quinta-feira, 9 de outubro de 2025

World Aviation Festival 2025 - 2º dia

 


O segundo dia do World Aviation Festival 2025 em Lisboa voltou a reunir algumas das vozes mais influentes da aviação global, que abordaram os desafios que definem o setor – resiliência num mundo geopolítico de incerteza, a necessidade urgente de descarbonização e o potencial transformador da tecnologia.

Ao abrir o dia, Hugo Espírito Santo, Secretário de Estado das Infraestruturas, apelou a uma visão comum para tornar a aviação mais resiliente, diversificada e inclusiva. Destacou os planos do governo para um novo aeroporto de Lisboa cinco vezes maior do que o atual hub e confirmou a aprovação da privatização parcial da TAP. “A nova indústria da aviação será mais inteligente e inclusiva”, afirmou, sublinhando o papel da tecnologia, da IA e da cibersegurança na definição do futuro do setor.

 

Líderes das companhias aéreas realçam os problemas com o SAF e o desafio da descarbonização

A sustentabilidade foi um tema recorrente na agenda. O presidente do Conselho de Administração da TAP, Luís Rodrigues, salientou que, embora as companhias aéreas estejam empenhadas na sustentabilidade, não podem alcançar o zero líquido sozinhas. Não podem produzir SAF, não podem construir motores e não podem substituir voos de curta distância por comboios. As companhias aéreas estão a fazer tudo o que podem, mas o progresso está a ser lento. Por seu lado, Luis Gallego, presidente do Conselho de Administração da IAG, apontou para incentivos desalinhados na cadeia de abastecimento, afirmando que “as companhias aéreas querem motores mais eficientes, mas os fabricantes não têm incentivos para investir em novos projetos. Os aviões a hidrogénio já foram adiados para além de 2035”.

O diretor-geral da IATA, Willie Walsh, sublinhou o encargo financeiro, alertando que as companhias aéreas enfrentam 5 mil milhões de euros em custos adicionais para cumprir as metas de sustentabilidade, com os fornecedores de combustível a cobrarem prémios pelo SAF nos aeroportos onde detêm o monopólio.

Entretanto, Eddie Wilson, da Ryanair, afirmou que os aviões mais recentes da companhia aérea consomem menos 16% de combustível e geram significativamente menos ruído, mas salientou que a indústria está a ser travada pela falta de SAF a preços acessíveis. “As empresas de energia não estão a produzir SAF suficiente. Iremos utilizá-lo quando o preço baixar, mas neste momento a oferta é demasiado limitada e demasiado cara”, afirmou.

 

Tecnologia e retalho digital

Outro tema em destaque  foi o da inovação. A IBM mencionou a sua colaboração com a Riyadh Air, criando uma companhia aérea nativa Offer & Order em menos de dois anos. O projeto demonstrou como a tecnologia modular, alinhada com a IATA, pode transformar o retalho das companhias aéreas, permitindo que as transportadoras vendam voos juntamente com produtos auxiliares no estilo moderno de comércio eletrónico que os consumidores esperam e exigem.

O presidente do Conselho de Administração da Ryanair também partilhou como esta companhia aérea está a adotar a IA e a aprendizagem automática para melhorar a experiência e a fidelidade dos clientes. Desde a gestão da tripulação até ao lançamento de um novo cartão de embarque digital em novembro, destacou como a tecnologia está a ajudar a Ryanair a transportar os passageiros de forma mais eficiente, melhorando simultaneamente a gestão de perturbações. Salientou que “a fusão entre o ser humano e a IA é a chave”, observando que a IA não está a substituir empregos, mas a melhorar as operações. No entanto, não minizou os desafios da implementação em grande escala, destacando  os crescentes riscos de cibersegurança que as companhias aéreas enfrentam.

Ainda no campo da IA, várias empresas do setor mencionaram como a tecnologia, a concorrência e as expectativas dos clientes estão a remodelar a aviação. Warwick Brady, da Swissport, mostrou como a empresa está a digitalizar os serviços em terra, investindo em veículos autónomos e IA para melhorar a eficiência, ao mesmo tempo que expande a sua rede global de salas VIP.

Max Kownatzki, presidente do Conselho de Administração da SunExpress, salientou a importância de equilibrar a automatização com o fator humano durante as perturbações, ao mesmo tempo que destacou novos produtos auxiliares – como o seguro Covid – que se revelaram populares entre os clientes. Entretanto, Julie Shainock, da Microsoft, e Surain Adyanthaya, da PROS, apontaram para o aumento da gestão de receitas impulsionada pela IA, preços dinâmicos e personalização em tempo real, ao mesmo tempo que alertaram que a transparência nas ofertas é essencial para manter a confiança.

 

Redefinindo a estratégia comercial das companhias aéreas

Numa conversa informal, Sophie Dekkers, diretora comercial da easyJet, refletiu sobre como a Covid acelerou a mudança no setor, com a inflação, os preços dos combustíveis e os custos aeroportuários a criarem agora novas pressões, referindo os 22 milhões de atrasos ATC na Europa no ano passado, agravados pela redução do espaço aéreo, agravados pela redução do espaço aéreo devido à guerra na Ucrânia e aos atrasos na entrega de aeronaves.

A incorporação de cientistas de dados na equipa de gestão de receitas da easyJet transformou a tomada de decisões, permitindo que a companhia aérea respondesse em tempo real ao comportamento imprevisível dos clientes. “A automatização permitiu que a equipa se concentrasse nas exceções, enquanto a ciência de dados garante que possamos identificar os problemas à medida que eles ocorrem”.