De repente, em Caixeiros, já não muito longe de
Santa Cruz, passámos por um moinho lindo,
branco, com bordas azuis e com as suas majestosas velas brancas rodando ao sabor do vento com os seus vasos de barro a deliciaram
os nossos ouvidos – e os do moleiro –
com a sua sica. Tivemos de parar. O Sr. Sérgio, o moleiro, recebeu-nos no seu
moleiro, bem, “meu, não, este não é meu. O meu está para além”, esclareceu-nos.
Sim, ainda existem moleiros, o Sr. Sérgio é
moleiro de alma e coração. Recebeu o seu moinho ainda jovem adulto. Como nas
lendas que nos contam na infância, o pai, moleiro,
tinha dois filhos, um fio de
ouro e um moinho. Perguntou o que cada um queria. O Sr. Sérgio disse logo que
gostaria de ficar com o moinho. O irmão preferia o fio de ouro, pois a vida de
moleiro não lhe interessava.
E é no seu moinho e neste moinho de várzea de 1836
que a Câmara Municipal de Torres Vedras adquiriu e restaurou já lá vão mais de 20
anos, que o Sr. Sérgio transforma os grãos de trigo e de milho (“Centeio, não, que
estraga estas mós”, explica-nos) em farinha que ali mesmo é vendida assim como aos
seus subprodutos, o farelo e o rolão.
Após a pedagógica aula de moagem que o Sr.
Sérgio nos deu, seguimos para Santa
Cruz, que iria ser o ponto de partida para a nossa
descoberta da região de Torres Vedras.