
Estes dias mas ilhas foram verdadeiramente de regresso ao básico.
Primeiro visitámos a ilha das galinhas e depois a ilha da Orango.
Ilha das Galinhas
Durante muitos séculos, a ilha das Galinhas - com os seus 28x21 km, uma das maiores dos Bijagós - esteve inabitada. Era, porém, muito fértil e, assim, durante alguns meses do ano, os povos das ilhas vizinhas iam para a ilha fazer as plantações. Para sobreviver levavam tudo o que precisariam durante esse tempo, incluindo galinhas. Após as colheitas, regressavam às suas ilhas de origem, levando tudo o que lhes pertencia. Contudo, não conseguiam apanhar todas as galinhas que ficavam e se reproduziam. Foi, assim, que a ilha ficou com um número muito elevado de aves galináceas e ganhou o seu nome .
Chegar à Ilha das Galinhas a partir de Bissau envolve uma longa viagem de barco (lancha rápida ou embarcação tradicional), o que contribui para a sua sensação de isolamento.
O que me levou à ilha das Galinhas foi ver de perto o projeto da Associação de Beneficência Luso-Alemã (ABLA) , focado no setor da Educação e na Saúde Alimentar, visando combater o abandono escolar e a pobreza.
A ABLA é uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) e Organização Não Governamental para o Desenvolvimento (ONGD) portuguesa e concentra a sua atuação na Ilha das Galinhas através de parcerias com organizações locais, tentando garantir que as crianças tenham acesso à escolaridade e à alimentação básica.
A ABLA financiou a construção de pelo menos duas escolas na Ilha das Galinhas e cobre os salários dos professores locais que, com um salário de aproximadamente €85/mês, são essenciais para manter o sistema de ensino a funcionar. A ABLA também doa material didático.
Um dos aspetos mais cruciais do projeto é a distribuição diária de uma refeição quente aos alunos nas escolas. Para muitas das crianças, esta é a única refeição quente que comem durante o dia, o que é fundamental para a saúde e para incentivar a frequência escolar.
Através do financiamento escolar, do fornecimento de material escolar e da alimentação, a ABLA visa quebrar o ciclo da pobreza e combater o abandono escolar precoce, garantindo a frequência de centenas de crianças (mais de 600 em 2023) nas escolas que apoia.
Nestas escolas, fiz sessões de contos, um dos objetivos que me levaram à Guiné-Bissau.
Para além do núcleo educacional, a ABLA tem procurado dar apoio em outras vertentes. Tem tentado manter em funcionamento um posto de primeiros socorros na Ilha das Galinhas, que infelizmente enfrenta problemas de abastecimento de medicamentos.
No dia que planeámos ir visitar as escolas da ilha das Galinhas, criadas pela igreja evangélica e apoiadas pela ABLA, levantámo- nos cedo, pois o barco zarparia às 7h45.
Como a ilha é muito pobre e não tem lugares onde se possa comer, a Nia Gomes preparou um farnel: frango guisado com batatas fritas e pão. Este teve ainda de ser comprado, o que fez atrasar a partida. O mar estava calmo e a travessia de 1h30 fez- se sem sobressaltos.
A lancha chegou bem perto do praia, mas mesmo assim tivemos que saltar para a água. Na praia, um montão de crianças já nos esperava. Olharam- nos com ar de espanto, mas com curiosidade. Quiseram dar-nos as mãos, tocavam- nos, passavam os dedos pelos nossos braços e pelas nossas mãos, agarravam- nos.
E, com este “séquito” saímos da praia em direção à escola, passando pela tabanca, uma das seis tabancas da ilha.
É uma aldeia tipicamente africana, com palhotas redondas e quadradas com tetos de colmo, e outras com tetos de zinco. As pessoas viviam da pesca e de agricultura de subsistência - e do apoio do PAM, Programa de Alimentação Mundial da ONU.
Mulheres lavavam a roupa em alguidar, homens construíam blocos de adobe para construírem as suas casas. Um homem fazia um tambor.
Uma mulher fazia saias de uma planta com muitos filamentos.
Finalmente - e sempre com um
montão de crianças agarradas a nós, chegámos à Escola Evangélica de Ensino Unificado Tedepi-Nindo. Mais de duas centenas de crianças brincavam enquanto esperavam que o almoço ficasse pronto. Nesse dia, o almoço - arroz com sardinhas - só pôde começar a ser feito quando chegou o arroz do PAM, pois já não havia arroz na tabanca.
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| Entrega de um livro à professora e de um avental da AAAIO |
Os alunos da 3ª classe ainda estavam na sala de aula. Assim, pudemos fazer a sessão de contos que tínhamos planeado e oferecer o 1º livro para uma futura biblioteca escolar.
Quando terminámos a sessão de contos, o arroz estava cozido e pôde iniciar- se a distribuição do almoço Esta refeição, apoiada pela ABLA, é extremamente importante, pois para a grande maioria das crianças é a única do dia. Cada criança traz de casa uma tigela. Põem- se n uma fila, começando pelos mais novos, e um a um vão revendo a sua ração.
Fomos depois, novamente de barco , para a escola da outra tabanca, onde uma centena de alunos faz o seu percurso escolar até ao 9 º ano. Neste dia, estes alunos não receberam almoço porque o arroz do PAM não chegou a tempo.
Também aqui fizemos a nossa oferta de um livro para a futura biblioteca escolar, de lápis e de calculadoras solares. A ABLA ofereceu ao Centro de Saúde uma grande quantidade de medicamentos, recolhidos pelas crianças do jardim de infância e da escola dessa associação em
Carcavelos.
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| Medicamentos oferecidos pela ABLA |
















