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Horta vista do mar |
Viemos até a ilha do Faial a convite da Bestravel para a sua
20ª Convenção Anual. Ao passearmos cidade mais ocidental da Europa, que é
Horta, chamou-nos a atenção um cartaz a frente de uma loja: Artesanato
açoriano. Não podemos fazer nada quanto ao clima açoriano. É por isso que temos
golas para todas as estações”.

Entrámos na pequena loja. Lá dentro estava Ana Correia, a
artesã. Há 16 anos “fugiu” de Lisboa, da vida estressante da capital, onde
trabalhava em televisão. Veio com o namorado com a ideia de aqui ficarem no
Faial uns dois anos. Começou por Dar aulas na escola secundária. Mas após o
nascimento da primeira filha, resolveu dar largas a sua criatividade, criando
golas que começou por vender no mercado da horta. Depois surgiu a oportunidade
de ter uma pequena loja/estúdio. Criou então a marca Putu - Peça única, Tamanho
único. Tudo o que vende na loja feito por ela. Nada é desperdiçado. Pequenos
retalhos que sobra da sua criação são usados por uma amiga para fazer tiras de
pano com várias utilizações: o cabelo, à cintura, como alças de malas, etc.
ainda não se arrependeu de ter deixado Lisboa e de ter instalado no Faial. A
qualidade de vida não tem comparação com a da capital. Não se sente isolada.
Viaja muito - assim o tempo permita. Não sente que “a ilha seja claustrofóbica.
Lisboa é que é claustrofóbica “.
Possivelmente Ana Correia tem razão. Horta emana sossego. É
uma cidade calma. Olhar o Pico, mesmo em frente, relaxa-nos. Olhar o mar, relaxa-nos.
Descobrir os desenhos nas calçadas, relaxa-nos.
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Porto da Horta |
O mesmo sentiu Marc Larose, um canadiano de Québec, que se
apaixonou pela ilha quando aqui atracou o seu iate há mais de 10 anos. “A ilha é muito verde e, graças às suas flores, tem
cor todo o ano”. Reformou-se e dedica-se a reciclar madeira que o mar traz para
terra e outros produtos que depois vende na sua loja VA, junto ao mercado.
A Horta visita-se a pé. O passeio pela marginal, sempre com
o Pico a acompanhar-nos, é relaxante e dá-nos para ver os grandes edifícios
brancos com basalto um pouco mais para dentro.
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A Torre do Relógio com o Pico ao fundo |
A Torre do Relógio, o que resta de uma antiga igreja,
ergue-se orgulhosa numa das pontas da cidade, junto ao Jardim Florêncio Terra.
Foi construída no século XVIII. Foi edificada para ser pertença da antiga
Igreja Matriz da Horta, que datava de 1500, bem como para funcionar como o
relógio da cidade.
Esta primeira Igreja Matriz da Horta, foi em 1597, como
praticamente todas as igrejas e conventos da cidade da Horta, incendiada pelos
corsários ingleses.
Algum tempo depois, deu-se início à sua reconstrução, tendo
as obras decorrido entre 1607 e 1615, quando ficou de novo pronta para o culto.
Ao longo dos séculos sofreu os efeitos dos numerosos sismos
que abalaram a ilha. No final do século XVIII a igreja deixou de oferecer
segurança para poder ser utilizada sem importantes obras de manutenção.
Como Portugal se encontrava num período de revolução o seu
restauro nem foi sequer pensado. Em 1825 esta igreja foi demolida. A torre
manteve ereta.
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Igreja matriz da Horta |
Ali perto ergue-se a ”nova” igreja matriz, a Igreja Matriz
do Santíssimo Salvador. É bilateralmente anexa ao antigo Colégio dos Jesuítas
da Horta, formando a maior fachada arquitetónica de todo o arquipélago.
A sua construção deveu-se à intervenção do padre Luís Lopes,
primeiro reitor do Colégio dos Jesuíta de Ponta Delgada que, em 1635, foi
forçado por um temporal a aportar ao Faial, quando se dirigia à ilha de São
Miguel.
Esta igreja começou a ser construída em 1680, dois anos
depois de se conseguir a provisão-régia que permitiu a importação de todo o
material necessário. As obras do convento começariam apenas em 1719.
Porém, aquando da expulsão dos jesuítas do reino de Portugal
(1759), a igreja ainda não estava concluída. Nela já se encontravam, entretanto,
a talha dourada do altar-mor, a riquíssima capela da Senhora da Boa Morte, com
as suas telas, os painéis de azulejos da capela-mor, a grande lâmpada de prata,
e uma parte consistente das restantes capelas, apesar de serem notáveis a falta
de diversos elementos.
Valioso é o frontal de prata em estilo renascentista do
antigo altar do Santíssimo. Também importante é o arcaz de pau-santo, que se
encontra na sacristia, a custódia de bronze prateado e a estante de Cantochão
giratória do coro de 1742, com finos embutidos de marfim representando
passagens do Evangelho oriundas do antigo Convento de São Francisco. Quem se
interessar, poderá ainda visitar Museu de Arte Sacra da Horta.
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Império do Divino Espírito Santos dos Nobres |
A caminho desta igreja, passámos por uma pequena capela, o
Império do Divino Espírito Santo dos Nobres, um dos mais antigos da ilha e
construído inteiramente em pedra e cal. Foi edificado em 1759, em memória da
erupção vulcânica do vulcão do Praia do Norte, que cobriu toda a ilha com uma
camada de cinza vulcânica de alguns centímetros.
Sobre a porta podem ver-se duas pombas brancas e a inscrição
“Memória do Vulcão da Praia do Norte em 1672”. A fachada deste império
encontra-se adornada com as armas do Escudo de Portugal e por uma Coroa do
Espírito Santo.
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Convento de São Francisco |
Mais adiante, mas desativado, está o Convento de São
Francisco. O convento original, fundado no início do século XVI, foi incendiado
em 1597 por corsários ingleses. Foi reconstruído, mas voltou a ficar muito
danificado durante um temporal em 1668. A comunidade decidiu construir um novo
edifício, em local mais recuado em relação ao mar, onde ainda se encontra, se
bem que desativado desde a extinção das ordens religiosas. Foi entregue em 1835
â Santa Casa da Misericórdia para um hospital e um asilo de mendicidade. Na
noite de 4 de maio de 1899 um violento incêndio destruiu por completo o então
hospital e asilo, tendo-se salvado apenas a igreja.
Antes de descansarmos no Peter Café Sport, passámos ainda
por um belo no edifício em arte nova, a Sociedade Amor da Pátria, Instituição
de Utilidade Pública, de Recreio, Cultura e Filantropia, fundada há quase 160
anos.
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Sociedade Amor da Pátria |
A beneficência e a filantropia encontram-se na génese desta
sociedade que, com frequência, apoiou financeiramente instituições de caridade
no concelho da Horta, como os Asilos de Mendicidade e da Infância Desvalida,
através de dádivas recolhidas nos seus saraus. Para subsidiar as suas obras de
beneficência, a nível económico-financeiro também a Sociedade Amor da Pátria
concretizou uma iniciativa notável no seu tempo, com a fundação da Caixa
Económica Faialense.
Importante foi também o facto de sido aqui que se reuniu
pela 1ª vez o órgão máximo da Autonomia Regional. A 4 de Setembro de 1976,
neste edifício, teve lugar o ato inaugural da I Legislatura do Governo
Regional.
Agora sim, sentemo-nos no Peter e bebamos o nosso gin tónico.
Para outro dia fica a ida aos Capelinhos e à cratera.