sexta-feira, 22 de julho de 2016

As minas de sal de Wieliczka



Madeira petrificada
Já alguma vez sonhou em ser mineiro ou mineira? Se é das pessoas que têm algum medo de espaços fechados e que fica com falta de ar quando ouve as notícias de desastres em minas, poderá até evitar visitas a minas. Mas no caso das minas de sal de Wieliczka, na Polónia, perto de Cracóvia, fará mal se não as visitar por dentro.



Declaradas Património da Humanidade pela UNESCO em 1978, as minas de sal de Wieliczka são exploradas sem interrupção desde o século XIII, tendo sido visitadas pela primeira vez no século XV.
Lago subterrâneo
Reza a lenda que Santa Cunegunda, filha de um rei húngaro, tendo sido prometida ao rei da Polónia, recusou o dote de ouro e pedras preciosas que iria receber do pai, dizendo que tinham origem nas lágrimas e no sangue do povo.
- Não quero riquezas – declarou a princesa. – Deem-me sal que é um bem precioso.
O pai ofereceu-lhe então uma mina de sal na Transilvânia, para dentro da qual Cunegunda atirou o seu anel de noivado. Mais tarde, já como princesa polaca, realizou uma viagem a Cracóvia; ao chegar perto da atual Wieliczka pediu aos seus súbditos que cavassem um buraco bem fundo. Para espanto de todos, o buraco continha sal em abundância – e mais admirados ficaram ao encontrarem ali o anel que Cunegunda atirara para dentro da mina de sal da Transilvânia. As minas começaram então a ser exploradas e tornaram-se muito importantes não só para a Polónia mas para toda a Europa. E a ser visitadas, tendo por lá passado Copérnico, Goethe, Alexandre von Humboldt, Dmitri Mendeleev, Robert Baden-Powell, Karol Wojtyła (mais tarde Papa João Paulo II), Bill Clinton, entre muitas outras personalidades.
Hoje em dia quem passa por Cracóvia vai inevitavelmente visitar as minas de sal de Wieliczka onde pode ver esta lenda representada numa das galerias da mina, através de esculturas realizadas pelo mineiro Mieczyslaw Kluzek. São inúmeras as estátuas de sal em exposição nas minas. 
Um dos muitos corredores na mina
"A catedral subterrânea de sal da Polónia”, como são descritas as minas, é um conjunto de escavações dispostas em nove níveis entre 64 e 327 m de profundidade e com mais de 300 quilómetros de galerias  – um verdadeiro labirinto – dos quais só se visitam 3,5, mas onde podemos ver lagos subterrâneos, 22 câmaras, ferramentas e máquinas antigas, baixos-relevos e capelas com figuras esculpidas de sal, feitas pelos mineiros que ilustram a história das minas. Uma viagem a um mundo totalmente desconhecido – e a uma temperatura bem fresca de 14 ºC!
A capela mais impressionante é a de Santa Cunegunda com 54 metros de comprimento toda decorada com figuras de sal, entre as quais uma estátua gigante do papa João Paulo II.
Como surgiu o sal naquela região? Há mais de 13 milhões de anos começou a aparecer sal devido à cristalização do sal diluído na água do mar, tendo-se iniciado a sua extração ao ar livre. Era considerado ouro branco, tal era o valor que tinha.
Os primeiros vestígios humanos na região datam do final do paleolítico.
Um documento do legado papal Egídio enumera e confirma os privilégios do mosteiro beneditino para o uso gratuito do sal das salinas Magnum Sal, ou seja, Wieliczka.
Em 1518 é publicada a “Descrição das Salinas de Cracóvia”, onde são listados todos os tipos de trabalhos a fazer na mina, as categorias de empregados, as salinas e a fazenda pertencente à salina e são descritos os sistemas de extração, transporte e venda de sal-gema e sal de evaporação. A produção deste último tipo de sal termina em 1724 em Wieliczka.
No século XVIII são introduzidas máquinas para trazer o sal para a superfície, tendo-se igualmente iniciado ensaios para o uso de pólvora para extrair sal. Nos finais do século XIX o trabalho nas minas fica praticamente totalmente mecanizado, com a introdução de máquinas de perfuração e o uso de explosivos em grande escala.
Durante a ocupação alemã da Polónia, as minas foram declaradas de especial importância estratégica. Foi abandonada a técnica de perfuração mecânica, optando unicamente pelo uso de explosivos. A mina passou a ser usada como fábrica de material de guerra, onde trabalhavam judeus dos campos de detenção da vizinhança. A 21 de janeiro de 1944, as tropas soviéticas libertaram Wieliczka.
Candelabro de sal na catedral
Hoje em dias minas são também usadas como salas de concertos e de outras atividades culturais, sendo visitadas por mais de um milhão de pessoas.
A última ceia, baixo relevo feito de sal
Todas as estátuas são feitas de sal