Quando viajo, gosto de
experimentar novos sabores, novas texturas, novos modos de preparar partos e,
por isso, normalmente nunca aconselho ir-se comer comida portuguesa quando se
está temporariamente fora de Portugal. No enanto, há sempre exceções. E neste
caso, não posso deixar de falar sobre o Lusitano, o restaurante português
do chef Tiago Martins.
Tínhamos passado uns dias
em Malaca, e no regresso a Singapura, talvez ainda imbuídos pelo espírito
português dessa cidade malaia (que, verdade seja dita é mínimo…) fomos jantar
ao Lusitano e conversar com o seu dono. Tiago Martins, natural do berço de
Portugal, recebeu-nos com a hospitalidade bem típica portuguesa. De braços
abertos, uma “mesa farta e boa pinga”. Que poderíamos querer melhor após uma
viagem algo atribulada?
O ambiente acolhedor do
restaurante fez-nos logo sentir bem-vindos. Alojado num ponta dum centro comercial,
mas com porta para a rua, as paredes estão tapadas por milhares de garrafas de
vinho, português, obviamente, o que nos faz logo esquecer que estamos num
centro comercial. Olhamos à volta e vemos uma enorme variedade de vinho vindos
de quintas do Norte a Sul do país.
Em 2019, após três décadas a trabalhar em diversos restaurantes no Norte do país, Tiago Martins decidiu fazer um corte geográfico e mudou-se de armas e bagagens para Singapura. Nesta metrópole asiática, começou por trabalhar no restaurante português Tuga, mas no final de 2022 sentiu que precisava de abrir as asas e voar para um local próprio. Com um sócio local, abriu o Lusitano onde serve a verdadeira cozinha portuguesa, sem cedências nem tentações de cozinha de fusão.
Um dos aspetos do interior da sala |
Os produtos essenciais são importados de Portugal ou de Espanha. Tiago Martins conta-nos como servir a verdadeira cozinha portuguesa é um desafio. Um exemplo, a batata. Aqui em Portugal pensaríamos que com esse ingrediente não haveria problemas. É porque não conhecemos a realidade asiática. As batatas na Ásia são duma espécie diferente das que encontramos em Portugal. Arranjar a batata ideal foi difícil, mas Tiago Martins conseguiu-o. O mesmo se passa com o arroz. Sabemos que o arroz é a comida básica na Ásia. Qual o problema então? Nós cozinhamos com arroz carolino, uma espécie que não existe nessa parte do mundo. E como Tiago não segue o caminho mais fácil, mas o correto, não utiliza basmati ou outro arroz asiático para fazer os pratos portugueses.
Ameijoas à Bulhão Pato |
Nem poderia ser doutra maneira. Tiago Martins anda nestas lides desde os 13 anos. Aprendeu o básico da cozinha, ajudando a avó a cozinhar para a família. Começar a trabalhar no ramo, como empregado de mesa, passando rapidamente para a cozinha, donde nunca mais quis sair. Grandes cozinhas, preparando eventos para mil pessoas, ou cozinhas de pequenos restaurantes.
Polvo á lagareiro |
E com que nos deliciámos
quando aqui jantámos? As ameijoas à Bulhão Pato com o indispensável coentro
estavam de comer e chorar por mais. As gambas com alho estavam gulosas. O polvo
tenríssimo. O arroz de feijão bem malandrinho. Os secretos no ponto certo. O
bacalhau à brás de repetir.
Gambas ao alho |
Arroz de feijão malandrinho |
Os vinhos são todos
portugueses. Para aconselhar os clientes, Tiago Martins conta a preciosa ajuda
duma escanção filipina, há muito radicada em Singapura que reconhece as castas no
primeiro gole de vinho que bebe e conhece tão bem os nossos vinhos que façamos espantados
ao saber que nunca esteve em Portugal.
No Lusiatno só se servem vinhos portugueses |
No Lusitano temos assim a
certeza de que encontramos uma cozinha portuguesa honesta, verdadeira, muito
saborosa e servida com requinte