domingo, 22 de junho de 2014

12º dia do VIII Raid do Kwanza Sul: Huambo – Waku Kungo (300 km)

Logo de manhã, voltámos ao “local do crime”, ou seja ao Bairro de Santo António. E agora com luz, foi fácil encontrar. O bairro está a ser demolido. As vivendas pequenas já não existem, mantém-se de pé, em ruínas, somente as casas comuns de dois andares e as paragens dos autocarros. No entanto, sempre que mostrava a fotografia, todos se lembravam da casinha com a planta do sisal à frente – uma visita que muito me emocionou. 
Quando nos juntámos de novo à caravana, fomos em grupo até um jardim onde está a estátua do general Norton de Matos, o fundador da cidade. Esta paragem tinha todo o interesse não só histórico, mas também pessoal: no grupo estava o Pedro Norton de Matos, bisneto do general.
Durante a construção da linha da Companhia do Caminho de Ferro de Benguela, concebido para drenar os minérios da região do Catanga para a costa do Atlântico, e estando o acampamento do empreiteiro Pauling estabelecido cerca do km 370, começou a ser aí recebida correspondência, vinda de Inglaterra, endereçada a "Pauling Town - Angola". Ao chegar a Luanda como governador geral da colónia de Angola, o General Norton de Matos não gostou desta história deu ordems aos Correios para devolverem toda a correspondência que assim viesse endereçada com a indicação de "destino desconhecido", para assim marcar bem o domínio português na Província do Huambo.
Na altura não havia nenhuma povoação na região. Norton de Matos procurou nos mapas de então, qualquer coisa que lhe sugerisse um nome; só encontrou a referência a um pequeno forte, o Forte do Huambo, criado por Portaria nº 431,de 20/09/1903, onde se tinham praticado alguns feitos heróicos. Essa representação foi o bastante para lhe indicar a magnífica posição geográfica, política económica e militar do futuro Centro Ferroviário, a que deu o nome de Cidade do Huambo, por Diploma Legislativo de 8 de Agosto de 1912. Imediatamente proibiu a construção de casas de adobe, pau-a-pique ou outros materiais semelhantes na cidade. Em 1928, o então governador Vicente Ferreira mudou-lhe o nome para Nova Lisboa, que manteve até 1975, com a intenção de aí criar a nova capital de Angola, um plano que nunca passou do papel.
(Foto antiga)
O General Norton de Matos foi homenageado em 1962 com uma estátua, financiada por subscrição pública, obra do arquiteto português Euclides Vaz, que rodeou das quatro virtudes: Prudência, Justiça, Fortaleza e Temperança (que alguém pensou tratarem-se das quatro mulheres do general….). Com a independência, as estátuas foram retiradas da rotunda do Palácio do Governador onde estavam, tendo sido colocadas numa rua lateral, juntamente com a estátua de Vicente Ferreira. Todas estão cravejadas de balas mas resistiram à guerra.
Tendo homenageado o fundador da cidade, o grupo quis também fazer uma paragem junto da estátua de Agostinho Neto, o fundador da nação angolana, colocada no local onde costumava estar a estátua do general Norton de Matos.
È complicado uma caravana de 17 jipes deslocar-se dentro das localidades. Perderam-se uns quantos jipes e quando um grupo tentava chegar à rotunda meteu-se em contramão por uma rua. Azar dos azares, na rotunda estava a passar uma carrinha da Polícia, que logo para. Os soldados saltam ágeis da caixa aberta, prontos a intervir. O 1º carro da caravana lá explica o que se passa. Os soldados foram compreensíveis, param o trânsito e deixam entrar a caravana na rotunda.

Depois de vermos Agostinho Neto sentado a escrever, partimos para Waku Kungo.  Apesar de o antigo colonato da Cela ser o nosso destino final para este dia, tivemos 300 km de estrada alcatroada mas cheia de buracos, alguns dos quais verdadeiras crateras. A stressante viagem foi recompensada. Após uns 30 km de picada depois de Waku Kungo e passando por um kimbo, onde se ofereceram algumas coisas ao soba, chegámos às margens do rio Keve onde nos esperava um lauto almoço à “Out of Africa” e uma série de hipopótamos que aí vivem. Foi um grande espetáculo ver estes grandes animais nadar, mergulhar, respirar e tentar sair da água, ali mesmo a alguns metros de nós.