terça-feira, 21 de outubro de 2025

Viagem à Sicília - Dia 9 - Siracusa

 

Teatro grego


 Que melhor maneira de começar o dia visitando o Parque Arqueológico de Neápolis? 

Neapolis em grego significa “cidade nova" e é a área arqueológica mais importante de Siracusa e um local imperdível para quem visita a cidade. Estende-se por uma área de cerca de 240 mil metros quadrados e concentra alguns dos monumentos mais significativos do período grego e romano da cidade.



Teatro Grego de Siracusa é uma das estruturas mais notáveis e um dos ex-libris do Parque Arqueológico de Neápolis.

A construção original do teatro remonta ao século V a.C. (período clássico grego). Foi substancialmente reconstruído no século III a.C., no período helenístico, sob o domínio de Hierão II.

 É um dos maiores teatros gregos e um dos mais bem preservados, com um diâmetro de cerca de 138 metros.

 Foi quase totalmente esculpido na rocha da colina Temenita (uma prática comum nos teatros gregos da Sicília), o que lhe confere uma acústica excecional.

 Podia acomodar até 15 mil espetadores e as suas bancadas (a cavea) eram divididas em nove setores.

No período grego, foi um centro vital da vida cultural e cívica da Magna Grécia. Sabe-se que o dramaturgo Ésquilo (autor de tragédias como Os Persas) encenou as suas obras em Siracusa, possivelmente neste local.

 Durante a época romana, o teatro foi modificado para receber novos tipos de espetáculos, incluindo jogos e combates.

No século XVI, tal como aconteceu com outros monumentos do parque, os seus blocos de pedra foram retirados e usados pelos espanhóis para construir fortificações na ilha de Ortígia. Apesar disso, a sua estrutura fundamental esculpida na rocha permaneceu intacta.

 O teatro é uma das poucas estruturas antigas que continua a ser usada para o seu propósito original. Anualmente, o Istituto Nazionale del Dramma Antico (INDA) organiza um famoso ciclo de representações clássicas (tragédias e comédias gregas), atraindo milhares de visitantes.

O Teatro Grego, juntamente com a Ara de Hierão e a Orelha de Dionísio, constitui o núcleo principal do Parque Arqueológico de Neápolis.


Ara de Hierão II

 A Ara de Hierão II (Ara di Ierone II), ou Grande Altar de Siracusa, é um altar monumental de sacrifício também aqui localizado. 

Foi construído durante o período helenístico por ordem do Rei Hierão II de Siracusa (que governou de 270 ou 265 a.C. a 216 a.C.).

 É o maior altar conhecido da Antiguidade, medindo aproximadamente 196 metros de comprimento e 23 metros de largura.

 Foi provavelmente dedicado a Zeus Eleutério (o Libertador), comemorando a queda do tirano Trasíbulo em 466 a.C. e, possivelmente, o 500º aniversário da fundação de Siracusa.

 Servia como um local para grandes sacrifícios públicos, como o sacrifício de 450 bois em simultâneo (um ato de grande piedade e ostentação do poder do governante).

 Atualmente, resta principalmente a base da estrutura. Grande parte da superestrutura de blocos foi removida no século XVI para ser utilizada na construção de fortificações espanholas na cidade.

 A sua construção serviu também para engrandecer o próprio Hierão II, demonstrando a sua riqueza e fervor religioso, e representa o culminar de uma tradição grega siciliana de altares monumentais.




Localizada na parte superior do Teatro Grego, a Gruta do Ninfeu (Grotta del Ninfeo) é uma gruta com nichos votivos e uma nascente, que se acredita ter sido o local do Mouseion (Templo das Musas).





 O Anfiteatro Romano é um dos maiores edifícios do género na Sicília

A estrutura elíptica (oval) usada para jogos de gladiadores, batalhas navais simuladas (naumaquia) e caçadas de animais (venationes).

 Possui a forma elíptica (oval), característica dos anfiteatros romanos (como o Coliseu em Roma).

  

As suas dimensões externas são monumentais, medindo cerca de 140 por 119 metros.

 A sua construção remonta à Época Imperial Romana (provavelmente entre os séculos III e IV d.C.).

 Foi parcialmente escavado na rocha do Monte Temenite, embora a parte superior (em alvenaria) tenha sido quase completamente destruída ao longo dos séculos.

 No centro da arena, existe um poço retangular (originalmente coberto) que servia para a elevação de equipamentos, animais ou dos próprios gladiadores antes dos espetáculos.

Tal como o teatro grego, a  estrutura do teatro romano sofreu uma grande espoliação no século XVI, quando os espanhóis removeram os blocos de pedra para construir fortificações na ilha de Ortígia. Por isso, o que resta hoje é principalmente a base escavada na rocha.



As Latomie del Paradiso (Pedreiras do Paraíso) eram antigas pedreiras a céu aberto, de onde se extraía a rocha calcária e que também serviram como prisões (a mais famosa acolheu mais de 7 mil prisioneiros atenienses).



 A Orelha de Dionísio (Orecchio di Dionisio) é uma caverna artificial famosa, localizada dentro do Latomia do Paraíso (Latomia del Paradiso), escavada na rocha calcária como parte de uma antiga pedreira (latomia).

Possui uma forma sinuosa e irregular, que se estreita em direção ao topo, semelhante, de forma vaga, à forma de uma orelha humana (o que inspirou o seu nome).

Tem cerca de 23 metros de altura e se estende por aproximadamente 65 metros de profundidade.

A característica mais notável da caverna é a sua acústica extraordinária. A forma e as dimensões da caverna amplificam os sons em seu interior de forma espetacular. Um sussurro no fundo da caverna pode ser ouvido com clareza no seu exterior ou em pontos específicos no topo.

O nome "Orelha de Dionísio" foi atribuído pelo pintor italiano Caravaggio em 1608, quando visitou o local. Ele a batizou em homenagem à lenda do tirano Dionísio I de Siracusa (século IV a.C.).

 A lenda conta que Dionísio usava a caverna como prisão para seus inimigos políticos. Devido à acústica, ele supostamente podia sentar-se em um orifício no topo da caverna (onde a acústica amplificadora seria mais eficaz) e espionar as conversas secretas dos prisioneiros.

O tirano podia, assim, descobrir planos de fuga ou conspirações tramadas contra ele, sem que os prisioneiros soubessem que estavam a ser ouvidos.


 A Grotta dei Cordari (Gruta dos Cordeiros) é outra das latomias, usada historicamente por cordoeiros (que torciam cordas) por causa da humidade e temperatura constante. Não a ou demos ver porque se encontra atualmente, vedada ao público devido à segurança.


À tarde mudámos o registo e visitámos três igrejas. 



O principal ponto de interesse da igreja de Danta Lúcia do Sepulcro é o quadro "O Enterro de Santa Luzia" (Il Seppellimento di Santa Lucia), uma obra colossal de Michelangelo Merisi da Caravaggio (1608-1609).

 Este quadro, pintado por Caravaggio durante a sua estadia em Siracusa, tem uma importância histórica e artística imensa e é o principal tesouro da igreja. 



Ainda fomos até à Igreja das Lágrimas de Siracusa, na verdade, a Basílica Santuário de Nossa Senhora das Lágrimas (Basilica Santuario Madonna delle Lacrime), um importante santuário mariano em Siracusa.

O santuário foi construído para comemorar um evento prodigioso que terá ocorrido em 1953: a lacrimação milagrosa de uma pequena efígie de gesso representando o Imaculado Coração de Maria, que se encontrava na casa de um jovem casal de Siracusa, Angelo Iannuso e Antonina Giusto.



Entre 29 de agosto e 1 de setembro de 1953, a imagem de gesso terá vertido lágrimas por quatro dias. O fenómeno foi testemunhado por multidões e examinado por uma comissão científica, que analisou o líquido e o classificou como tendo a composição de lágrimas humanas.

O Santuário foi erguido para abrigar a efígie milagrosa. A pedra fundamental foi colocada em 1954, mas a construção da grande basílica moderna levou décadas. O projeto, vencedor de um concurso internacional, é de autoria dos arquitetos franceses Michel Andrault e Pierre Parat.

 A basílica é uma imponente estrutura moderna, com cerca de 103 metros de altura, que domina o horizonte da cidade. A sua forma particular é frequentemente interpretada como um farol, uma tenda de acolhimento ou, simbolicamente, uma lágrima.

O templo superior (Basílica) foi inaugurado e consagrado em 6 de novembro de 1994 pelo Papa João Paulo II (então Cardeal Karol Wojtyła já havia visitado o local em 1964). Em 2002, João Paulo II elevou o santuário à dignidade de basílica menor.

A figura da Virgem é guardada na parte superior do Santuário. A estrutura também inclui uma cripta e um museu que preserva os ex-votos e os objetos ligados ao evento da lacrimação.

É um local de grande devoção e peregrinação, reconhecido pela Igreja Católica.



Por fim, passámos para igreja- ossário de São Tomás ao Panteão (Chiesa di San Tommaso al Pantheon), popularmente conhecida pelos siracusanos simplesmente como "o Pantheon" de Siracusa.

O principal significado desta igreja é o de ser o Monumento aos Caídos de Siracusa na Primeira Guerra Mundial. No seu interior repousam os restos mortais de soldados siracusanos que pereceram na frente durante a primeira grande guerra, havendo várias lápides comemorativas em sua memória.

 Foi construída a partir de 1919, sob o projeto do arquiteto Gaetano Rapisardi. Caracteriza-se por um estilo arquitetónico racionalista e moderno, com uma planta circular de nave única. A estrutura é imponente e se destaca com grandes pilares e janelões.

 É uma igreja paroquial ativa, servindo à comunidade local e funcionando como um local de homenagem e oração em memória dos falecidos em combate.