A tradição dos Caretos de Podence é um exemplo notável de como uma pequena comunidade rural conseguiu preservar e revitalizar uma prática cultural ancestral. Ao longo dos anos, a aldeia de Podence tem trabalhado para manter viva esta tradição, passando-a de geração em geração e adaptando-a aos tempos modernos sem perder a sua essência. Este trabalho deu frutos. Os caretos foram reconhecidos como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO, em 2019.
Origens e Significado
A
origem dos Caretos de Podence é incerta, mas acredita-se que a tradição tenha
raízes em antigos rituais de fertilidade. Os Caretos seriam uma representação
dos espíritos da natureza que saíam para celebrar a chegada da primavera.
São
figuras mascaradas, que representam
animais ou figuras mitológicas, que desfilam pelas ruas de Podence e de outras
aldeias durante o período do Carnaval, envolvendo-se em brincadeiras, danças e
uma energia contagiante que mistura o sagrado e o profano. As máscaras, feitas
de couro, latão ou madeira, e os trajes coloridos, compostos por franjas de lã
vermelha, verde e amarela, conferem aos Caretos um ar misterioso e quase
sobrenatural.
O
Ritual dos Caretos
A
festa dos Caretos começa no Domingo Gordo, quando os mascarados saem às ruas
pela primeira vez. Os homens da aldeia, tradicionalmente os únicos a poderem
vestir o traje de Careto, preparam-se cuidadosamente para a ocasião. O traje é
composto por uma máscara, que cobre o rosto e confere anonimato, e um fato de
cores vivas, com franjas que balançam ao ritmo dos movimentos. Os chocalhos,
presos à cintura, produzem um som característico que anuncia a chegada dos
Caretos.
No
último dia do Carnaval, os Caretos despedem-se com um cortejo fúnebre, onde é
queimado um boneco de palha, simbolizando o fim do ciclo festivo e o regresso à
normalidade. Este momento é carregado de simbolismo, representando a morte do
Inverno e o renascimento da Primavera.
Os
Caretos representam a ligação profunda entre as pessoas e a natureza, entre o
passado e o presente, e entre o sagrado e o profano, mantendo viva uma tradição
que é, acima de tudo, uma celebração da vida.