quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Viagem à Guiné- Bissau : Aprender a fazer caldo branco


 


De manhã, combinámos com a Nia irmos comprar os ingredientes para aprendermos a fazer o prato mais comum de Bissau, à venda na rua: bagre fumado com caldo branco, acompanhado com arroz,  badjiqui com quiabo e conserva (piri piri). 



O melhor sítio para fazer todas as compras -  e mergulhar na verdadeira vida quotidiana da Guiné-Bissau - é sem dúvida o Mercado de Bandim.








 Este  mercado é muito mais do que um local de compras; é o motor económico informal da capital. A sua importância advém de ser o ponto de convergência tanto para produtos nacionais como importados. É o principal centro de distribuição de produtos agrícolas, do mar e florestais provenientes do interior do país e das ilhas, incluindo o essencial caju, mancarra, peixe, marisco e óleo de palma. Grande parte dos produtos industrializados, roupas, eletrónicos, ferramentas e bens de consumo importados chegam primeiro a Bissau e são distribuídos pelo país a partir de Bandim. Na realidade, o mercado é conhecido por ter de tudo. As bancas e os pequenos vendedores (muitas vezes mulheres Bijagós e de outras etnias) vendem desde comida fresca, especiarias e artesanato, até peças de automóveis e telemóveis.




Visitar o mercado é uma verdadeira experiência sensorial e reflete a diversidade étnica e linguística da Guiné-Bissau. Aqui ouvem-se falar várias línguas: Fula, Balanta, Mandinga e as diversas línguas das ilhas.

O ambiente caracteriza-se pelo barulho intenso, cheiros fortes (de especiarias, peixe seco e combustível) e por uma azáfama frenética.

A área em redor do mercado é dominada por toca-tocas (táxis coletivos), djumbais (carrinhas de carga) e mototáxis, essenciais para movimentar bens e pessoas.

O Mercado de Bandim opera sob condições precárias. A falta de saneamento básico, a gestão de resíduos e os riscos de incêndio são desafios persistentes, especialmente na área mais antiga do mercado.


Nia conhece bem o mercado e sabe bem onde comprar. Quando já tínhamos todos os ingredientes, pusemo- nos a caminho do bairro Antula Pabidjar, já nos arrabaldes da cidade, onde ela mora. 




A dada altura saímos da estrada alcatroada e fomos por uma estrada de terra batida - bem vermelha, a cor da terra africana - cheia de buracos. Felizmente, já estamos na época seca. Caso contrário teria sido verdadeiramente desafiante.

Chegadas a casa, pusemo- nos ao trabalho: descascar e pilar alho, cebola e malagueta. 

O pilão 

O bagre fumado


Pronto para ir para o lume


Nia cortou o bagre fumado às postas, colocou-o na panela e , por cima, pôs tomate, pimento e abóbora e levou a cozer. O almoço estava delicioso. 

Regressaras a Bissau, demos mais um passeio por Bissau Velho, , o centro histórico da capital. Subimos a  avenida. Como já estávamos no final da tarde, já não fazia calor e havia muitas pessoas sentadas nos bancos do jardim. 



No topo da avenida, estão o Monumento aos Heróis da c Independência e o  Palácio Presidencial de Bissau, um dos edifícios mais simbólicos e, infelizmente, um dos mais visíveis testemunhos da instabilidade política e dos conflitos armados que marcaram a história da Guiné-Bissau. O edifício tem uma presença marcante na paisagem urbana da cidade.

Foi construído durante o período colonial português para servir como Sede do Governo da então Guiné Portuguesa. A sua arquitetura reflete o estilo imponente e monumental comum aos edifícios administrativos coloniais, projetado para transmitir autoridade e solidez.

O edifício foi severamente danificado durante a Guerra Civil da Guiné-Bissau em 1998/1999 (o conflito entre as tropas do Presidente João Bernardo "Nino" Vieira e a junta militar liderada por Ansumane Mané). A estrutura sofreu bombardeamentos significativos, mas foi totalmente restaurada com a cooperação chinesa e reinaugurada em 2013.

Desde a independência, o edifício foi alvo de vários golpes de estado e motins militares. Cada evento deixava a estrutura mais fragilizada e sem capacidade de recuperação

Sese do PAIGCV

Monumento aos Heróis da Independência na Praça dos Heróis Nacionais




terça-feira, 18 de novembro de 2025

Viagem à Guiné-Bissau - Bissau: O Coração do país

 



Estive em Bissau em 1972 quando o avião militar que me levava para Moçambique, onde o meu Pai estava em missão, parou na Guiné para uma escala técnica. Voltei agora passados 53 anos… A expetativa era grande, especialmente porque já tive duas viagens programadas que tive de cancelar em cima da hora por razões diversas.

O que me espera? Como será Bissau agora? Estás as perguntas que fazia.  

Bissau está igual a ela própria.  Coberta com um fino véu de terra vermelha.  Edifícios coloniais parados no tempo,  A vida faz- se na rua. Há vendedores, cozinheiros, crianças a irem para a escola, …..





E como estamos em plena campanha eleitoral - as eleições são no b domingo, 23/11- a cidade ainda está mais animada.




 Muito  esclarecedora foi a conversa com Miguel Nunes, português nascido em Bissau e que aqui tem sempre vivido. É o dono da Residencial Coimbra, da livraria e de muitos outros edifícios. O avô veio de Góis , na  Beira, muito jovem e vingou na vida graças ao seu espírito empreendedor. 


Também a conversa com Júlio Gomes, bijagó das Ilhas das Galinhas, foi muito informativa. Falou- nos sobre as diversidade étnica e que como tal diversidade não leva à desunião entre as diferentes etnias no porque o sentimento guineense é mais forte e une- os a todos. 

 Bissau, a capital e maior cidade da Guiné-Bissau, está situada no estuário do Rio Geba. É o principal centro político, administrativo, económico e portuário do país, funcionando como o seu principal portal para o mundo. Com uma história rica e complexa, a cidade carrega as marcas do período colonial português e os vestígios dos conflitos que moldaram a nação.

Fundada pelos portugueses no século XVII como um porto comercial e entreposto escravista, Bissau cresceu inicialmente como um pequeno forte na ilha que lhe dá o nome (que na verdade é uma península, mas era historicamente tratada como ilha).

O seu papel central consolidou-se em 1941, quando se tornou a capital da Guiné Portuguesa, substituindo Bolama. Este estatuto trouxe algum desenvolvimento urbano, mas a cidade foi palco de intensa atividade durante a Guerra Colonial Portuguesa (1963-1974), um conflito que culminou na independência do país.

O centro histórico da cidade, conhecido como Bissau Velho, ainda apresenta a arquitetura colonial da época, caracterizada por edifícios em ruínas, mas com um charme nostálgico. Destacam-se o Palácio Presidencial (danificado por conflitos) e a Catedral de Bissau , um ponto de referência católico imponente. O Mercado de Bandim é conhecido pela sua azáfama e variedade de produtos.






A Catedral de Nossa Senhora da Candelária de Bissau é o principal templo católico do país e um dos edifícios históricos mais proeminentes da capital. É um marco arquitetónico e religioso, localizado no centro da cidade.

Foi construída no local de um templo mais antigo, mas o edifício que vemos hoje é resultado de um projeto da era colonial portuguesa. A construção da atual catedral foi iniciada em 1935 e foi concluída e consagrada em 1950. O seu estilo arquitetónico é geralmente descrito como neoclássico/neorromântico, com uma notável simetria e uma estrutura imponente que domina a paisagem da Praça da Catedral. Destaca-se a sua fachada com uma entrada principal elevada e duas torres sineiras laterais. Uma das características mais distintivas são os seus vitrais coloridos e a cúpula sobre o santuário.

A Catedral de Bissau não é apenas uma igreja, mas também o local da Sé Episcopal (a sede do bispo) da Diocese de Bissau. A sua importância ultrapassa a esfera religiosa. Devido à sua dimensão e localização central, é um dos pontos de referência mais conhecidos de Bissau e um local de encontro social.

Ao contrário de outros edifícios históricos em Bissau (como o Palácio Presidencial), a Catedral tem sido geralmente bem conservada, embora tenha passado por fases de necessidade de restauro, especialmente após os períodos de conflito na cidade.






 

A economia de Bissau está intrinsecamente ligada à função de porto marítimo da cidade, que é vital para a exportação do principal produto de exportação da Guiné-Bissau: a castanha de caju. O caju é a espinha dorsal da economia nacional, e a sua movimentação anual dita o ritmo de vida e comércio na capital.

O caju foi introduzido na Guiné-Bissau pelos Portugueses durante o século XVI, no contexto das suas rotas comerciais e expansão colonial. A introdução do caju na Guiné faz parte de um movimento global pelos portugueses, que o levaram da sua origem no Brasil para as suas colónias na África e Ásia (como Moçambique e Índia). Embora o caju tenha chegado no século XVI, a sua grande expansão comercial e importância económica na Guiné-Bissau só ocorreu muito mais tarde, a partir dos anos 90 do século XX, quando se tornou o principal produto de exportação do país.

As infraestruturas de Bissau e de todo o país são um verdadeiro desafio. A falta de investimento em estradas, saneamento básico e eletricidade é uma realidade quotidiana que afeta a maioria dos seus habitantes, embora os mercados e zonas comerciais fervilhem de atividade.

Aliás, Bissau é cidade cheia de vida, caracterizada por uma mistura de etnias e línguas, refletindo a diversidade do país. Embora o Português seja a língua oficial, o Crioulo (Kriol) é a língua franca e o idioma mais falado nas ruas e nos mercados.

Apesar das suas dificuldades económicas e políticas, Bissau mantém-se como o motor e a esperança de uma nação jovem, um local onde a resiliência e o espírito comunitário se manifestam diariamente sob o calor tropical.

quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Viagem à Sicília - Dia 11: Catânia

 


Um dia dedicado Inteiramente a cidade de Catânia. Na véspera, estudando o boletim meteorológico, decidimos não subir ao monte Etna, o vulcão ativo mais alto da Europa. A viagem levaria cerca de 1 hora e 30 minutos a 2 horas, ou seja, só para a viagem teríamos de contar com três a quatro horas. Mais ou passei seriam cinco  a seis horas só para a deslocação,  ou seja , não teríamos tempo para ver bem que Catânia. O Monte Etna não é apenas o vulcão mais alto da Europa fora do Cáucaso, com uma altitude que varia devido à sua atividade constante, mas também um dos vulcões mais ativos do mundo. É uma força da natureza que molda continuamente a ilha, sendo reconhecido como Património Mundial da UNESCO.



O Etna é um vulcão do tipo estratovulcão, caracterizado por erupções frequentes e, por vezes, espetaculares. As suas erupções são, na sua maioria, efusivas, o que significa que produzem fluxos de lava relativamente lentos e inofensivos para as populações vizinhas, como a grande cidade de Catânia. No entanto, o seu historial inclui eventos mais destrutivos, como a erupção de 1669.

O vulcão possui múltiplas crateras ativas no seu cume, bem como inúmeras crateras laterais e aberturas secundárias, o que o torna uma estrutura geológica complexa e em constante mudança. Os habitantes locais, que o chamam carinhosamente de a muntagna (a montanha) ou até mesmo, "Mãe", desenvolveram uma relação de respeito e resiliência com este gigante fumegante.

A montanha apresenta uma notável diversidade de paisagens. Nas encostas inferiores, o solo vulcânico, extremamente fértil, suporta uma rica agricultura, incluindo vinhas que produzem o aclamado Etna Rosso e Etna Bianco, para além de pomares e olivais.

À medida que se sobe, a vegetação dá lugar a florestas de pinheiros e, eventualmente, a um mundo de "paisagem lunar". Esta zona de grande altitude é composta por vastos campos de lava solidificada, que parecem ribeiros negros e escarpados. A área é pontilhada por crateras extintas laterais (como as Crateras Silvestri) e tubos de lava (grotte) que podem ser explorados pelos visitantes.


Ficámo-nos então pela Catânia que explorámos a pé. 

Catânia é a segunda maior cidade da Sicília e uma metrópole  que vive à sombra e sob a influência constante do Monte Etna. A sua história é marcada por uma notável resiliência, tendo sido repetidamente destruída por erupções vulcânicas e terramotos, nomeadamente a erupção de 1669 e o sismo catastrófico de 1693. Destas cinzas, a cidade renasceu de forma espetacular.

O centro histórico de Catânia é Património Mundial da UNESCO e um testemunho do deslumbrante Barroco Siciliano. A característica mais distintiva da sua arquitetura é a utilização generalizada da pedra de lava negra (pietra lavica), proveniente do Etna, que confere aos seus palácios, igrejas e pavimentos um contraste dramático com o mármore branco local.



O coração da cidade é a Piazza del Duomo, um conjunto arquitetónico elegante e monumental. No seu centro, ergue-se o símbolo de Catânia: a Fontana dell'Elefante (Fonte do Elefante). Esta obra-prima foi desenhada pelo arquiteto Giovanni Battista Vaccarini e construída entre 1735 e 1737 como parte da grande reconstrução da cidade após o devastador terramoto de 1693.

A fonte é coroada por uma escultura de basalto negro pré-existente, um elefante sorridente que os habitantes locais chamam carinhosamente de "Liotru". Esta figura, feita de pedra de lava do Monte Etna, remonta à época romana e tornou-se o emblema de Catânia. Diz a lenda que o elefante possui poderes mágicos capazes de proteger a cidade das erupções do vulcão.

Sobre o elefante assenta um obelisco de granito egípcio, coberto de hieróglifos, que se acredita estar ligado ao culto da deusa Ísis. Vaccarini inspirou-se na Fontana dell'Elefante de Gian Lorenzo Bernini em Roma, mas adaptou-a de forma única ao contexto siciliano, utilizando o contraste visual entre o negro da lava e o branco do mármore. A fonte representa a interseção da história antiga, da mitologia e da resiliência da cidade face à natureza vulcânica.



Catedral de Catânia (Cattedrale di Sant'Agata) é um dos edifícios religiosos mais importantes da Sicília, tanto pela sua função como pela sua história tumultuada, intimamente ligada ao Monte Etna. Dedicada a Santa Ágata, a padroeira da cidade, a catedral ergue-se na monumental Piazza del Duomo.

A estrutura original remonta ao século XI, construída sob o domínio normando sobre as ruínas de umas antigas termas romanas., que ainda se podem ver. No entanto, o edifício sofreu graves danos com as erupções do Etna e, sobretudo, com o sismo de 1693, que destruiu grande parte de Catânia.

Foi reconstruída no deslumbrante estilo Barroco Siciliano pelo arquiteto Giovanni Battista Vaccarini. A fachada atual, datada de 1736, é um exemplo imponente deste estilo, apresentando colunas maciças e esculturas em mármore claro que contrastam com a pedra de lava negra utilizada na reconstrução de muitos edifícios vizinhos.

O interior, no entanto, ainda revela vestígios da sua origem normanda nas três absides semicirculares, construídas com grandes blocos de pedra lávica, que resistiram à destruição. 



A Catedral é também o local de descanso final de Vincenzo Bellini, o famoso compositor de ópera natural de Catânia. Acima de tudo, é o epicentro das grandes festividades anuais em honra de Santa Ágata.


Bem perto da catedral, ergue- se a  Badia di Sant'Agata (Abadia de Santa Ágata), uma das obras-primas mais espetaculares do Barroco Siciliano na Catânia e um marco arquitetónico de grande importância.

 O edifício original, que era um convento de freiras beneditinas fundado no início do século XVII, foi quase totalmente destruído pelo grande terramoto de 1693 que devastou Catânia.

 Foi magnificamente reconstruído pelo arquiteto Giovanni Battista Vaccarini (1735-1767), que também projetou a famosa Fonte do Elefante na Piazza Duomo. A igreja atual foi consagrada em 1767.

A característica mais distintiva é a sua faustosa fachada. Vaccarini utilizou uma combinação de pedra lávica cinzenta e calcário branco para criar um efeito de movimento ondulatório (alternando superfícies convexas e côncavas), um elemento marcante do barroco.

A igreja tem uma planta em cruz grega, com o interior caracterizado pela simplicidade elegante do estuque branco e dos altares em mármore amarelo de Castronovo. O contraste entre o branco, o cinzento da lava e o amarelo do mármore confere-lhe uma luminosidade única.






O maior atrativo da Badia di Sant'Agata é a possibilidade de subir ao topo, que oferecem uma vista panorâmica inesquecível de 360 graus sobre Catânia.

 A partir do topo, pudemos admirar a vizinha Piazza Duomo, a Fonte do Elefante, a Catedral de Santa Ágata, a malha urbana da cidade e, acima de tudo, a majestosa silhueta do Monte Etna.

O acesso às Terrazze e Cúpula é feito por escadas (cerca de 170 degraus) ou parcialmente por elevador até aos terraços, com mais alguns degraus (cerca de 57) para a cúpula. 



A partir da Piazza del Duomo, a reta e imponente Via Etnea atravessa a cidade, oferecendo vistas espetaculares do Monte Etna a espreitar ao fundo. Esta via é o principal centro comercial e social da cidade.



Além do Barroco, Catânia revela as suas raízes antigas. O Teatro Romano de Catânia é uma das joias arqueológicas escondidas da cidade, oferecendo um vislumbre fascinante da sua vida sob o domínio imperial. Situado no coração do centro histórico, a poucos passos da Piazza del Duomo, o teatro e o adjacente Odeon estão notavelmente integrados no tecido urbano moderno, com casas e edifícios construídos diretamente sobre as suas estruturas antigas.

Embora a sua fundação se baseie num teatro grego anterior, a estrutura que vemos hoje é predominantemente romana, datada do século I ou II d.C. O teatro podia acomodar cerca de 7 000 espetadores, sendo uma das maiores estruturas do seu género na Sicília. A sua construção utilizou a rocha de lava negra, abundante em Catânia, em contraste com a pedra calcária e o mármore.

Ao longo dos séculos, e particularmente após o devastador sismo de 1693, grande parte do teatro foi desmantelada para servir como material de construção para os edifícios barrocos da cidade, e as suas áreas foram invadidas por habitações. No entanto, as escavações e os trabalhos de recuperação revelaram grande parte da cavea (bancada) e da orchestra.




Junto ao Teatro, encontra-se o Odeon, uma estrutura mais pequena e semicircular, com capacidade para cerca de 1 500 pessoas. O Odeon era provavelmente utilizado para ensaios, concertos e espetáculos musicais menos grandiosos do que aqueles realizados no teatro principal.

O que torna a visita a estas ruínas particularmente intrigante é a forma como a história se funde com a vida quotidiana. Ao visitar o complexo, passamos por entre muralhas romanas que foram incorporadas em paredes de casas medievais, onde vemos roupa pendurada a secas.

A água do Rio Amenano, que corre subterraneamente em Catânia (e cuja nascente alimenta a Fontana dell'Amenano perto do mercado do peixe), passava por baixo do teatro. Restos de antigos canais de irrigação e de um pequeno jardim com a água a fluir sobre o mármore da orquestra dão um toque pitoresco ao local, lembrando que Catânia sempre foi uma cidade moldada pela força da natureza, quer seja pela água, quer seja pelo fogo do Etna.



 

Não muito longe, o Castelo Ursino, uma fortaleza de origem suaba do século XIII, é uma das poucas estruturas que resistiu ao sismo de 1693 e hoje alberga o Museu Cívico e que está fechado para obras. 

Originalmente construído no século XIII (entre 1239 e 1250) por ordem do Imperador Frederico II da Suábia, o Castelo Ursino foi concebido como uma fortaleza real com uma função defensiva e de representação do poder imperial. A sua posição original era proeminente, erguendo-se sobre um penhasco à beira-mar.

O nome "Ursino" deriva provavelmente de Castrum Sinus (Castelo do Golfo). A sua localização mudou dramaticamente após a erupção do Monte Etna em 1669. Um massivo fluxo de lava contornou as muralhas do castelo, preenchendo o fosso e estendendo a linha costeira, deixando a fortaleza cercada por terra e afastada do mar.

O castelo, de planta quadrada e com quatro torres circulares nos cantos, serviu como prisão e depois como quartel antes de ser restaurado.


 Terminámos a vista à cidade com o Palazzo Biscari (Palácio Buscari), a residência privada mais antiga da cidade,  habitada pelo simpático príncipe Ruggero Moncada, o guardião do património da família. 

Tínhamos acabado de entrar no Palácio Biscari. Estávamos na varanda quando senhor, vestido com umas jardineiras e com uma caneca de chá na mão, se aproximam de nós e começou a falar connosco. 

A dada altura diz-nos: Venham comigo! 

Entrou numa  sala, pôs-se debaixo de um quadro e perguntou: O meu marido não é parecido com nariz deste senhor? É o meu tetravô! 



Depois contou-nos a história da família. E guiou-nos por todas as salas, sempre contando histórias muito engraçadas. Quando nos fomos embora, estava ele a varrer uma das salas. 

O Palazzo Biscari (também conhecido como Palazzo Biscari alla Marina) é o palácio privado mais importante e sumptuoso de Catânia, uma obra-prima da arquitetura barroca siciliana e rococó.

A sua construção, sobre as antigas muralhas da cidade (muralhas de Carlos V), começou após o devastador terremoto de 1693 que destruiu grande parte de Catânia. Foi encomendado pela família Paternò Castello, Príncipes de Biscari. O palácio foi gradualmente ampliado e enriquecido ao longo do século XVIII, em grande parte sob a direção de Ignazio Paternò Castello, o 5º Príncipe de Biscari, um famoso estudioso, arqueólogo e mecenas das artes.

 O palácio é uma mistura de estilos, mas é mais famoso pelo seu esplendor rococó. 



A entrada faz- se por uma grande escadaria curva, em mármore e basalto do Etna, a partir do pátio central. Foi aqui que, em 2008, os Coldplay gravaram um vídeo-clip da música Violet Hill



 No interior, o grande realce vai para o Salão de Baile, em estilo Rococó, com decoração profusa de estuque, espelhos e afrescos. A pequena cúpula no teto era usada como câmara da orquestra, sendo o acesso feito por uma escada interna que o Príncipe Ignazio chamou de "arco de nuvens" (a fiocco di nuvola).

 Outras salas notáveis incluem a Galeria dos Pássaros, a Sala dos Feudos e os Apartamentos da Princesa.

O palácio, sobre o qual Goethe escreveu três páginas ao seu livro “Viagem a Itália “ , ainda é parcialmente habitado pelos descendentes da família Biscari.