Pego do Inferno
No
coração do Alentejo, escondido entre a paisagem suave e dourada de Arronches,
reside um pequeno segredo natural que encanta todos os que o descobrem: o Pego
do Inferno. Apesar do nome dramático, que evoca mistérios e lendas, este local
é, na verdade, um oásis de tranquilidade e beleza, uma cascata serena que
convida ao mergulho e ao contacto direto com a natureza.
O Pego do Inferno não é uma cascata de proporções
gigantescas, mas a sua beleza reside na sua simplicidade e no ambiente idílico
que a rodeia. As águas cristalinas do Ribeiro de Terges deslizam suavemente
sobre formações rochosas, criando pequenas quedas que se precipitam numa lagoa
de águas límpidas. É um cenário perfeito para refrescar-se nos dias quentes de
verão, para um piquenique em família ou simplesmente para desfrutar da paz e do
sossego que só a natureza pode oferecer.
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escadas de acesso |
O geosítio do Pego do Inferno é um pequeno troço da Ribeira de Arronches onde existem cascatas e piscinas naturais. É um local, marcadamente influenciado pelos movimentos oriundos da tectónica de placas. Neste local a Ribeira de Arronches serpenteias rochas siliciosas do Ordovícico (um período geológico da Era Paleozoica, que se estendeu aproximadamente entre 485,4 e 443,8 milhões de anos atrás) através dos sistemas de falhas que aí estão implantados.
Verifica-se que o troço no Pego do Inferno está alinhado pelo cavalgamento WSE - ENE a WMW-ESE do Ordovícico sobre o pré-câmbrico e pelas falhas conjugadas M-S a NNE-SSW, um pouco mais a montante. Este efeito é de tal maneira pronunciado que a ribeira faz curvas em ângulos quase retos. Este controlo tectónico, conjuntamente com a ação erosiva fluvial das estruturas, favorece a dinamização de geoformas como cascatas e pequenas lagoas (pegos). Apesar de as cascatas serem de pouca expressão, o local apresenta uma dinâmica fluvial muito interessante. A montante, a passagem da água é feita pelos estratos de Quartzito Armoricano com uma estratificação quase horizontal. Em cursos de água, como ribeiras e cascatas, onde o fluxo da água intenso, é comum o desenvolvimento de marmitas de gigante, isto é, depressões no fundo rochoso dos cursos de água, com dimensões variáveis e formas mais ou menos arredondadas, resultado da movimentação de seixos e areias que lá se acumulam.
Em resultado do fluxo da água geram-se turbilhões que promovem o movimento circular das partículas dentro destas irregularidades, que progressivamente são aumentadas por desgaste físico ao longo do tempo. Podemos encontrar aqui alguns exemplos de marmitas de gigante em Quartzito do Ordovícico.
As pequenas cascatas impostas sobre bancadas de Quartzitos do Ordovícico e os estratos de Quartzito controlam a queda de água. É possível ainda observar uma falha, de direção este-oeste, separando dois blocos onde as camadas apresentam diferentes disposições geométricas, culminando na queda de água principal. Nas bancadas de Quartzito surgem diversos com abundantes com o skolithos.
Apesar de ser um local ainda pouco conhecido, a sua popularidade tem vindo a crescer, principalmente entre os
habitantes locais e os amantes da natureza. É
um lembrete de que o Alentejo não é apenas sobre planícies douradas e castelos
medievais, mas também sobre recantos secretos onde a água e a rocha esculpem
paisagens de rara beleza.
Para quem visita a região de Arronches, uma paragem no
Pego do Inferno é quase obrigatória, especialmente no verão quando o calor nos deixa quase incapazes de fazer seja o que for. Seja para um mergulho revigorante ou para um
momento de meditação junto à água, este
local oferece uma experiência refrescante. O
"inferno" do seu nome contrasta vivamente com o "paraíso"
que se encontra ao chegar, tornando o Pego do Inferno um dos segredos mais bem guardados do Alentejo. Um verdadeiro refúgio para quem busca a
beleza natural e a calma.