A somente 30 minutos de Alter do Chão, temos a vila de
Cabeço de Vide. Sobre a sua fundação há poucos registos. Segundo histórias
orais contadas à lareira, o nome nasceu da acidentada vida dos seus habitantes.
O primeiro povoamento foi feito junto do ribeiro; porém, por razões nunca
totalmente apuradas, as pessoas adoeciam muito e morriam. Decidiu-se então a
mudança para o cimo do monte que se elevava mesmo ali. As doenças acabaram e os
habitantes deram à vila o nome de Cabeço da Vida, que com o correr dos tempos,
passou a Cabeço-de-Vide. No entanto, o brasão da vila contém uma vide e há que
fale duma grande vide que se encontrava nos terrenos da vila aquando da sua
fundação.
A vida na vila concentra-se no Rossio, uma ampla avenida,
oficialmente denominada Avenida da Libertação desde 1932 quando a vila deixou
de pertencer ao concelho de Alter do Chão e passou a integrar o concelho de
Fronteira. Num dos topos do Rossio encontra-se a escola primária e no outro uma
casa senhorial do século XIX. No meio, um largo passeio com pequenos lagos com
peixes, cascatas, repuxos para tirar a sede a quem por lá se passeia, ladeado
por laranjeiras a todo o comprimento, convida a amenas e longas cavaqueiras,
especialmente ao fim do dia quando o calor deixa de apertar.
Há dois locais famosos na vila. Um é a estação dos caminhos
de ferro, hoje desactivada e transformada em hotel e restaurante, e as termas
da Sulfúrea. O edifício da estação está
decorado com azulejos que mostram cenas da vida alentejana, desde a ceifa ao
mungimento das vacas, passando pelo lançamento das sementes, pela apanha da
azeitona e pelo lavrar das terras.
Não longe da estação encontram-se as termas. Os jardins à
volta do estabelecimento termal, com as suas grandes e velhas árvores, fazem da
sulfúrea um oásis no Verão. A Junta de Freguesia mandou construir uma piscina
natural no ribeiro que corta os jardins, retendo as águas por meio de comportas.
As águas medicinais vêm de quatro nascentes e contêm ácido sulfúrico e daí o
nome de Sulfúrea e são aconselhadas a diversas doenças.
Como a maioria das aldeias e vilas alentejanas, também
Cabeço de Vide tem as suas casas caiadas de branco, com as janelas e portas
pintadas a azul (para afastar os maus espíritos) ou outra cor forte.
Com o cair da noite, escolhamos um local para pernoitar.
Qualquer que seja a casa que se escolha, terá de certeza uma belíssima lareira,
grande, onde no Inverno se passam longos serões a conversar, a ler ou a jogar…
ou somente a olhar o lume.
As lareiras alentejanas são para mim um espelho
da grandeza das suas terras. No Alentejo há espaço, nada é acanhado. Pode
respirar-se à vontade. Como diz Miguel Torga: “Encho os olhos de terra. / No Alentejo, há muita e é de graça. [...] / O Alentejo é o fôlego, a extensão
do alento” (in
“Alentejo”, 1988).