quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

MSC Euríbia, o navio mais sustentável da frota MSC, passou por Lisboa na sua viagem inaugural

 

@MSC Cruzeiros

Na sua viagem inaugural, o MSC Euribia, o  22º navio da frota da MSC Cruzeiros, a terceira maior marca de cruzeiros do mundo, completou a viagem de Saint-Nazaire a Copenhaga com zero emissões de gases de efeito estufa, graças à utilização do bio-LNG,  o combustível marítimo mais limpo atualmente disponível em escala, e pela aplicação de abordagem de balanço de massa. Tal foi realçado por Linden Coppell, Corporate Vice-President Sustainability and ESG da MSC Cruises.

Apesar dos seus 19 decks, 43 metros de largura, 2 419 camarotes e 35 000 metros quadrados de área pública, é o navio de cruzeiro com maior eficiência energética de todos os tempos, sendo o segundo navio da MSC Cruzeiros a ser movido a LNG, apresentando uma variedade de tecnologias e soluções ambientais de vanguarda que minimizam o impacto atmosférico e no ambiente marinho, incluindo sistemas avançados e tratamentos de águas residuais e gestão de resíduos. A água potável é 90% ganha da água do mar que é desalinhada e purificada. As águas sujas são tratadas a bordo numa pequena ETAR. Relembremos que o objetivo da indústria de cruzeiros é ser carbon-neutral até 2050.

@Isabel figueira


Visualmente, o MSC Euribia apresenta uma nova silhueta em relação aos outros navios da MSC com um cresco personalizado exclusivo intitulado #SavetheSea, pintado no seu exterior que celebra a dedicação contínua da MSC Cruzeiros ao mar e o compromisso de alcançar zero emissões até 2050.

Pertencendo ao grupo de navios da classe Meraviglia-Plus, o MSC Euribia oferece muitas experiências dinâmicas aos passageiros com recursos inovadores, instalações e entretenimento enriquecedor não só para os adultos, mas também para as crianças. Estas estão cada vez mais no foco da MSC. A área infantil foi totalmente repensada em relação aos outros navios: 700 metros quadrados de espaço interior inteiramente dedicado às crianças e adolescentes com sete salas, cada uma delas para diferentes faixas etárias dos 0 aos 17 anos. Grande novidade é o MSC Foundation Lab, uma nova área para crianças e um programa de atividades dedicado a educar crianças e adolescentes sobre temas ambientais. Água é essencial para as crianças e além de várias piscinas, os mais novos têm à sua disposição o Ocean Cay Aquapark, um dos maiores parques aquáticos no mar, com três escorregas.



Para relaxarem durante o dia, os adultos  têm à sua disposição o Carousel Lounge, localizado na popa do navio,   com um novo layout, oferecendo fantásticas vistas panorâmicas sobre o oceano. À noite, música ao vivo, com a Big Band at Sea, uma das maiores big bands do mar, ou um espetáculo de grande produção no Delphi Theatre, com 945 lugares, podem terminar o dia em grande.

Para as refeições, os passageiros têm à sua escolha 10 restaurantes, dos quais cinco restaurantes de especialidade, um bistrô francês e steakhouse, Le Grill, e o Kaito Sushi & Robatayaki, um dos pilares da MSC Cruzeiros que apresenta um robatayaki pela primeira vez. O navio tem ainda 21 bares e lounges com cinco áreas exteriores e 16 interiores.



Os passageiros poderão passear-se pela Galleria Euribia, a maior cúpula LED no mar, com uma grande variedade de lojas e restaurantes.

Galleria Euribia


A MSC Cruzeiros é a marca líder de cruzeiros na Europa, incluindo Portugal, na América do Sul, na região do Golfo e no Sul de África com mais market share, bem como a companhia de cruzeiros com maior crescimento no mundo, com forte presença nos mercados das Caraíbas, América do Norte e Extremo Oriente.

A prioridade número um da MSC em todas as suas operações sempre foi a saúde, segurança e o bem-estar dos hóspedes e tripulantes, bem como das comunidades nos destinos onde os seus navios operam. Em Agosto de 2020, a MSC Cruzeiros implementou um novo abrangente e robusto protocolo de Saúde, Higiene e Segurança para se tornar na primeira grande companhia de cruzeiros a regressar ao mar.

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Singapura também tem herança portuguesa

 

Igreja portuguesa de São José


Quando pensamos em Singapura, relacionamos sempre com a Grã-Bretanha. E temos razão. Singapura foi fundada como um posto comercial da Companhia Britânica das Índias Orientais por Sir Stamford Raffles em 1819 com a permissão do Sultanato de Johor. O Império Britânico obteve soberania completa da ilha em 1824. 

E, no entanto, os Portugueses estiveram lá antes. Quando os portugueses tomaram o controlo de Malaca em 1511, o Sultão de Malaca fugiu para sul e fundou o Sultanato de Johor, que incluía a ilha do que é hoje Singapura. Há registos de uma batalha naval entre navios portugueses e holandeses ao largo da costa de Singapura, em outubro de 1603, que os portugueses perderam. Em 1613, os portugueses destruíram a colónia malaia da ilha e o local ficou praticamente esquecido até à chegada de Sir Stamford Raffles em 1819.

Os Portugueses mantiveram, porém, um “pezinho” na ilha, através da religião. Em 1821, já existia uma pequena comunidade católica que incluía malaios de ascendência portuguesa. A sua ação era exercida por sacerdotes da Diocese de Malaca, criada em 1558, que sobreviveu à tomada de Malaca pelos holandeses protestantes aos portugueses em 1641. Por sua vez, a Diocese de Malaca era apoiada pela Arquidiocese de Goa e pela Diocese de Macau, áreas que os portugueses continuavam a controlar.

Em 1825, o P. Francisco da Silva Pinto e Maia, natural do Porto, mas em missão em Macau, aonde tinha chegado 12 anos antes, foi para Singapura e aí fundou a Missão Portuguesa. No enanto, a ação católica francesa também estava ativa no Sudeste Asiático, nomeadamente no Sião (atual Tailândia), Vietname, Laos e Camboja. Em 1831, o Vigário Apostólico do Sião, francês, reivindicou a jurisdição espiritual sobre Singapura, o que deu origem a uma disputa entre os ramos português e francês da Igreja Católica que se prolongou por vários papas. Finalmente, em 1886, a dupla jurisdição sobre Singapura foi clarificada por uma Concordata entre o Papa Leão XII e o rei português Dom Luís I, estipulando que "Todos os católicos de Malaca e Singapura, que estão sob a jurisdição de Goa, passariam para a jurisdição de Macau".




Curiosamente, a primeira igreja estabelecida em Singapura foi uma colaboração entre as missões portuguesa e francesa. Tratava-se de uma capela inaugurada em 1833 na Bras Basah Road, num terreno que viria a ser o local da escola masculina St. Joseph's Institution que os frades franceses De La Salle fundaram mais tarde, em 1852.

A Missão Portuguesa, sob a direção do Padre Vicente de Santa Catarina, obteve apoio britânico para construir uma igreja a algumas centenas de metros de distância, tendo a Igreja de S. José sido inaugurada em 1853. A pedra fundamental, lançada em dezembro de 1851, faz referência ao "25º ano do reinado de Dona Maria II - Rainha de Portugal" e ao "14º ano do reinado de Sua Majestade Britânica, a Rainha Vitória".

Com o crescimento da população de Singapura, a Igreja de S. José tornou-se demasiado pequena para a congregação e foi demolida em 1906, tendo sido construída no mesmo local uma igreja maior, em estilo manuelino (gótico tardio português), que foi consagrada em 30 de junho de 1912 pelo Bispo de Macau, D. João Paulino d'Azevedo e Castro.

Com a independência de Singapura em 1965 e a separação, em 1972, da Arquidiocese de Singapura da antiga Arquidiocese de Malaca – Singapura, terminou a dupla jurisdição com a assinatura dum acordo, em 1981, entre o Arcebispo de Singapura Gregory Yong e o Bispo de Macau Arquimínio Rodrigues da Costa para a transferência da Paróquia de São José para a Arquidiocese de Singapura. Para manter o carácter português da Igreja, a Diocese de Macau continuou a enviar sacerdotes para a Igreja de S. José até 31 de dezembro de 1999. Nessa altura, o Padre Benito de Sousa reformou-se e, simbolicamente, terminou a Missão Portuguesa em Singapura.

Capela dedicada a Nossa Senhora de Fátima


Mas a nossa herança em Singapura não se resume à igreja de São José. Há muitas palavras malaias de origem portuguesa e, eventualmente, um doce, a serikaya ou somente kaya.

Comecemos pelo doce. Há várias teorias sobre a origem deste doce malaio, feito à base de ovos e leite de coco. Há quem diga que tem origem no bolo alentejano sericaia. Será?

Alguns investigadores afirmam que este doce euro-asiático, que só existe em Singapura e na Malásia, foi originalmente adaptado de um doce de ovos português. Nesta adaptação, o leite de coco e as folhas de pandan foram utilizados em vez do leite e das vagens de baunilha, respetivamente. Outra fonte especula que a kaya se baseia na sobremesa portuguesa, a sericaia, que é feita de ovos, açúcar, leite e canela e tem um sabor semelhante. Só que… a sericaia é um bolo que vai a cozer ao forno e a serikayai é um doce de colher, ou melhor doce de barrar pão.

Outras fontes atribuem aos primeiros imigrantes de Hainan o desenvolvimento da kaya. Quando estes chegaram a Singapura no século XIX, muitos deles trabalharam como cozinheiros a bordo de navios britânicos, em casas de britânicos ou em hotéis geridos por europeus. Com o tempo, muitos destes imigrantes hainaneses começaram a estabelecer os seus próprios negócios, vendendo comida em cafés. Com base na sua experiência de trabalho para os europeus, adaptaram as suas compotas tradicionais de fruta ao sabor ocidental, criando a kaya para barrar as torradas.

Há também fontes que atribui às nonya (mulheres chinesas do Estreito ou de Peranakan) a transmissão o fabrico da kaya aos cozinheiros de Hainan que trabalhavam para famílias chinesas ricas do Estreito.

Mas também pode ser que tudo se tenha passado ao contrário, que tivesse sido o doce kaya a dar origem à nossa sericaia. Segundo se pode ler no portal da Direção Geral de Agricultura e Desenvolvimento, a receita da sericaia terá chegado a Portugal pela mão de D. Constantino de Bragança, vice-rei da Índia entre 1558 e 1561. Este doce era tradicionalmente levado ao forno em pratos de estanho, que ainda se encontram nas velhas casas senhoriais. Também o Khir Johari, político e antiga Ministro da Educação malaio, argumenta que a sericaia portuguesa ter-se-á inspirado na serikaya malaia, uma vez que a serikaya já era provavelmente um alimento básico nas casas reais malaias quando os portugueses contactaram pela primeira vez com o mundo malaio no século XVI.



 

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Cozinha portuguesa autêntica em Singapura

 





Quando viajo, gosto de experimentar novos sabores, novas texturas, novos modos de preparar partos e, por isso, normalmente nunca aconselho ir-se comer comida portuguesa quando se está temporariamente fora de Portugal. No enanto, há sempre exceções. E neste caso, não posso deixar de falar sobre o Lusitano, o restaurante português do chef Tiago Martins.

Tínhamos passado uns dias em Malaca, e no regresso a Singapura, talvez ainda imbuídos pelo espírito português dessa cidade malaia (que, verdade seja dita é mínimo…) fomos jantar ao Lusitano e conversar com o seu dono. Tiago Martins, natural do berço de Portugal, recebeu-nos com a hospitalidade bem típica portuguesa. De braços abertos, uma “mesa farta e boa pinga”. Que poderíamos querer melhor após uma viagem algo atribulada?


O ambiente acolhedor do restaurante fez-nos logo sentir bem-vindos. Alojado num ponta dum centro comercial, mas com porta para a rua, as paredes estão tapadas por milhares de garrafas de vinho, português, obviamente, o que nos faz logo esquecer que estamos num centro comercial. Olhamos à volta e vemos uma enorme variedade de vinho vindos de quintas do Norte a Sul do país.

Em 2019, após três décadas a trabalhar em diversos restaurantes no Norte do país, Tiago Martins decidiu fazer um corte geográfico e mudou-se de armas e bagagens para Singapura. Nesta metrópole asiática, começou por trabalhar no restaurante português Tuga, mas no final de 2022 sentiu que precisava de abrir as asas e voar para um local próprio. Com um sócio local, abriu o Lusitano onde serve a verdadeira cozinha portuguesa, sem cedências nem tentações de cozinha de fusão. 

Um dos aspetos do interior da sala


Os produtos essenciais são importados de Portugal ou de Espanha. Tiago Martins conta-nos como servir a verdadeira cozinha portuguesa é um desafio. Um exemplo, a batata. Aqui em Portugal pensaríamos que com esse ingrediente não haveria problemas. É porque não conhecemos a realidade asiática. As batatas na Ásia são duma espécie diferente das que encontramos em Portugal. Arranjar a batata ideal foi difícil, mas Tiago Martins conseguiu-o. O mesmo se passa com o arroz. Sabemos que o arroz é a comida básica na Ásia. Qual o problema então? Nós cozinhamos com arroz carolino, uma espécie que não existe nessa parte do mundo. E como Tiago não segue o caminho mais fácil, mas o correto, não utiliza basmati ou outro arroz asiático para fazer os pratos portugueses.


Ameijoas à Bulhão Pato


Nem poderia ser doutra maneira. Tiago Martins anda nestas lides desde os 13 anos. Aprendeu o básico da cozinha, ajudando a avó a cozinhar para a família. Começar a trabalhar no ramo, como empregado de mesa, passando rapidamente para a cozinha, donde nunca mais quis sair. Grandes cozinhas, preparando eventos para mil pessoas, ou cozinhas de pequenos restaurantes.


Polvo á lagareiro


E com que nos deliciámos quando aqui jantámos? As ameijoas à Bulhão Pato com o indispensável coentro estavam de comer e chorar por mais. As gambas com alho estavam gulosas. O polvo tenríssimo. O arroz de feijão bem malandrinho. Os secretos no ponto certo. O bacalhau à brás de repetir.



Gambas ao alho




Arroz de feijão malandrinho

Os vinhos são todos portugueses. Para aconselhar os clientes, Tiago Martins conta a preciosa ajuda duma escanção filipina, há muito radicada em Singapura que reconhece as castas no primeiro gole de vinho que bebe e conhece tão bem os nossos vinhos que façamos espantados ao saber que nunca esteve em Portugal.


No Lusiatno só se servem vinhos portugueses


No Lusitano temos assim a certeza de que encontramos uma cozinha portuguesa honesta, verdadeira, muito saborosa e servida com requinte

 

 

quinta-feira, 5 de outubro de 2023

Ilha das Flores, Açores - 3




Noite de temporal. Choveu copiosamente durante toda a noite com ventos de 50 km/horas e rajadas de 67 km/hora. Quando estávamos a sair de casa, passou por nós um carro com uma luzinhas amarelas. Seguimos em direção a Santa Cruz, como era o nosso plano. A dada altura a PSP para-nos. Um polícia diz muito educadamente que houve um deslizamento de terras e a estrada estava cortada. Teríamos de ir dar a volta pelas lagoas. 



Lá fomos. Só nevoeiro. Parte da estrada era um rio, mas conseguimos chegar à capital. 
 Em Santa Cruz, visitámos o Museu das Flores que está instalado no antigo Convento de São Boaventura. A história dos franciscanos nas Flores está ligada a três irmãos (dois frades franciscanos e um terceiro padre. A maior obra do padre, Inácio Coelho, foi a fundação do Convento de São Boaventura, para cuja construção doou as terras, tendo legado pie sua morte uma renda avultada para sustento dos frades. Parece que por trás deste gesto estava o cumprimento de um voto feito no dia de São Boaventura (14 de julho) de 1640 em que ele prometia fundar um convento se Portugal recuperasse a sua independência. 

As obras começaram em 1641, tendo a primeira missa sido celebrada a 2 de fevereiro de 1650. Em 1832, com a extinção das ordens religiosas, os frades mudaram-se para a Horta e o convento passou para a Fazenda Nacional. Em 1838, o convento foi comprado por um particular. Após ter passado por várias mãos é doado , em 1876, à Santa Casa da Misericórdia de Flores para que la se instalasse um hospital e um asilo de mendicidade. O hospital funcionou até meados do século XX. Na década de sessenta do século XX, abriu neste local uma escola, o externato da Imaculada Conceição, que fechou portas nos anos oitenta. O convento foi então restaurado e preparado para museu. O edifício tem uma fachada apalaçada. O claustro é quadrangular com janelas de varanda que lhe são sobrepostas. 


A igreja adjacente, dedicada a São Francisco, é um edifício relativamente amplo e alto, de planta retangular, sem transepto e nave única, cilíndrica, de madeira pintada. Os retábulos são em madeira de cedro dourada. No teto, feita igualmente de madeira de cedro, predomina uma decoração vegetalista e floral. Quando acabámos a visita, chovia de novo copiosamente. Que fazer até à hora do avião? Passear a pé não era opção. 


Ficámos então no carro, frente ao mar, revolto, as pensar nesta ilha, “perdida na lonjura do espaço e na bruma do tempo”.

Ilha do Corvo, Açores




 Uma aventura, a ida ao Corvo. 

A ilha mais pequena do arquipélago dos Açores, com uma superfície total de 17,13 km², 6,5 km de comprimento por 4 km de largura, foi  possivelmente descoberta por Diogo de Teive em 1452. Em janeiro do ano seguinte, Afonso V de Portugal doou as ilhas do Corvo e das Flores ao seu tio, Afonso I, Duque de Bragança

A primeira tentativa de povoamento do Corvo foi empreendida no início do século XVI por um grupo de 30 pessoas, lideradas por Antão Vaz de Azevedol, natural da ilha da Terceira, que mais tarde a  abandonaram. O mesmo sucedeu com um grupo de povoadores, também oriundos da Terceira, liderados pelos irmãos Barcelos. Mais tarde, em meados do século,  Gonçalo de Sousa, capitão do donatário das ilhas das Flores e do Corvo, foi autorizado a mandar para ilha escravos – provavelmente mulatos, oriundos da ilha de Santo Antão, arquipélago de Cabo Verde – de sua confiança como agricultores e criadores de gado.

Em 1570 foi construída a primeira  igreja. Por volta de 1580, colonos das Flores fixam-se no Corvo, que, a partir de então passou a ser permanentemente habitada, dedicando-se a população à agricultura, à pastorícia e à pesca.

Hoje em dia , o Corvo tem 384 habitantes. Este número aumenta durante o dia com a visita de turistas, vindos das Flores.

Nós também lá fomos numa viagem de um dia. Às 9h30 apresentámo-nos no Porto das Poças, onde estava atracado um barco de borracha, amarelo, com três filas de assentos que mais lembravam selas de cavalos. 


Depois de o skipper nos ter dado os coletes e de as nossas mochilas term sido postas a salvo da água, entrámos no barco e escarranchámo-nos nas “selas”. Partimos em grande velocidade sempre vendo a ilha do Corvo à nossa frente, qual cenoura em frente do nariz. A dada altura, o Skipper para o motor. 



Que se passa? Muitas famílias de golfinhos stenella, golfinhos pintados do Atlântico, ou teninhos, como carinhosamente lhes chamam os pescadores do Corvo, brincavam à volta do nosso barco. Os bebés golfinhos pulavam de divertimento.

Finalmente aproximámo-nos da ilha do Corvo. Do mar só se vêem escapas altíssimas. Parece que um bloco de rocha caiu ali no meio do oceano. Impressionante. A escarpa mais alta tem 700 metros de altura!


Numa fajã lávica , foi estabelecida a única povoação da ilha, a Vila do Corvo. No porto, três carrinhas esperavam os visitantes para os levarem até ao “caldeirão”. A ilha é formada por uma única montanha vulcânica extinta, o Monte Gordo,  coroado com uma ampla cratera de abatimento chamada localmente de Caldeirão, com 3,7 km de perímetro e 300 metros de profundidade e onde se aloja a Lagoa do Caldeirão com podem várias turfeiras e sete pequenas "ilhotas", duas compridas e cinco redondas. 

Depois de um pequeno passeio pelo rebordo do “caldeirão “, viemos a pé até à Vila do Corvo. Os 7 km , sempre a descer, presenteiam-nos com paisagens belíssimas das pastagens da ilha, com conjuntos de casas típicas antigas, com a ilha das Flores ao longe e com a própria vila ao fundo,  Com as suas hortas, pois do si é possível a agricultura na ilha  


Antes de regressar às Flores, visitámos ainda Igreja de Nossa Senhora dos Milagres, construída em 1795, que veio substituir a primitiva ermida. No seu interior, sobressaem a estátua da padroeira, obra flamenga do século XVI da escola de Malines, um Cristo em marfim e uma imagem em madeira de Nossa Senhora da Conceição.



 

A viagem a regresso foi “parque de entretenimento” puro. E ficámos tão molhados como nas montanhas russas de Orlando! O mar estava mais picado do que de manhã porque estava mais vento. Ondas de 2-3 metros. O barco subia as ondas e depois caía paf! no cavado entre ondas. E depois volta a subir e paf! a cair. E a onda entrava no barco, deixando-me a cara toda molhada. Oh, mar salgado… Sim, a água era mesmo salgada. Ficámos molhadas até aos ossos, mas divertimo-nos  imenso. Parecia montanha russa… no meio do oceano. Muito divertido.

A aproximação às Flores, pois pudemos ver de perto as escalas da ilha e algumas das muitas grutas.









quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Ilha das Flores, Açores - 2




Um dia de muita chuva e vento forte. Mesmo assim, mantivemos o nosso plano de ir descobrir a costa norte e nordeste da ilha. A linha costeira das Flores é muito recortada, formando grande número de baías, em geral de difícil acesso, muitos rochedos de formas bizarras. Dos inúmeros miradouros que existem no cima das falésias pudemos ir seguindo todo recorte da costa. 



A primeira grande paragem foi em Alagoas, com uma linda praia de pedras vulcânicas e um simpático parque de merendas cuja casa do guarda é uma antiga casa típica da ilha. Ai encontrámos uma família alemã que está a conhecer a ilha percorrendo os seus trilhos e pernoitando em tendas. 



Daí fomos para Pinta Ruiva, onde vimos a sinalização de “Museu”. Seguimos e… não vimos nada. Olhámos melhor e reparámos que na porta duma das casas estava uma chave. Batemos à porta. Ninguém respondeu. Rodámos a chave e a porta abriu-se de roldão. Assustámo-nos. Lá dentro estava escuro. Pensámos: Isto é uma casa particular   As pessoas ainda têm na mesa a louça do pequeno-almoço.  Encontrámos um interruptor e acendemos a luz. Uma casa velha, cheia de tralha amontada cheia de pó. O netos do dia a dia, da lavoura, da pesca, …Era o dito museu. 


Mas como surgiu o nome de Ponta Ruiva?

No século dezasseis, um pescador de uma povoação do Norte da ilha das Flores andava um dia a apanhar peixe, quando ouviu uma voz muito bonita de mulher a cantar por perto, mas numa língua que não conhecia. Ficou a cismar que por ali havia uma sereia. Logo espalhou pelo povoado a novidade e, pela maneira como falava da sereia, todos ficaram a pensar que ela encantava os homens. 
O pescador não pensava noutra coisa e, logo que pôde, poucos dias mais tarde, voltou à pesca, sonhando com a ideia de que havia de ver a sereia. Tinha acabado de lançar o anzol ao mar, quando começou a ouvir o canto que tanto o perturbava. Recolheu logo a linha e pôs-se a escutar com muito cuidado e a seguir o som. Por fim encontrou a dona de tão melodiosa voz. Não era uma sereia, como ele pensava, mas uma linda rapariga de olhos azuis, pele clara e sardenta e cabelos ruivos. Muito assustada, ao começo, nada disse, mas por fim o pescador ficou a saber a sua história. Era irlandesa e tinha-se escapado de um navio pirata, atirando-se ao mar quando tinha visto terra ali próximo. 
 O pescador ficou ainda mais encantado e, depois de conquistar a confiança da rapariga, voltou para casa, trazendo consigo a mulher mais bela que alguma vez a gente do lugar tinha visto. 
 Algum tempo mais tarde, o pescador casou com a “sereia” e deles nasceram muitos filhos, todos de olhos azuis e ruivos como a jovem irlandesa. 
 Assim àquele lugar da ilha das Flores se passou a chamar, por causa da cor dos cabelos de muitos dos seus habitantes, Ponta Ruiva e ainda hoje ali há muitas pessoas de pele clara, sardentas e de cabelos ruivos, como a rapariga irlandesa que um dia ali apareceu.



Sem termos visto a sereia, seguimos para Ponta Delgada (das Flores), parando de miradouro em miradouro. Fomos até ao farol de Albarnaz. O Plano Geral de Alumiamento e Balizagem considerava a edificação de um farol de 4ª ordem na Ponta Delgada. Não compartilhava desta opinião a Comissão de 1902, propondo antes, que fosse instalado um aparelho de 1ª ordem, na Ponta do Albarnaz. Não foi no entanto uma decisão pacífica a desta Comissão. Chegou a ser aventada a hipótese de instalar um aparelho hiper-radiante mas como a despesa era grande e a diferença dos alcances andava à volta de 3 a 5 milhas, não compensava de forma alguma optar-se por este tipo de aparelho. Acabou por ficar decidido instalar um aparelho de 1ª ordem como inicialmente era proposto. 

Em 1922 para a implantação do farol, foi feito um contrato amigável de expropriação de 5525 m2 de terreno, com João Lourenço, pela quantia de 3.500$00.

O farol do Albarnaz entrou em funcionamento em 28 de janeiro de 1925. Foi equipado com um aparelho lenticular, não de 1ª ordem como o previsto, mas de 3ª ordem, grande modelo (500 mm distância focal), sendo a fonte luminosa um candeeiro a petróleo de nível constante. A rotação da óptica era produzida pela máquina de relojoaria.

O candeeiro de nível constante foi substituído pela incandescência pelo vapor de petróleo em 1938.

Em 20 de janeiro de 1944 um avião militar despenhou-se no mar muito perto do farol.

O farol foi eletrificado através de grupos eletrogéneos em 1956.

Em 1959 foi instalado um telefone. Para a ampliação das instalações do farol, foram comprados em 1968 ao padre João de Deus, 200 m2 de terreno pela quantia de 1000$00.


Pesca à baleia nas Flores



No final do passeio fomos ainda visitar o Museu Fábrica da Baleia do Boqueirão, rmSanta Cruz das Flores. Como começou essa atividade nas Flores? 

José Constantino da Silveira e Almeida importou botes dos EUA em 1856 e capturou a primeira baleia em Santa Cruz em 1869, sendo nos Açores o primeiro armador de estações localizaras em terra.  O êxito da campanha animou outros indivíduos para esta atividade . Em 1864, já havia três armadores. A rápida multiplicação de armações levou à escassez de baleeiros, conhecedores e experimentados, o que conduziu a fracos resultados. 

O início do século XX foi fatal para esta atividade económica. Os armadores venderam os botes para o Faial e para o Pico. A I grande Guerra fez aumentar o preço do óleo da baleia e novos armadores lançaram-se para reativar a pesca. 

O facto de os botes poderem ser atingidos pelas barbatanas caudais dos cachalotes fazia parte da baleação. O Grémio dos Armadores da Pesca da baleia exigia de cada baleeiro uma declaração de que sabia nadar antes de poder ir à baleia. Daí talvez ter havido tão poucos acidentes fatais. 


Em 1981 foi capturada e transformada última baleia.