sexta-feira, 17 de outubro de 2025

Viagem à Sicília - Dia 5: Trapani – Marsala – Salinunte - Agrigento

Vista a partir de Selinunte

 

Mais um dia cheio de belíssimas ruínas gregas. Saímos cedo para Selinunte. O caminho levou- nos por Marsala, que atravessamos sem parar  

Esta área era habitada desde a Antiguidade, sendo o local da cidade fenícia de Lilybaeum (Lilibeu). O nome atual, Marsala, deriva do árabe Marsa Allah ou Marsa Ali ("Porto de Deus" ou "Porto de Ali").

Marsala é um marco crucial na história da Itália. Em 11 de maio de 1860, Giuseppe Garibaldi e os Mil Camisas Vermelhas desembarcaram no porto, dando início à campanha que levou à Unificação da Itália (1861). Daqui vem a expressão ainda hoje muito usada “grazie mile” (muito obrigada).

Templo F em Selinunte. Aqui os templos têm letras, pois os historiadores não estão certos a quem eram dedicados


Seguimos, porém, diretamente para Selinunte, (ou Selinus), um dos maiores e mais impressionantes parques arqueológicos da Europa. Localizada na costa sudoeste da ilha, perto da moderna Marinella di Selinunte, esta antiga cidade grega oferece uma visão dramática da grandiosidade e da queda de uma das colónias mais prósperas da Magna Grécia.


Fundada por volta de 628 a.C. por colonos da cidade siciliana de Megara Hyblaea, Selinunte rapidamente se tornou uma potência regional, prosperando graças à fertilidade da sua planície e ao seu porto estratégico. No seu auge, a população da cidade poderá ter ascendido a 30 000 habitantes (excluindo escravos).

O seu destino foi selado por uma inimizade duradoura com a vizinha Segesta. Esta rivalidade levou a um confronto decisivo em 409 a.C., quando Segesta se aliou aos cartagineses. Sob o comando de Aníbal Magão, um exército cartaginês esmagador sitiou e destruiu Selinunte em apenas nove dias, pondo fim ao seu esplendor. Embora tenha sido brevemente repovoada sob o domínio cartaginês, a cidade nunca recuperou a sua importância anterior e foi definitivamente abandonada por volta do século III a.C.

O sítio arqueológico, com cerca de 270 hectares, está dividido em várias áreas principais, pontuadas pelas majestosas ruínas dos seus templos dóricos.



A colina oriental  é a área mais impressionante, onde se erguem três grandes templos. O mais notável é o Templo E (provavelmente dedicado a Hera), que foi completamente reerguido no século XX, oferecendo a melhor imagem de como a arquitetura grega seria. O Templo G (dedicado a Zeus) é um dos maiores templos gregos alguma vez construídos, com as suas ruínas monumentais.

Acrópole 


Localizada na colina central, a Acrópole era o centro político e religioso fortificado da cidade. Aqui encontram-se as ruínas de vários templos menores e os restos das muralhas defensivas.
A oeste, esta colina abriga o Santuário de Malophoros, um santuário rural dedicado à deusa Deméter, onde se realizaram importantes descobertas arqueológicas.

  


Scala dei Turchi, localizada na costa próxima (em Realmonte), é uma impressionante falésia de rocha marga branca, um dos cartões-posticos naturais mais famosos da Sicília pelas suas características únicas:

A falésia é feita de marga, uma rocha sedimentar calcária e argilosa de cor branco deslumbrante. O vento e o mar esculpiram-na ao longo dos séculos, dando-lhe a forma sinuosa de uma grande escadaria inclinada que desce para o mar.

O nome "Escada dos Turcos" deve-se à lenda de que, na Idade Média, piratas sarracenos e otomanos (na época, genericamente chamados de "Turcos") usavam esta formação rochosa como um local abrigado e de fácil acesso para atracar os seus navios durante as suas incursões.

É um local de beleza cénica inigualável, onde o branco da rocha contrasta de forma impressionante com o azul-turquesa do Mar Mediterrâneo.





             

Finalmente chegámos a Agrigento, mundialmente famosa por abrigar um dos sítios arqueológicos mais importantes e espetaculares da civilização grega fora da Grécia: o Vale dos Templos (Valle dei Templi), um amplo sítio arqueológico com templos antigos, ruínas da cidade de Agrigento e um museu. 



O Vale dos Templos é o ponto focal da visita a Agrigento e é Patrimônio Mundial da UNESCO desde 1997. Ele corresponde à antiga cidade grega de Akragas, fundada no século VI a.C., que foi uma das maiores e mais magníficas cidades da Magna Grécia (colónias gregas no sul da Itália).

O parque, que se estende por 1 300 hectares, abriga os restos de diversos templos dóricos notavelmente bem preservados, construídos em pedra calcária amarelada, contrastando com o céu azul siciliano.


Templo da Concórdia 



Templo da Concórdia é o mais famoso e um dos templos gregos mais bem preservados do mundo, comparável ao Partenon de Atenas. A sua excelente conservação se deve ao fato de ter sido transformado em uma igreja cristã no século VI d.C.


O
 
Templo de Hera (ou Juno Lacínia), localizado no ponto mais alto do lado leste do vale, oferece uma vista panorâmica.
O  Templo de Hércules (Heracles): O mais antigo do local, hoje restam apenas oito colunas reerguidas, mas é citado por Cícero em seus escritos.
 Templo de Zeus Olímpico (Olympieion): Embora esteja em ruínas, foi um dos maiores templos gregos já construídos. Foi erguido para celebrar a vitória sobre os cartagineses (Batalha de Hímera, 480 a.C.). É famoso por abrigar os Telamones, gigantescas estátuas masculinas usadas como colunas (uma réplica está deitada no chão para dar uma ideia de sua grandiosidade).

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·         O artista de Agrigento

 O nome "O Artista de Agrigento" não se refere a um único indivíduo, mas sim a um tema que abrange várias figuras importantes que estão intimamente ligadas à história, arte e cultura da cidade de Agrigento, na Sicília. Agrigento, conhecida na Antiguidade como Akragas, foi um importante centro da Magna Grécia e um local que sempre inspirou artistas, tanto antigos quanto modernos.

Figuras Mais Notáveis de Agrigento (Akragas)

1. Empédocles de Agrigento (c. 495–435 a.C.)

Empédocles é o "artista" mais célebre da antiga Akragas, embora fosse um filósofo pré-socrático, poeta e estadista. É famoso por sua teoria dos Quatro Elementos (terra, água, ar e fogo), que ele chamou de "raízes". Ele postulou que a mistura e a separação desses elementos eram governadas por duas forças cósmicas opostas: o Amor (união) e o Ódio (separação). A sua visão cosmológica, que tentou conciliar o conceito de imutabilidade de Parmênides com a ideia de mudança de Heráclito, influenciou o pensamento ocidental por séculos. Ele também era conhecido por ser um carismático orador e suposto taumaturgo.

Escreveu suas obras (Sobre a Natureza e As Purificações) em forma de poemas.

2. O Mestre do Efebo de Agrigento (Artista Grego Anónimo)

Este título refere-se ao criador da estátua grega arcaica chamada Efebo de Agrigento (Efebo di Agrigento), uma das peças mais importantes e bem preservadas encontradas no Vale dos Templos. A escultura de mármore branco (c. 480 a.C.), que retrata um jovem nu (um kouros), marca o período de transição entre o estilo Arcaico e o Clássico. É uma obra de arte excecional que demonstra a riqueza e a sofisticação cultural da antiga Akragas. Está exposta no Museu Arqueológico Regional de Agrigento.

Artistas Modernos Inspirados por Agrigento

A paisagem do Vale dos Templos, com suas ruínas grandiosas, tem sido um tema recorrente na arte moderna e contemporânea.

3. Igor Mitoraj (1944–2014) - Este escultor polaco é famoso por sua intervenção contemporânea no sítio arqueológico. A escultura mais notável é o Ícaro Caído (Ikaro Caduto), uma figura de bronze monumental e fragmentada que jaz dramaticamente no chão perto do Templo da Concórdia. A obra de Mitoraj, que frequentemente apresenta torsos e faces clássicas fragmentadas, dialoga com a ruína e a eternidade da arquitetura grega antiga. A escultura do Ícaro foi originalmente parte de uma exposição temporária em 2011, mas foi doada e permanece no local.

4. Caspar David Friedrich (1774–1840) - O mestre do Romantismo alemão pintou o Vale dos Templos em uma de suas obras mais importantes sobre a Itália. O Templo de Juno em Agrigento (1828–1830), um óleo sobre tela que retrata as ruínas gregas (o Templo de Hera) sob o brilho do pôr do sol, refletindo o fascínio romântico pela ruína e a passagem do tempo.