Como hoje a saída foi mais tarde, o
Hans-Jürgen e eu pegámos em duas bicicletas do hotel e fomos até à praia apesar
de se ter levantado um grande vendaval e uma tempestade de areia. Fomos até à
Praia Amélia, uma das muitas belas praias de cidade de Namibe. Passámos pela
capela onde as crianças estavam a ter catequese – no regresso, apesar de a
igreja já estar fechada, as crianças ali se mantiveram a jogar ao mata – e
chegámos à praia onde os pescadores estavam a arranjar as redes. Dois
israelitas, que ali trabalham na prospeção de urânio, preparavam a vela do windsurf.
De regresso, contra o vento e contra o relógio, o caminho foi mais
difícil. Mas chegámos a tempo. Da bicicleta saltámos para o jipe e partimos
para a foz do rio Giraúl, passando pelo porto praticamente abandonado. Como no
grupo havia muitos engenheiros, a curta viagem foi uma verdadeira aula de
Engenharia Civil, tema: construção de pontes. O rio Giraúl é um potente rio
durante a época das chuvas, ficando quase seco na época do cacimbo. Assim o
encontrámos, sem conseguir sequer chegar ao mar. Um banco de areia barrava-lhe
o caminho, formando uma bela paisagem que nós admirámos do cimo das falésias
rochosas. Talvez pelo vento que se tinha levantado, a zona esta a sofrer uma
invasão de libelinhas.
A hora do almoço aproximava-se e fomos para o centro da cidade para um
bairro de casinhas coloniais onde se instalou Filipa Henriques, tendo ali
montado o restaurante Tubiacanga .
Desculpe? Tubiacanga ?
Isso não é nome de novela brasileira? Certo. Nos anos 90, a novela passava na
televisão angolana. A vida de Filipa Henriques estava muito difícil. Ela
revia-se naquela novela. E disse: Se algum dia tiver um negócio próprio vou
chamá-lo Tubiacanga .
Entretanto perdeu o emprego e começou a fazer pastéis e bolas de Berlim. O
negócio começou a render e Filipa Henriques abriu uma pequena tendinha no r/ch
da sua casa que foi crescendo e crescendo chegando ao restaurante que tem hoje
em funcionamento. Ela própria dá formação aos seus empregados, da cozinha e da
sala. O almoço que nos serviu foi muitíssimo bom: de lagostas (enormes!) a caranguejo,
a calulu de peixe com funge, passando por lulas recheadas e muitas outras
iguarias, não esquecendo as sobremesas.
De barriga cheia fomos conhecer o deserto de areia ali mesmo na cidade.
Parámos na praia para um refrescante banho, infelizmente só aproveitado por uma
meia dúzia de participantes. Às 17h, um pequeno grupo separou-se da caravana e
foi até à igreja de Santo Adrião para participar na missa.
A primeira pedra desta igreja foi lançada oito dias antes da chegada da
1ª colónia de Pernambuco (Brasil), em 1849. A exigência de um templo
foi solicitada por Bernardino Freire de Figueiredo Abreu e Castro (chefe da expedição), ainda no
Brasil, como condição para a partida.
Nesta igreja estava reunido um grupo de carismáticos e a missa estava a
ser celebrada pelo bispo. Foi uma missa muito vivida, muito intensa que
continuou para lá da celebração. À saída, as pessoas juntaram-se no adro e
começaram a cantar, a dançar e a louvar o Senhor. É grande a religiosidade
deste povo.