quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Os túmulos índios de Iowa (EUA)


Passeando-nos na floresta de Marquette, numa pequena elevação perto do rio Mississippi no estado de Iowa, vemos pequenos montes regulares. São tão discretos que quase que passam despercebidos. Ou pensamos que a Mãe-Natureza assim desenhou esta floresta. Mas estamos enganados. Estes montes formando efígies, silhuetas de animais, foram feitos pelos índios da região há 800 – 1400 anos como túmulos, atualmente protegidos e conhecidos como o “Effigy Mounds National Monument” que poderemos traduzir como” Monumento nacional dos túmulos em forma de silhuetas de animais”.

Os índios construíram túmulos durante várias épocas e em vários lugares, mas segundo os historiadores só os índios do Midwest os fizeram em forma de animais (pássaros, tartarugas, bisontes e, acima de tudo, ursos). Mas porque moldaram a natureza para estes túmulos-efígies?
Espalhados por 10 km² encontram-se 206 túmulos, dos quais 31 são em forma de animais e os restantes simplesmente cónicos. Estes são os mais bem conservados, não sendo porém os mais antigos. À medida que o povoamento do território avançava, os colonizadores iam usando as terras para a agricultura e mais tarde para as linhas férreas.

Túmulos cónicos (os “mounds”) começaram a ser construídos há 2 500 anos pelos chamados “índios das florestas”, tendo passado a dar-lhes a forma de silhueta de animais, efígies, há 1 400 anos. Seriam túmulos ou locais para cerimónias religiosas. Algumas lendas tribais falam do urso como o guardião da Terra e do pássaro como o guardião do Céu. Alguns historiadores pensam que estas efígies seriam o meio de ligação ente as pessoas (da terra) e os seus antepassados (que já tinham partido para o céu).

A construção destes túmulos parou por volta dos anos 1100-1200. Evidências arqueológicas revelam que houve nesta época uma grande transição cultural: estes povos passaram de caçadores-recolectores para sedentários. E a tradição da construção dos túmulos-efígies foi desaparecendo.

Felizmente sobreviveram alguns neste local sagrado de onde se tem uma fantástica vista sobre o Mississippi. Um local sagrado que dá a quem por lá se passeia momentos de paz interior e energia positiva.



sábado, 13 de outubro de 2018

Cedar Rapids, cidade da harmonia religiosa


O que tem para ver Cedar Rapids? Apesar de ser a 2ª maior cidade do estado de Iowa com mais de 126 mil habitantes, tem relativamente pouco que ver. Já tínhamos visitado o museu da imigração checa e ficado a saber tudo sobre os checos na região e a sua participação nas duas guerras mundiais. 
O Museu da Imigração Checa

Bandeiras checa e americana
Já tínhamos visto o filme sobre a transposição - por inteiro! - do edifício do museu da localização anterior para a atual após as grandes inundações de 2008. Já tínhamos cheirado – impossível não sentir o cheiro – os flocos de aveia da fábrica da Quaker Oats, situada no meio da cidade (e que infelizmente não se pode visitar). 
A fábrica da Quaker Oats


Já tínhamos passeado pelo bairro NewBo (New Bohemian). 

Já tínhamos passado pelo Museu Africano-Americano – mas não podido entrar por era o dia do fecho semanal. Que mais fazer? Parámos no Centro de Turismo e a funcionária já não sabia o que nos aconselhar mais. Até que disse algo que logo nos entusiasmou: The Mother Mosque of America.
Ligámos para a mesquita para saber se estaria aberta. Atendeu-nos o imã e capelão muçulmano da polícia de Cedar Rapids, Taha Tawil, palestiniano de Jerusalém. A mesquita iria fechar às 16h30. Eram 16h20. Dissemos que estávamos a 5 minutos de lá e se poderia esperar por nós.
Felizmente esperou e contou-nos longamente história da mesquita e um pouco da sua história pessoal.

O imã Taha Tawil a falar sobre a Palestina
A mesquita – que agora se chama a Mesquita-Mãe da América por ser a mesquita mais antiga construída para este fim e ainda em uso nos Estados Unidos – foi terminada a 15 de fevereiro de 1934. É um edifício pequeno, e que ainda serve como lugar de oração para 50 famílias muçulmanas, mesmo após ter sido construída a nova mesquita, maior, para a grande comunidade muçulmana de 2 000 famílias de Cedar Rapids.
Segundo os documentos históricos, o primeiro muçulmano a chegar ao Mundo Novo foi Estevancio, vindo como prisioneiro e capturado no Norte de África, Chegou com a expedição de Panfilo de Narvaez em 1527. Seguiram-se os escravos africanos – calcula-se que 10 a 40 por cento dos escravos que vinham de África eram muçulmanos, o que dará entre 600 000 e 1,2 milhões de pessoas. No entanto, estes muçulmanos africanos não deixaram comunidades autossustentáveis e a sua história praticamente se perdeu.
No último quartel do século XIX começou a imigração do Médio Oriente para os Estados Unidos, essencialmente da Síria, da Jordânia, da Palestina e do Líbano. Em 1914 havia em Cedar Rapids 45 árabes muçulmanos. Mas esse número foi crescendo e na década seguinte já havia 50 lojas árabes que vendiam produtos halal, permitidos pela religião. Em 1925, um grupo conhecido como “The Rose of Fraternity Lodge”, completamente integrado na sociedade americana mas mantendo a sua fé, alugou um edifício para ser usado temporariamente como mesquita. E foi nascendo o desejo de terem um local próprio para oração. Juntaram-se e construíram o edifício que ainda hoje está de pé e em uso que servia de mesquita e de centro social.
A comunidade muçulmana de Cedar Rapids nos anos 30-40 o século XX


Em 1948 foi inaugurado o primeiro cemitério nacional muçulmano em Cedar Rapids e que servia toda a região central do país, conhecida por mid-west. Anos mais tarde, o Islão foi reconhecido como uma religião válida o que permitiu que os muçulmanos deixavam de ter de ser enterrados como ateus.
Nos anos 70 do século XX, o número de famílias muçulmanos já era tão grande que foi necessário construir uma mesquita maior. O edifício antigo passou a ter outras funções: armazém, igreja. Nos anos 90, o edifício estava totalmente abandonado e em mau estado. O imã Taha Tawil lançou um apelo à comunidade para o salvar. O Conselho Islâmico de Iowa comprou-o, restaurou-o e integrou-o nos Registo de Edifícios Históricos. Todas as 6as feiras, um pequeno número de famílias ainda lá faz as suas orações. De resto serve como depositário da memória muçulmana da cidade. Mais: serve de ponto de união entre todas as religiões da cidade. A 26 de março de 2017 foi organizada uma manifestação multirreligiosa: cristãos, judeus, muçulmanos, budistas, deram as mãos e abraçaram em cadeia humana a mesquita mostrando ao mundo que se pode viver em paz, respeitando todos os credos.
O imã Taha Tawil a falar sobre a comunidade muçulmana da cidade








sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Riverside, a terra-natal do Comandante Kirk

Live long and prosper

Já ouviu falar do Star Trek, a série (e mais tarde, filmes) “Caminho das Estrelas”? Lembra-se de James Kirk, o comandante da nave Enterprise?
Nos seus livros, Gene Roddenberry, o criador de Star Trek, escreve que a personagem James Tiberius Kirk nasceu a 22 de março de 2228 numa pequena aldeia junto a um rio no estado americano de Iowa. Em nenhum livro surge o nome da aldeia.


Em 1984, o município de Riverside andava à procura e um tema para o seu festival anual. O vereador Steve Miller tinha lido todos os livros de Gene Roddenberry e propôs, numa reunião camarária, que Riverside se autoproclamasse a futura terra-natal de Kirk. A proposta de Steve Miller foi aprovada por unanimidade.
No dia seguinte, Steve Miller ligou para a Paramount, pediu para falar com Gene Roddenberry e fez-lhe a proposta: “Que tal Riverside passar a ser a terra-natal de Kirk, a tal aldeia junto a um rio no estado de Iowa?” Gene Roddenberry achou a proposta fantástica e o município começou logo a trabalhar.
Em 1985 teve lugar a primeira “Trek Fest”, um festival anual que se realiza em junho e que reúne fãs de Star Trek de todo o mundo – incluindo da Coreia do Norte!

A 27 de junho de 2008 foi criado o “Voyage Home Riverside History Center”, um museu dedicado ao Caminho das Estrelas e a futura casa-natal de Kirk



Reprodução dos selos






T-shirts da Trek Fest












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Na realidade, toda a aldeia adotou a ideia. O bar local Murphy’s adotou a nave Enterprise no seu logotipo. No parque junto ao campo de basebol foi erigida uma estátua do comandante Kirk. 
A estação dos correios local decorou-a com selos gigantes do Caminho das Estrelas. Enfim, toda a aldeia se movimentou e continua a movimentar à volta de Kirk e do Caminho das Estrelas.
Mas que aldeia é esta?
Riverside, atualmente com aproximadamente 1 000 habitantes, foi fundada em 1872 junto ao rio Inglês. O nome – convenhamos, com muito pouca imaginação - foi sugerido por um Dr. Mott por a povoação estar situada junto ao rio.


terça-feira, 9 de outubro de 2018

Preservar a natureza, meditar e encontrar a nossa espiritualidade



Será que Iowa City, uma pequena cidade americana num estado rural,  precisa de um oásis? De um lugar para as pessoas se reencontrarem consigo próprias e com a natureza?
Felizmente há quem pense no futuro do planeta e tenha sempre em mente o provérbio de Caxemira que diz “Não herdámos o mundo dos nossos antepassados, mas pedimo-lo emprestado aos nossos filhos”. Seguindo este lema, Doug e Linda Paul, empresários e sonhadores, compraram um terreno de 100 hectares  em Iowa City para evitar que fossem vendido para construção. E aí têm vindo a criar um ecossistema reproduzindo o ecossistema natural da região, a restaurar, a proteger e a preservar estas terras, a que deram o nome de The Harvest Preserve , como um santuário espiritual. É um terreno divino, sagrado onde as pessoas são convidadas para, em silêncio, sentirem a manifestação do Divino no meio da mãe-natureza.
"A Família" de Gene Anderson
Ao passearmos neste santuário sentimo-nos ligados à Terra, no meio das plantas originais das pradarias e dos bosques do midwest americano. Bandos de perus selvagens, esquilos, guaxinins, e outros animais sentem-se ali em casa.

O sentido da espiritualidade é incentivado pela coleção de arte espalhada pela propriedade. Em harmonia com a natureza contemplativa dos terrenos, The Harvest Preserve  convida os visitantes a apreciarem, estudarem e meditarem sobre cada peça. 

 “O homem no banco” de  Douglas J. Paul e J.B. Barnhouse 

Numa das esquinas, bem visível da estrada, temos a “Família” de  Gene Anderson. Do outro lado da estrada, “O homem no banco” de  Douglas J. Paul e J.B. Barnhouse convida-vos e fazer como ele: pararmos, sentarmo-nos e meditarmos.  

Logo à entrada a estátua “Salvamento” mostra-nos um grupo de crianças a salvar um gatinho preso no ramo de uma árvore. Mais adiante, outro grupo de crianças faz piruetas. São os Olympic Wannabes de Glenna Goodacre.

Olympic Wannabes de Glenna Goodacre

No entanto o ponto alto da coleção de esculturas é o conjunto denominado The sacred stone circle, onde, na realidade tudo começou. Trata-se de um conjunto de pedras pré-históricas em círculo (como os cromeleques) que vieram da ilha das Flores, na Indonésia, com mais de 4 000 anos. Em 2001, os habitantes da ilha quiseram ver-se livres das pedras, no seguimento da destruição dos budas de Bamiyan no Afeganistão pelos Talibans. Esta ilha é maioritariamente cristã mas quiseram fazer desaparecer objetos pagãos.
O círculo sagrado de pedras

Um galerista de arte falou com Doug Paul de Iowa City e disse-lhe que as pedras precisavam de um novo lar. Doug Paul tratou logo do caso. Num complicado e moroso (de mais de um ano!) processo trouxe para Iowa City por navio, comboio e camiões as pedras de basalto com tamanhos entre os 4 e os 8 metros e pesando entre 1,5 e 10 toneladas. E é aqui no meio deste círculo que somos chamados a fechar os olhos e deixarmo-nos envolver pela natureza até nos sentirmos um só elemento.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Os voos bem matinais

Há quem proteste, fique irritado e tudo faça para alterar o voo quando sabe que vai ter de viajar num voo bem matinal. um voo às 5 h de manhã significa levantar às 3 ou ainda mais cedo. Mas só reage assim quem não tem visão a longo prazo.
Um voo matinal para a Europa significa que chegamos ao destino  quando o dia começa e que ganhamos todo o dia no local para onde viajamos. Quer mais vantagens do que esta?
No caso de voos intercontinentais significa que, mesmo apesar das muitas horas de viagem, ainda chegamos ao destino com muitas horas do dia para desfrutar.
E que dizer da beleza que é ver do céu o nascer do sol?
Diga lá que não  é chique poder dizer que toma o pequeno-almoço em Portugal e vai almoçar a, digamos por exemplo, Chicago?
Pare de protestar e veja as vantagens dos voos bem matinais
Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer, E o mundo espera por nós.