segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Cozinha portuguesa autêntica em Singapura

 





Quando viajo, gosto de experimentar novos sabores, novas texturas, novos modos de preparar partos e, por isso, normalmente nunca aconselho ir-se comer comida portuguesa quando se está temporariamente fora de Portugal. No enanto, há sempre exceções. E neste caso, não posso deixar de falar sobre o Lusitano, o restaurante português do chef Tiago Martins.

Tínhamos passado uns dias em Malaca, e no regresso a Singapura, talvez ainda imbuídos pelo espírito português dessa cidade malaia (que, verdade seja dita é mínimo…) fomos jantar ao Lusitano e conversar com o seu dono. Tiago Martins, natural do berço de Portugal, recebeu-nos com a hospitalidade bem típica portuguesa. De braços abertos, uma “mesa farta e boa pinga”. Que poderíamos querer melhor após uma viagem algo atribulada?


O ambiente acolhedor do restaurante fez-nos logo sentir bem-vindos. Alojado num ponta dum centro comercial, mas com porta para a rua, as paredes estão tapadas por milhares de garrafas de vinho, português, obviamente, o que nos faz logo esquecer que estamos num centro comercial. Olhamos à volta e vemos uma enorme variedade de vinho vindos de quintas do Norte a Sul do país.

Em 2019, após três décadas a trabalhar em diversos restaurantes no Norte do país, Tiago Martins decidiu fazer um corte geográfico e mudou-se de armas e bagagens para Singapura. Nesta metrópole asiática, começou por trabalhar no restaurante português Tuga, mas no final de 2022 sentiu que precisava de abrir as asas e voar para um local próprio. Com um sócio local, abriu o Lusitano onde serve a verdadeira cozinha portuguesa, sem cedências nem tentações de cozinha de fusão. 

Um dos aspetos do interior da sala


Os produtos essenciais são importados de Portugal ou de Espanha. Tiago Martins conta-nos como servir a verdadeira cozinha portuguesa é um desafio. Um exemplo, a batata. Aqui em Portugal pensaríamos que com esse ingrediente não haveria problemas. É porque não conhecemos a realidade asiática. As batatas na Ásia são duma espécie diferente das que encontramos em Portugal. Arranjar a batata ideal foi difícil, mas Tiago Martins conseguiu-o. O mesmo se passa com o arroz. Sabemos que o arroz é a comida básica na Ásia. Qual o problema então? Nós cozinhamos com arroz carolino, uma espécie que não existe nessa parte do mundo. E como Tiago não segue o caminho mais fácil, mas o correto, não utiliza basmati ou outro arroz asiático para fazer os pratos portugueses.


Ameijoas à Bulhão Pato


Nem poderia ser doutra maneira. Tiago Martins anda nestas lides desde os 13 anos. Aprendeu o básico da cozinha, ajudando a avó a cozinhar para a família. Começar a trabalhar no ramo, como empregado de mesa, passando rapidamente para a cozinha, donde nunca mais quis sair. Grandes cozinhas, preparando eventos para mil pessoas, ou cozinhas de pequenos restaurantes.


Polvo á lagareiro


E com que nos deliciámos quando aqui jantámos? As ameijoas à Bulhão Pato com o indispensável coentro estavam de comer e chorar por mais. As gambas com alho estavam gulosas. O polvo tenríssimo. O arroz de feijão bem malandrinho. Os secretos no ponto certo. O bacalhau à brás de repetir.



Gambas ao alho




Arroz de feijão malandrinho

Os vinhos são todos portugueses. Para aconselhar os clientes, Tiago Martins conta a preciosa ajuda duma escanção filipina, há muito radicada em Singapura que reconhece as castas no primeiro gole de vinho que bebe e conhece tão bem os nossos vinhos que façamos espantados ao saber que nunca esteve em Portugal.


No Lusiatno só se servem vinhos portugueses


No Lusitano temos assim a certeza de que encontramos uma cozinha portuguesa honesta, verdadeira, muito saborosa e servida com requinte