Porto Covo e Vila Nova de Milfontes do Trilho dos Pescadores, com aproximadamente 20 quilómetros de extensão, é, sem dúvida, uma das mais emblemáticas e desafiantes da Rota Vicentina, mas também uma das mais gratificantes..

Porto Covo - Vila Nova de Milfontes


O ponto de partida em Porto Covo, junto ao mercado, é encantador, com as típicas casas alentejanas caiadas de branco. 

Porto Covo

O trilho serpenteia por falésias espetaculares, dunas e pequenas enseadas isoladas, onde o azul intenso do Atlântico choca com o negro das rochas. A dificuldade do percurso reside precisamente na sua natureza arenosa e irregular.

Algumas partes do trilho exigem muito cuidado


Formações rochosas interessantes


Ao longo do caminho, temos , porém, vistas espetaculares. As praias selvagens, como a Praia da Ilha do Pessegueiro, com a sua história e o mítico forte, ou a Praia do Salto, acessível por difíceis descidas, são verdadeiros santuários naturais. É comum avistar aves marinhas a planar sobre as falésias, e a flora costeira, resistente ao vento e à salinidade, adiciona um toque de muitas cores ao cenário.





Fortaleza do Pessegueiro

Apesar do desafio físico, a beleza e a sensação de isolamento que esta etapa proporciona são incomparáveis. A cada curva, uma nova paisagem sempre com o som das ondas.

Formações rochosas interessantes




A igreja de Vila Nova de Milfontes


A chegada a Vila Nova de Milfontes é um alívio bem-vindo e a promessa de descanso. A vila, junto à foz do Rio Mira, oferece tudo o que precisamos para recuperar as energias. Ficámos num simpático apartamento do Duna Parque Beach Club. Depois de um duche reparador, fomos jantar num restaurante a somente 350m (não, não queríamos andar muito…), o Dunas Mil, com uma belíssima vista sobre o rio Mira e um serviço muito acolhedor - uma deliciosa sopa de peixe e um peixe frito (dourada) com migas de coentros e salada. Fantástico! Depois foi cair na cama e dormir ferradamente até ao dia seguinte.

 


Após um belo pequeno-almoço na Paparoca com uma deliciosa tosta mista em pão alentejano, metemo-nos à estrada. Esta etapa do Trilho dos Pescadores, com uma distância de aproximadamente 15 a 16 quilómetros e que liga Vila Nova de Milfontes a Almograve é frequentemente considerada um dos percursos mais acessíveis que nós não confirmamos….

Vila Nova de Milfontes - Almograve


A foz do rio Mira

O início da etapa é marcado pela travessia da emblemática ponte sobre o Rio Mira em Vila Nova de Milfontes donde se tem uma fantástica vista panorâmica sobre a foz do rio, as suas margens e a própria vila. Depois da ponte, o trilho afasta-se ligeiramente da linha costeira, percorrendo algumas áreas rurais e de bosque, muito denso. Em certas secções, o trilho pode passar por "túneis" formados pela vegetação densa, criando uma sensação de descoberta e aventura.




Ao longo do percurso, fomos presenteadas com paisagens variadas. Pequenas praias e enseadas escondidas surgem pontualmente, convidando a breves pausas para apreciar a tranquilidade e a força do Atlântico – ou para comer algo para recuperar forças. As gaivotas são uma presença constante, adicionando vida e som à paisagem.

A proximidade do mar é uma constante, mesmo que nem sempre visível, com a maresia e o som das ondas a acompanhar os passos.