O segundo dia do World Aviation Festival 2025 em Lisboa voltou
a reunir algumas das vozes mais influentes da aviação global, que abordaram os
desafios que definem o setor – resiliência num mundo geopolítico de incerteza,
a necessidade urgente de descarbonização e o potencial transformador da
tecnologia.
Ao abrir o dia, Hugo Espírito Santo, Secretário
de Estado das Infraestruturas, apelou a uma visão comum para tornar a aviação
mais resiliente, diversificada e inclusiva. Destacou os planos do governo para
um novo aeroporto de Lisboa cinco vezes maior do que o atual hub e
confirmou a aprovação da privatização parcial da TAP. “A nova indústria da
aviação será mais inteligente e inclusiva”, afirmou, sublinhando o papel da
tecnologia, da IA e da cibersegurança na definição do futuro do setor.
Líderes das companhias aéreas realçam os
problemas com o SAF e o desafio da descarbonização
A sustentabilidade foi um tema recorrente na
agenda. O presidente do Conselho de Administração da TAP, Luís Rodrigues,
salientou que, embora as companhias aéreas estejam empenhadas na
sustentabilidade, não podem alcançar o zero líquido sozinhas. Não podem
produzir SAF, não podem construir motores e não podem substituir voos de curta
distância por comboios. As companhias aéreas estão a fazer tudo o que podem,
mas o progresso está a ser lento. Por seu lado, Luis Gallego, presidente do
Conselho de Administração da IAG, apontou para incentivos desalinhados na
cadeia de abastecimento, afirmando que “as companhias aéreas querem motores
mais eficientes, mas os fabricantes não têm incentivos para investir em novos
projetos. Os aviões a hidrogénio já foram adiados para além de 2035”.
O diretor-geral da IATA, Willie Walsh, sublinhou
o encargo financeiro, alertando que as companhias aéreas enfrentam 5 mil
milhões de euros em custos adicionais para cumprir as metas de
sustentabilidade, com os fornecedores de combustível a cobrarem prémios pelo SAF
nos aeroportos onde detêm o monopólio.
Entretanto, Eddie Wilson, da Ryanair, afirmou que
os aviões mais recentes da companhia aérea consomem menos 16% de combustível e
geram significativamente menos ruído, mas salientou que a indústria está a ser
travada pela falta de SAF a preços acessíveis. “As empresas de energia não
estão a produzir SAF suficiente. Iremos utilizá-lo quando o preço baixar, mas
neste momento a oferta é demasiado limitada e demasiado cara”, afirmou.
Tecnologia e retalho digital
Outro tema em destaque foi o da inovação. A IBM mencionou a sua
colaboração com a Riyadh Air, criando uma companhia aérea nativa Offer &
Order em menos de dois anos. O projeto demonstrou como a tecnologia modular, alinhada
com a IATA, pode transformar o retalho das companhias aéreas, permitindo que as
transportadoras vendam voos juntamente com produtos auxiliares no estilo
moderno de comércio eletrónico que os consumidores esperam e exigem.
O presidente do Conselho de Administração da
Ryanair também partilhou como esta companhia aérea está a adotar a IA e a
aprendizagem automática para melhorar a experiência e a fidelidade dos
clientes. Desde a gestão da tripulação até ao lançamento de um novo cartão de
embarque digital em novembro, destacou como a tecnologia está a ajudar a
Ryanair a transportar os passageiros de forma mais eficiente, melhorando
simultaneamente a gestão de perturbações. Salientou que “a fusão entre o ser
humano e a IA é a chave”, observando que a IA não está a substituir empregos, mas
a melhorar as operações. No entanto, não minizou os desafios da implementação em
grande escala, destacando os crescentes
riscos de cibersegurança que as companhias aéreas enfrentam.
Ainda no campo da IA, várias empresas do setor mencionaram
como a tecnologia, a concorrência e as expectativas dos clientes estão a
remodelar a aviação. Warwick Brady, da Swissport, mostrou como a empresa está a
digitalizar os serviços em terra, investindo em veículos autónomos e IA para
melhorar a eficiência, ao mesmo tempo que expande a sua rede global de salas
VIP.
Max Kownatzki, presidente do Conselho de
Administração da SunExpress, salientou a importância de equilibrar a
automatização com o fator humano durante as perturbações, ao mesmo tempo que
destacou novos produtos auxiliares – como o seguro Covid – que se revelaram
populares entre os clientes. Entretanto, Julie Shainock, da Microsoft, e Surain
Adyanthaya, da PROS, apontaram para o aumento da gestão de receitas
impulsionada pela IA, preços dinâmicos e personalização em tempo real, ao mesmo
tempo que alertaram que a transparência nas ofertas é essencial para manter a
confiança.
Redefinindo a estratégia comercial das companhias
aéreas
Numa conversa informal, Sophie Dekkers, diretora
comercial da easyJet, refletiu sobre como a Covid acelerou a mudança no setor,
com a inflação, os preços dos combustíveis e os custos aeroportuários a criarem
agora novas pressões, referindo os 22 milhões de atrasos ATC na Europa no ano
passado, agravados pela redução do espaço aéreo, agravados pela redução do
espaço aéreo devido à guerra na Ucrânia e aos atrasos na entrega de aeronaves.
A incorporação de cientistas de dados na equipa
de gestão de receitas da easyJet transformou a tomada de decisões, permitindo
que a companhia aérea respondesse em tempo real ao comportamento imprevisível
dos clientes. “A automatização permitiu que a equipa se concentrasse nas
exceções, enquanto a ciência de dados garante que possamos identificar os
problemas à medida que eles ocorrem”.