Logo de manhã, voltámos ao “local do
crime”, ou seja ao Bairro de Santo António. E agora com luz, foi fácil
encontrar. O bairro está a ser demolido. As vivendas pequenas já não existem,
mantém-se de pé, em ruínas, somente as casas comuns de dois andares e as
paragens dos autocarros. No entanto, sempre que mostrava a fotografia, todos se
lembravam da casinha com a planta do sisal à frente – uma visita que muito me
emocionou.
Quando nos juntámos de novo à
caravana, fomos em grupo até um jardim onde está a estátua do general Norton de
Matos, o fundador da cidade. Esta paragem tinha todo o interesse não só
histórico, mas também pessoal: no grupo estava o Pedro Norton de Matos, bisneto
do general.
Durante
a construção da linha da Companhia
do Caminho de Ferro de Benguela, concebido para drenar os minérios da região do Catanga para a costa do Atlântico, e estando o acampamento do
empreiteiro Pauling estabelecido cerca do km 370, começou a ser aí recebida
correspondência, vinda de Inglaterra,
endereçada a "Pauling Town - Angola". Ao chegar a Luanda como
governador geral da colónia de Angola, o General Norton de Matos não gostou
desta história deu ordems aos Correios para devolverem toda a correspondência que
assim viesse endereçada com a indicação de "destino desconhecido", para
assim marcar bem o domínio português na Província
do Huambo.
Na altura
não havia nenhuma povoação na região. Norton de Matos procurou nos mapas de
então, qualquer coisa que lhe sugerisse um nome; só encontrou a referência a um
pequeno forte, o Forte do Huambo, criado por Portaria nº 431,de 20/09/1903,
onde se tinham praticado alguns feitos heróicos. Essa representação foi o
bastante para lhe indicar a magnífica posição geográfica, política económica e
militar do futuro Centro Ferroviário, a que deu o nome de Cidade do Huambo, por
Diploma Legislativo de 8 de
Agosto de 1912. Imediatamente proibiu a
construção de casas de adobe, pau-a-pique ou outros materiais semelhantes na
cidade. Em 1928, o então
governador Vicente Ferreira mudou-lhe o nome para Nova Lisboa, que manteve até 1975, com a intenção de aí criar
a nova capital de Angola,
um plano que nunca passou do papel.
(Foto antiga) |
Tendo homenageado o fundador
da cidade, o grupo quis também fazer uma paragem junto da estátua de Agostinho
Neto, o fundador da nação angolana, colocada no local onde costumava estar a
estátua do general Norton de Matos.
È complicado uma caravana de
17 jipes deslocar-se dentro das localidades. Perderam-se uns quantos jipes e
quando um grupo tentava chegar à rotunda meteu-se em contramão por uma rua.
Azar dos azares, na rotunda estava a passar uma carrinha da Polícia, que logo
para. Os soldados saltam ágeis da caixa aberta, prontos a intervir. O 1º carro da
caravana lá explica o que se passa. Os soldados foram compreensíveis, param o
trânsito e deixam entrar a caravana na rotunda.
Depois de vermos Agostinho
Neto sentado a escrever, partimos para Waku Kungo. Apesar de o antigo colonato da Cela ser o
nosso destino final para este dia, tivemos 300 km de estrada alcatroada mas
cheia de buracos, alguns dos quais verdadeiras crateras. A stressante viagem
foi recompensada. Após uns 30 km de picada depois de Waku Kungo e passando por
um kimbo, onde se ofereceram algumas
coisas ao soba, chegámos às margens do rio Keve onde nos esperava um lauto
almoço à “Out of Africa” e uma série de hipopótamos que aí vivem. Foi um grande
espetáculo ver estes grandes animais nadar, mergulhar, respirar e tentar sair
da água, ali mesmo a alguns metros de nós.