quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

Os Caretos de Podence: Uma Tradição Ancestral no Nordeste de Portugal

 



Aproxima-se o Carnaval e logo nos vêm à mente os caretos, aquelas figuras coloridas e barulhentas que percorrem algumas aldeias do Nordeste transmontano. Os caretos, uma manifestação cultural uma tradição com raízes pagãs, que remonta a tempos ancestrais, são umas das tradições mais enigmáticas e fascinantes de Portugal que tem sobrevivido ao tempo.
 





A tradição dos Caretos de Podence é um exemplo notável de como uma pequena comunidade rural conseguiu preservar e revitalizar uma prática cultural ancestral. Ao longo dos anos, a aldeia de Podence tem trabalhado para manter viva esta tradição, passando-a de geração em geração e adaptando-a aos tempos modernos sem perder a sua essência. Este trabalho deu frutos. Os caretos foram reconhecidos como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO, em 2019.

 

Origens e Significado


 

A origem dos Caretos de Podence é incerta, mas acredita-se que a tradição tenha raízes em antigos rituais de fertilidade. Os Caretos seriam uma representação dos espíritos da natureza que saíam para celebrar a chegada da primavera.


São figuras mascaradas, que representam animais ou figuras mitológicas, que desfilam pelas ruas de Podence e de outras aldeias durante o período do Carnaval, envolvendo-se em brincadeiras, danças e uma energia contagiante que mistura o sagrado e o profano. As máscaras, feitas de couro, latão ou madeira, e os trajes coloridos, compostos por franjas de lã vermelha, verde e amarela, conferem aos Caretos um ar misterioso e quase sobrenatural.


 O Carnaval de Podence é marcado por uma atmosfera de liberdade e transgressão, onde os Caretos, com as suas máscaras assustadoras e os seus chocalhos, assumem o papel de provocadores. Eles correm pelas ruas, perseguindo as pessoas, especialmente as mulheres jovens. Este comportamento, aparentemente caótico, é na verdade profundamente ritualizado e faz parte de um ciclo festivo que inclui também o Entrudo e o Domingo Gordo.

 

O Ritual dos Caretos

 

A festa dos Caretos começa no Domingo Gordo, quando os mascarados saem às ruas pela primeira vez. Os homens da aldeia, tradicionalmente os únicos a poderem vestir o traje de Careto, preparam-se cuidadosamente para a ocasião. O traje é composto por uma máscara, que cobre o rosto e confere anonimato, e um fato de cores vivas, com franjas que balançam ao ritmo dos movimentos. Os chocalhos, presos à cintura, produzem um som característico que anuncia a chegada dos Caretos.


 Durante os dias de festa, os Caretos percorrem as ruas da aldeia, entrando nas casas, dançando e brincando com os habitantes. A energia é contagiante. No entanto, há uma regra não escrita: os Caretos não devem ser reconhecidos. O anonimato é parte fundamental do ritual, permitindo que os participantes se libertem das convenções sociais e se entreguem à celebração.

 

No último dia do Carnaval, os Caretos despedem-se com um cortejo fúnebre, onde é queimado um boneco de palha, simbolizando o fim do ciclo festivo e o regresso à normalidade. Este momento é carregado de simbolismo, representando a morte do Inverno e o renascimento da Primavera.

 

Os Caretos representam a ligação profunda entre as pessoas e a natureza, entre o passado e o presente, e entre o sagrado e o profano, mantendo viva uma tradição que é, acima de tudo, uma celebração da vida.