sexta-feira, 15 de julho de 2016

Curia, o charme dos anos 20 do século XX



O parque do Curia Palace Hotel

 Ao chegarmos à Curia sentimo-nos imediatamente transportados para o passado, para o início do século XX. Com os seus grandes hotéis (Grande Hotel da Curia, o Palace Hotel e o Hotel das Termas), agora com uma decadência cheia de charme, as alamedas ladeadas de árvores, as termas meias-esquecidas, pensamos que somos figurantes um filme que mostra o esplendor das vilas termais portuguesas até meados do século passado.
No tempo da ocupação romana, a atual Curia era conhecida por de “Aquae curiva”. Nome que deu origem à atual toponímia. Os Romanos, grandes apreciadores de termas e de banhos, conheciam bem as nascentes e explorava as suas águas, sendo assim a Curia uma das mais antigas estâncias hidrológicas do país. 
Com o evoluir da História, as termas passaram para o esquecimento. Em 1863 um engenheiro francês que trabalhava na construção da linha férrea do Norte aplicou as águas da poça da Curia da Mata, nascente utilizada por residentes da região em doenças de pele e reumatismo, num tratamento de um “mal que tinha nas pernas”. Os bons resultados obtidos depressa se espalharam e a fama curativa das águas não parou de crescer. A exploração pertencia por direito à Câmara da Anadia, que não lhe dedicava nenhuma especial atenção. O balneário era um barracão em madeira!
As primeiras análises às águas foram feitas somente em 1897 por encomenda de Luís Návega, médico, que incentivou a fundação da Sociedade das Águas da Curia, que foi concretizada em 1900. Ficou à sua frente como diretor clínico durante 40 anos.
Quando por morte do pai, Albano Coutinho, jornalista e um dos fundadores do Partido republicano em 1876, se dedicou aos negócios da família na Bairrada, viu as potencialidades das águas. Trabalhou pela transformação do local numa estância termal e de veraneio de qualidade, uma aposta financeira no turismo, então praticamente inexistente, ou só existente em discussões parlamentares e vagos apoios financeiros à construção de hotéis prometidos no final do regime monárquico e no regime republicano.
Aos poucos foram surgindo hotéis e pensões. Em 1926 foi inaugurado o Curia Palace Hotel, a concretização do sonho do hoteleiro Alexandre de Almeida e do talento do arquiteto Norte Júnior. O palacete é um magnífico exemplar da Arte Nova que dominou os "Dourados Anos 20". 
A entrada do Palace Hotel

Este emblemático hotel foi criado com a intenção de se afirmar como grandioso, cosmopolita e mundano. Nos jardins do hotel foi inaugurada em 1934 a “Piscina-Praia”, uma curiosa construção em forma de navio, desenho do arquiteto Raul Martins, e que se tornou o centro de animação das termas nas décadas seguintes.

O Curia Palace Hotel  e os edifícios que o complementam - Chalet Navega ou Chalet das Rosas, Capela da Senhora do Livramento, Piscina Paraíso, garagem e jardins envolventes - foram classificados como conjunto de interesse público pela Portaria n.º 615/2013, de 20 de Setembro, diploma que fixou também a respetiva zona especial de proteção (ZEP).
No final do século XX, a queda na procura de um termalismo tradicional, a custosa manutenção do parque e do seu património construído colocaram a Sociedade das Águas da Curia numa situação financeira difícil que, graças a apoios comunitários e a aposta em novos programas termais de turismo de saúde, se têm vindo inverter.
Hoje em dia, as termas da Curia a tradição termal unida ao conforto e à tecnologia moderna, usada no novo edifício termal, que ficou concluído em 1993, com tratamentos especializados para combater doenças metabólico-endócrinas, cálculos renais e infeções urinárias, hipertensão arterial, doenças reumáticas e músculo-esqueléticas, programas de recuperação de forma física, reabilitação, fisioterapia corretiva e dietas de emagrecimento. Os tratamentos podem ser interiores (ingestão oral de água) ou exteriores (banhos de imersão com duche subaquático e bolha de ar, duches escoceses de jacto ou crivo, circular ou de leque, a hidromassagem automática, a sauna, a piscina de reabilitação, o ginásio com mecanoterapia, as massagens e a eletroterapia, trações, ultrassons, ondas curtas, micro-ondas, ultravioletas, infravermelhos, correntes diadinâmicas, entre outros).
Às propriedades curativas das águas soma-se o ambiente de calma, sossego e repouso da Curia. As termas encontram-se dentro de um parque de 14 hectares com árvores centenárias e vegetação luxuriante que rodeiam o lago, artificial, convida a passeios tranquilos. Os edifícios termais conservam a sua arquitetura Arte Nova, a monumental buvete, o casino, agora desativado, os antigos balneários e a velha casa de chá à beira do lago. Ainda dentro do parque, encontra-se o Hotel das Termas.