sexta-feira, 18 de junho de 2021

Tenerife, vulcões e… um pouco de Portugal

O Teide emvolto em neblina

A Ilha de Tenerife é a maior das sete ilhas que formam o arquipélago das Ilhas Canárias. Quando pensamos em Tenerife, vem-nos logo à ideia vulcões, praias de areia preta, mas nunca associamos a Portugal. E, no entanto, estamos bem ligados. A começar por um dos pratos mais típicos da ilha: o mojo verde e o mojo rojo, que acompanham todos os pratos, especialmente as papas arrugadas. Como assim? Nos primórdios do seu povoamento, esta ilha teve influência portuguesa, que se manteve até hoje. 
Quem me chamou à atenção foi a nossa guia, Maria. Estávamos a atravessar o bosque de pinheiros antes de se chegar à famosa paisagem lunar salpicada de vulcões, quando ela me falou da importância do negócio da resina durante mais de 300 anos e que esteve nas mãos de famílias portuguesas. “Os Portugueses sabiam como extrair a resina dos pinheiros e como ela era importante para a impermeabilização dos barcos”. Mas sobre as influências portuguesas falaremos mais adiante. Comecemos pelo princípio. 


Como surgiram as ilhas? 
Há 20 milhões de anos estas ilhas atlânticas, como muitas outras, não existiam. Mas após uma forte erupção vulcânica surgiu a ilha de Fuerteventura, a primeira ilha do arquipélago a separar-se de África e a que está mais perto da costa africana, a somente 100 km. Seguiram-se as outras ilhas e ilhotes e, há 3 milhões de anos, novamente após uma erupção vulcânica três destes ilhotes fundiram-se e formaram a ilha de Tenerife. 
Ao longos dos anos, a ilha foi mudando de tamanho, de forma e de altitude – sempre devido à atividade vulcânica. Vários montes foram saindo da água, outros foram colapsando para a água. Há 200 mil anos, saiu da água o Teide, o monte mais jovem da ilha – e, com os seus com seus 3 718m, a montanha mais alta de toda a Espanha. No total há mais de 320 pontos de vulcões em Tenerife! 





O povoamento 
Numa ilha onde só há vulcões, a vida era muito inóspita para o ser humano. Ao início só havia alguns animais endémicos, como lagartos, ratos ou tartarugas. 
Os vestígios mais antigos da presença humana na ilha de Tenerife datam do século X a.C. O povoamento permanente da ilha ocorreu provavelmente de forma contínua ou em várias ondas entre o século V a.C. e o século I d.C. Devido à proximidade da costa africana, sempre houve povos visitavam a ilha. Os Romanos paravam muitas vezes em Nivaria, o nome que davam à ilha a partir da palavra nix, nivis, que significa "neve", numa referência à neve, quase que perpétua no topo do vulcão El Teide. O nome atual de Tenerife também se refere ao vulcão. Os Guanches, um povo da ilha vizinha de La Palma, chamavam ao Teide “Tene” (“montanha”) e “ife” (“branca”), tendo sido o “r” adicionado pelos Espanhóis. Para os nativos de Tenerife, a ilha era chamada Chenech, Chinech ou Achinech. 
Pedras pedras pedras
Entre o século I a.C. e o século I d.C., existiam estreitos laços económicos entre a zona mediterrânica e as Ilhas Canárias. O mais tardar com a crise imperial do século III no Ocidente, as relações das ilhas com a Europa chegaram ao fim. 
Como os Guanches, os habitantes originais da ilha de Tenerife, não tinham qualquer conhecimento náutico, as ligações entre as ilhas também se romperam. Durante os mil anos seguintes, os Guanches de Tenerife estiveram praticamente isolados e desenvolveram uma cultura claramente distinta dos canários das outras ilhas. Por altura das Descobertas havia em Tenerife nove pequenos reinos guanches, denominados menceyatos. Uma expedição patrocinada pelo nosso rei D. Afonso IV visitou as Ilhas Canárias em 1341. Um relato disto, provavelmente escrito por Niccoloso da Recco, um dos líderes desta viagem, dá informações precisas sobre as peculiaridades de algumas das ilhas. 
Em 1345 Portugal reclamou a posse das ilhas, pois enquadravam-se no plano expansionista do país. Sucederam-se vários conflitos com os castelhanos, que também reclamavam todas as ilhas do arquipélago. 
D. Beatriz de Portugal, mãe de D. Manuel I, teve um papel ativo na política, que se estendeu ao reinado de três reis (D. Afonso V, D. João II e D. Manuel I). Sendo Infanta de Portugal e Duquesa de Beja, ajudou a concretizar as pazes com Castela, encontrando-se pessoalmente com a sobrinha, a rainha Isabel de Castela na vila de Alcântara em 1479 para discutir o que veio a ser o Tratado das Alcáçovas, o primeiro do género, que regulamentava a posse de terras ainda não descobertas, ao abrigo do qual as Canárias passavam para o domínio castelhano, mas em contrapartida do que daí para Sul tudo era português. Este tratado foi a base do futuro Tratado de Tordesilhas. 
Quando Colombo saiu de Palo em agosto de 1492 na sua primeira viagem, dirigiu-se para o arquipélago das Canárias, tendo aportado em Gomera (Gomeira), que era a ilha "portuguesa" das Canárias, onde o Infante D. Henrique criara uma base para as suas explorações atlânticas. Foi aliás desta ilha que ele observou uma erupção vulcânica em Tenerife.

Interesses económicos 
Mas que interesses económicos havia em Tenerife, uma ilha dominada totalmente por vulcões, sem riquezas do subsolo, e com dificuldades de produção agrícola, devido à natureza vulcânica do solo? 

Torre de joias encarnada
Torre de joias encarnada
 

Além de algumas plantas endémicas, como a belíssima torre de joias, ou viperina de Tenerife (“tajinaste”, em castelhano), há uma série de plantas introduzidas pelos Europeus há 400 anos, entre elas as amendoeiras, as figueiras e os catos chumbeira, também conhecidos por figueira-da-índia. Estes catos, trazidos do Novo Mundo, do México, estiveram na base de um grande negócio que rapidamente se espalhou por toda a ilha: o fabrico de colorante carmim, tanto para a indústria alimentar como para a indústria têxtil. Não que o cato fosse a base do carmim, mas sim a cochonilha, um pequeno inseto que vive nestes catos. Para se defender da predação por outros insetos, a cochonilha produz ácido carmínico, que extraído do seu corpo e ovos é utilizado para fazer o corante alimentício que leva seu nome. Porém, quando nos anos 1940 foram descobertos os corantes químicos, a indústria sofreu um grande revés. Muitas plantações de catos chumbeira foram abandonadas. Porém, alguns agricultores mantiveram-nas e mudaram o ramo da indústria com a qual colaboravam, passando a trabalhar os frutos para doce, marmelada e licor, e também para a indústria da cosmética e da saúde. 
Interessante que já na Antiguidade as Canárias eram procuradas pelos Romanos por causa de um líquen, urzela, comum sobre rochas costeiras nas ilhas desta região. A urzela produz um corante de cor púrpura (ou azul violáceo) que antes da invenção das anilinas sintéticas atingia grande valor para tingir têxteis. Para os Romanos era muito importante, pois usavam-no para tingir os tecidos com que faziam os mantos. 
Só como mera curiosidade, o valor da urzela era tal que nos Açores a sua produção era monopólio real, havendo severas penalidades para quem a contrabandeasse, sendo um dos mais importantes produtos de exportação das ilhas. O nome urzela deu origem a diversos topónimos nas ilhas atlânticas, entre os quais o da freguesia da Urzelina, na ilha de São Jorge. 
Não foram, porém, somente os catos que trouxeram riqueza económica à ilha. Os portugueses, que conheciam o segredo de extrair a resina e usá-la para impermeabilizar os barcos, expandiram as plantações de pinheiros-das canárias, uma planta endémica, e dominaram o negócio durante mais de 300 anos. 
Base do teleférico
Se o tempo o permitir, vale a pena tomar o teleférico que nos leva quase ao topo do vulcão Teide. Muitas vezes, porém, sopra a calima, um vento que vem do Saara que traz muito areia e torna a viagem impossível por razões de segurança. Se, por acaso, não conseguir subir, há sempre o plano B: uma visita ao Jardim Botânico, muito perto do local de onde o teleférico e onde pode ver as plantas endémicas da ilha. 
Torre de joias azul
Torre de joias encarnada
No caminho para o teleférico, há dois pontos de paragem obrigatória: Los Paleos e Roques de Garcia. 
Roques de Garcia é um local muito interessante. Parece a cratera de um vulcão, mas... não é. são formações rochosas excecionais localizadas no Parque Nacional do Monte Teide, Património Mundial da UNESCO desde 2007, e as suas formas verticais parecem guardiões da região. A área em redor de Roques de García é mais do que impressionante. À esquerda temos o Pico Velho, que tem uma elevação de 3 155 metros; e o majestoso Monte Teide fica à direita, com uma altura de 3 712 metros. Aliás o Roque Cinchado, localizado a cerca de 300 metros abaixo do cume do vulcão Teide, é formação rochosa mais famosa da ilha, pois a sua imagem, com o Teide atrás, estava nas notas de mil pesetas. 



Estas formações rochosas únicas foram criadas por milhões de anos de erosão que dividiram a grande caldeira vulcânica Las Cañadas em duas crateras (ou chaminés vulcânicas). Com o tempo, as formações rochosas foram absorvendo vários materiais vulcânicos que parecem ter pertencido a um imenso vulcão antigo que existia antes do Monte Teide. Muitas espécies vegetais endémicas agarram-se às formações rochosas, colonizando este mundo de lava. Aqui há grandes populações de lagartos, especialmente de lagartos Gallot. 
Las Cañadas e a planície de Ucanca, criada por pedra sedimentar, são os limites das caldeiras vulcânicas históricas que foram sofrendo erosão ao longo do tempo. Esta paisagem lunar foi a escolhida para algumas das filmagens do filme Confronto de Titãs (2010). 

Batatas 
Do Novo Mundo chegaram as batatas às ilhas Canárias e aí encontraram terreno fértil. As batatas passaram a ser a base da alimentação canarina. É aqui que se encontram o 2º maior número de variedades do mundo, mais de 300! 
Não nos admiramos assim de ver as papas arrugadas (“batatas enrugadas”) comidas com mojo verde (molho verde) ou com mojo picón (molho picante). Têm o aspeto das nossas as batatas ao murro. Usam-se batatas pequeninas, como as batatas novas, que se cozem com pele - antigamente em água do mar, atualmente em água com muito sal (para 1 kg de batatas, 300 g de sal grosso marinho!!!!) que se deixa evaporar, deixando as batatas enrugadas e com uma ligeira camada de sal. 
Sanchocho de cherne
O mojo verde (a palavra mojo vem da palavra portuguesa “molho”!) é feito com coentros e o mojo picón com pimentos picantes. Uma delícia! Acompanham muitos pratos como sanchocho de cherne, cherne cozido em água e especiarias ou conejo en salmorejo (coelho em marinada) – há tantos coelhos na ilha (não têm inimigos naturais!) – este salmorejo é a marinada onde o coelho fica a ganhar sabor e nada tem a ver com o salmonejo andaluz. 
E como se preparam as papas arrugadas? Leve ao lume numa panela alta 1 kg de batatas novas pequenas, 300 g de sal e 1 l de água quente. Deixe as batatas cozer em lume alto durante 25-30 minutos. Escorra a água e leve ao lume para secar totalmente as batatas. E o mojo verde? Muito fácil.
Papas arrugadas con mojo verde y mojo rojo
Antigamente era todo feito à mão. Hoje em dia utiliza-se a varinha mágica, um copo liquidificador ou a 1-2-3. Coloque num copo liquidificador 1 molho de coentros, 8 dentes de alho, 250 ml de azeite, 35 ml de vinagre, 1 colher de café de cominhos moídos e 1 colher de café de sal e reduza a puré. Está pronto.
O mojo picón faz-se assim: Coloque num copo liquidificador 8 dentes de alho, 2 pimentos picantes (2 pimientas piconas ou pimienta de la puta madre, típicas nas Canárias), 150 ml de azeite, 20 ml de vinagre, 1 colher de café de cominhos moídos, 1 colher de sopa de pimentão doce e 1 colher de café de sal e reduza a puré. Está pronto.

Barraquito

Para terminar a refeição nada como um barraquito: café com leite condensado, canela, licor 43, leite batido em espuma e casquinha de limão. Uma delícia!

 

quarta-feira, 2 de junho de 2021

Um raio de esperança – Tenerife abre-se ao turismo



Como muitos outros destinos, Tenerife tem sido afetada pela pandemia e a crise mundial do turismo, daí resultante. Durante meses e meses, esta ilha canarina esteve vazia, com apenas uma mão cheia de hotéis abertos.

David Pérez, CEO do Turismo de Tenerife, está otimista de que já se vê a luz ao fim do túnel.

David Perez (Fonte: Aviation-Event)

Tenerife é conhecida como um paraíso natural, um destino preferido por viajantes que gostam de atividades ao ar livre - golfistas, caminhantes, alpinistas, ciclistas – desportos que ase podem fazer durante todo o ano, graças ao clima suave da ilha.

Como arranque da retoma, trouxe para a ilha o Aviation-Event, Tenerife 2021 a conferência internacional para a indústria da aviação, que irá ter lugar para a semana, e onde irão presentes quase todos os decisores das companhias de aviação e dos aeroportos europeus.



Será que este evento vai ser o ponto de partida para a retoma? O Turismo de Tenerife está confiante que sim. Ainda há obstáculos a vencer, como por exemplo, a obrigatoriedade de testes COVID, tanto para entrar em Tenerife como para regressar aos países de origem, e que quarentenas, nalguns países após o regresso. Mas já se sentem os ventos da esperança.

quinta-feira, 6 de maio de 2021

Seychelles


Desde o dia 25 de março, as Seychelles estão abertas a todas as nacionalidades. Tal significa que o paraíso está agora à nossa espera!

Seychelles. 115 ilhas de todos os tamanhos no meio do Oceano Índico, com fauna e flora únicas. A maior, Mahé, tem somente 27 km de largo, mas 65 (!) praias paradisíacas. A capital do arquipélago, Victoria,  fica nesta ilha e é aqui que também se encontra o aeroporto internacional, donde também se voa para as outras ilhas.

A 2ª ilha é Praslin, com 11  km de largura. Fica a somente 15 minutos de avioneta ou aproximadamente 1 hora de ferry. Tem somente 7000 habitantes.  É uma ilha granítica, como todas as do Grupo Interior e, no meio das suas colinas encontra-se o esplêndido Valée de Mai (“Vale de Maio”), cuja reserva da natureza foi declarada  Património da Humanidade em 1984 pela UNESCO.





A 3ª ilha mais populosa é, porém, ainda mais pequena — e assim mais exclusiva. La Digue tem somente 5 km de largo e 2300 habitantes. Nesta ilha só se anda a pé, de bicicleta ou de carro de bois.

As outras ilhas do arquipélago são ainda mais pequenas, e são usadas no sistema 1 ilha—1 resort. A exclusividade é total.

Há também muitas ilhas coralinas onde só se vai em passeios de um dia.



As Seychelles estão fora da zona de ciclones. A temperatura da água ronda os 29º C durante todo o ano. A época das chuvas vai de novembro a fevereiro.

Férias passadas nas Seychelles correspondem a férias no paraíso. 48% do arquipélago está protegido em Reserva e Parques Nacionais.



Para tornar as férias ainda mais inesquecíveis poderá ficar no Anantara Maia Seychelles Villas https://www.anantara.com/en/maia-seychelles . São 30 villas isoladas, com mordomo particular, inseridas numa floresta tropical de 30 hectares. A praia é praticamente só para os clientes do hotel. Apesar de nas Seychelles as praias serem todas públicas, como o hotel foi construído numa península, só tem acesso à praia quem estiver no hotel — ou quem ali chegar de barco. Cada villa tem uma infinity pool. O sistema de   “tudo incluído” tem aqui uma significado muito próprio. As refeições são todas a la carte, disponíveis 24 horas por dia —anywhere, anytime.



Na ilha de Praslin, porque não ficar no  Constance Lemuria? https://www.constancehotels.com/en/hotels-resorts/seychelles/lemuria/diving/

 É um 5 estrelas com 105 suites e villas no coração duma densa vegetação tropical. Todas as villas têm piscina privada e estão a 15 metros da praia — vai sentir que a praia é só sua!

E como chegar às Seychelles? A Emirates tem a melhor ligação a partir de Portugal com transbordos curtos no Dubai. Os dois voos são feitos em aviões Boeing 777  com 8 lugares na First Class, 42 em Business e 310 em Economy.

Agora é mesmo só comprar o bilhete de avião e reservar o hotel! O Paraíso está à sua espera.



  https://issuu.com/m.margaridapereira-muller/docs/133_seychelles  


segunda-feira, 22 de março de 2021

Caminhadas pela Serra de Belas e Serra da Carregueira

O confinamento e a proibição de sair do concelho fez-nos puxar pela imaginação e descobrirmos a nossa própria freguesia. Há uns anos a nossa freguesia de Queluz juntou-se à de Belas e agora moramos na União de Freguesias Queluz e Belas.



Aqueduto 


Para darmos passeios noutros sítios que não as eternas matas da JAE e da matinha de Queluz, procurámos no mapa Google outras zonas verdes. Descobrimos assim a Serra de Belas, que na realidade se chama Serra da Carregueira. Há muitos trilhos que cortam a Serra da Carregueira. Num primeiro sábado estacionámos junto ao cemitério de Belas. Seguimos por um carreirinho. Primeiro obstáculo: uma ponte muito artesanal sobre um riacho (um braço do Jamor?) cujos acessos eram um tapete de lama escorregadia, a parecer manteiga derretida. Sem termos caído, continuámos e entrámos na mata de Belas. Logo depois chegámos ao Aqueduto de Belas, um dos aquedutos secundários que levam a água até ao Aqueduto das Águas Livres e que em parte aproveitam o aqueduto romano. Todo o caminho está ladeado de mimosas, a florir nesta época. Mimosas atraem abelhas e assim o nosso passeio teve música de fundo: o zumbir de milhares de abelhas. Um pouco mais à frente, numa eira, estão instaladas muitas colmeias dum apicultor local. Deve ser muito bom este mel. 

Continuámos até ao ponto mais alto serra, a 334 metros. Do cimo da torre de observação a paisagem é espetacular, podendo até ver-se o estuário do Tejo!

A torre de vigia

 


No dia seguinte voltámos a deixar o carro no cemitério e fomos para o lado oposto. Queríamos ir pela Quinta da Fonteireira mas.. chapéu! O portão estava fechado e com muitos, sim, muitos avisos de “Propriedade privada. Proibida a estrada”. Percebemos que não nos queriam lá dentro. Atravessámos então a estrada e seguimos em direção à Casa dos Lobos, igualmente fechada. Logo a seguir um riacho dificultava a passagem. Tinha chovido muito nos dias anteriores e o riacho estava um ribeirinho. Umas pedras, algumas delas bastante movediças, faziam um caminho, mas que apesar de tudo ainda deixariam os sapatos molhados. Não quis arriscar ficar com os ténis todos molhados logo no início da caminhada, descalcei-os e fui pelo meio da água. Chegada ao outro lado, sequei os pés nas calças de treino, calcei os sapatos e segui.

Chegámos a um portão que estava aberto. Na parede lateral um aviso de Propriedade privada. Mas vi um casal a passear um cão que não me pareceram serem os donos. Perguntei se poderíamos entrar e usar os trilhos. Disseram-nos que sim, que os donos não se importavam. Passámos então o portão. Um pouco mais ao fundo, um grande portão, fechado. Estávamos na Quinta do Bomjardim. De origem quinhentista, aqui se reunia, sob os auspícios dos condes do Redondo e Vimioso, a elite cultural dos séculos XVIII e XIX. A propriedade terá sido adquirida em 1587, edificando-se então a casa ao gosto renascentista. O pátio de entrada, de grandes dimensões, é antecedido por um arco de cantaria, encimado com o brasão dos Sousa do Prado, de época posterior. Não vimos nem o interior da casa, nem a capela com os seus painéis, alusivos à Paixão de Cristo, e com a Última Ceia, de barro cozido policromado, de Machado e Castro (século XVIII) – e que esteve em exposição ao público na Expo 98 - , nem os jardins em estilo francês que se desenham a partir da casa principal, em patamares de labirintos de buxo, organizados geometricamente em função dos tanques e fontes. Parece que dentro da propriedade ainda existe os restos de uma calçada romana.

Na semana seguinte, seguimos outro caminho. No final da descida que fizemos depois do estacionamento vimos a Fonte da Bica


Fonte da Bica

Depois, tomámos o caminho em frente da fonte. Passámos pela Old House

Old House


e depois caminhámos um pouco paralelo à Ribeira da Fonteireira. As águas cantavam, límpidas corriam por entre tufos de ervas. Um pequeno passadiço de pedras leva-nos ao outro lado da ribeiro, onde está uma mina de água. Será que é a mina de água já referida em 1892, por Alfredo Luís Lopes na obra "Le Portugal Hydrologique"?“na Quinta de Janses, existe uma grande profunda mina de água férrea, que borbulha de uma rocha de quartzo e pirite…” 

Mina de água



O dia está lindo. Parece que todos os  passarinhos se juntaram para, chilreando, louvar o dia maravilhoso que estava. As abelhas zumbem à volta das mimosas em flor, dum amarelo tão forte que fazem lembrar o sol. Borboletas amarelas e brancas esvoaçam à nossa volta e acompanham-nos em parte do nosso caminho, feito com muitas raízes de árvores e arbustos e com muitas pedras antigas que não sabemos se foram colocadas por mão humana ou se ali surgiram. 




Vista do cimo de um dos cabeços


Cogumelos






domingo, 14 de março de 2021

Da Praia Grande à Praia da Adraga pelas falésias

 

Praia Grande, vista da falésia dos dinossauros

O plano para hoje era um 8: deixar o carro estacionado na ponta sul da Praia Grande, junto à ENORME escadaria mesmo junto à falésia com as pegadas dos dinossauros, ir até à Praia da Adraga, voltar, descer a escadaria e fazer toda a Praia Grande (que não é tão grande assim).



O caminho é muito bonito porque é sempre no topo da falésia. É muito engraçado ver a Praia da Adraga do cimo. Tem-se uma perspetiva diferente, mas mantém toda a beleza. Lembras-te daquele rochedo com uma fenda ao meio, mesmo em frente ao restaurante? Há imenso rochedos de diversas formas isolados das arribas, já meio perdidos no mar, parecendo que estão à deriva no Atlântico. É uma prova geológica de como a erosão tem sido agressiva por aqui. Descemos até ao parque de estacionamento… para depois voltar a subir. Claro que a subida exigiu mais fôlego e mais trabalho de pernas…

Praia da Adraga, vista da falésia


Quando chegámos de novo ao carro (tínhamos feito metade do 8), estávamos no topo da dita escadaria da ponta sul da Praia Grande. Um grande cartaz informa quer é proibido circular por haver perigo de derrocada. A escadaria de 335 (!) degraus - exige fôlego para se subir (mas agora não é possível fazê-lo) está mesmo encostada à arriba, uma enorme parede de quase 100 m de altura, praticamente na vertical. Nesta arriba, uma rocha sedimentar calcária, há 66 pegadas de dinossauros. Há cerca de 120 milhões de anos havia neste local uma planície onde ficaram marcadas as pegadas nestas rochas sedimentares. Quando há cerca de 80 milhões de anos irrompeu o maciço da Serra de Sintra, estas rochas dobraram-se e ficaram quase na vertical mostrando as pegadas de dinossauros (saurópodes e terópodes).

Pelas falésias da Adraga

 Não queríamos ir contra a lei que proíbe a saída do concelho mas queríamos fazer uma caminhada junto ao mar. Temos a sorte de haver praias no concelho de Sintra e assim podermos fazer caminhadas na ou junto à praia sem infringir a lei. O plano era ir da praia da Adraga até à praia Grande sempre pelo topo da falésia.

O plano era deixar o carro no estacionamento ao pé do restaurante da praia da Adraga e depois caminhar. Mas a meio da descida para o restaurante, a estrada estava bloqueada… calculamos para impedir que as pessoas fossem à praia. Junto à rede que estava a fechar a estrada, já havia vários carros estacionados. Decidimos então também deixar o nosso. E em vez de seguirmos em frente à praia da Adraga, resolvemos subir o caminho que estava mesmo à nossa esquerda e que tinha uma seta a dizer “Cabo da Roca – 3200 m”. O Cabo da Roca? Será que se poderia chegar,  a pé, pelas falésias da Adraga ao cabo da Roca?!

Lá subimos o íngreme caminho. Muito vento. Mas mais vento houve quando chegámos ao topo, ao cima da falésia. Aí sim, o vento era agreste, frio e forte. Lembrei-me que há largos anos também tínhamos subido ao topo da falésia e que tínhamos visto um poço muito fundo com uma ligação mar. Lá estava ainda. É o Fojo dos Morcegos. Agora todo protegido para que ninguém lá caia abaixo.  Mas fojo? Nunca tinha ouvido a palavra. Fui então ao dicionário. “O Fojo é um abismo aberto na rocha de onde se pode observar no fundo a agitação das ondas.”

Fojo dos Morcegos


Como aquelas pedras são de origem calcária, vão abrindo frechas e falhas pela ação corrosiva da água da chuva, conjugada com a ação erosiva das ondas, que originam poços e cavernas, afunilados e profundos, até chegarem ao nível do mar. Este fojo é tão profundo (90 metros!!!!) e tão escuro que recebeu o nome de Fojo dos Morcegos. Há muitas lendas.

Crê-se que no fundo do Fojo dos Morcegos está uma nereida a cantar.

Uma outra lenda, do tempo dos romanos, diz-nos que os Romanos acreditavam existir um Tritão a tocar búzio no fundo do Fojo - mas na realidade, o que se ouve são as ondas a bater nas rochas. O fenómeno foi tão interessante que foi enviada uma embaixada ao imperador Tibério (entre o ano 14 e 34 d.C.) para relatar o que se passava naquele buraco.

Pensámos que haveria um caminho do Fojo até à praia da Adraga. Metemo-nos por meios dos arbustos, mas não chegámos a lado nenhum – só serviu para ficarmos com as pernas todas arranhadas.



Demos meia volta e resolvemos ir então em direção ao Cabo da Roca, o Promontorium Magnum dos Romanos, o ponto mais ocidental da Europa continental. O trilho percorre o topo da falésia e assim vamos sempre a ver o mar, cheio de ondas. Uma paisagem linda. Mas sempre a subir e a descer, num percurso acidentado, por vezes pouco visível no meio de arbustos (ai, as pernas!), que obriga a ir travando para não escorregarmos pelo caminho e a força nas de pernas nas subidas.  Temos de descer um caminho cheio de pedras que também vai dar à Praia da Ursa, cujo nome deriva de um dos enormes calhaus do areal, que lembra uma ursa a olhar o céu. Claro que também há uma lenda: Há vários milhões de anos, vivia aqui uma ursa com seus filhotes. Quando o degelo começou, os Deuses pediram à ursa e a todos os outros animais que abandonassem as zonas da costa, ordem que a ursa não respeitou. A fúria dos Deuses foi tal que decidiram petrificar a ursa e os filhos, e ali ficaram até hoje, representados no enorme rochedo e nos pequenos que pontuam à sua volta.

Para ir para o Cabo da Roca, não é preciso descer até à praia. Subimos a encosta mas, a certa altura, o caminho no topo da falésia termina e para chegar ao Cabo da Roca teremos de ir pela estrada de terra batida. Resolvemos voltar para o carro. No caminho, feito em parte na estrada de batida, ao lado da qual existem vinhas que fazem parte da Rota do Vinho de Calores e Carcavelos.

Foi uma caminhada linda. Ver do cimo da falésia o mar agitado em baixo é maravilhoso.