Acordar e ver aos pés da cama o nascer do sol sobre o vale do fundão.
A viagem foi feita de noite. Ao sairmos da autoestrada entrámos
numa estada nacional com alguma (pouca) iluminação pública . Mas assim que saímos de Alcongosta éramos só nós e as
estrelas. De quando em quando uns olhitos brilhavam ano encontro com as luzes
dos faróis e logo a seguir víamos uma marta ou um coelhito a fugir.
Tínhamos de ir com atenção, pois a
entrada para o Glamping Natura, onde iria ser a base para explorarmos a zona,
está escondida numa curva à direita muito apertada.
Subimos a pequena estrada de terra
batida. Saímos do carro e o frio fez-se logo sentir, com um vento agreste a
bater-nos na cara. Estava 1º C! A receção estava calorosamente hospitaleira.
Atrás do balcão, Jorge deu-nos as boas vindas. E enquanto íamos fazendo o
processo de check-in, foi-nos contando histórias de fenómenos sobrenaturais,
UFO, mistérios, cosmódromos, serras ocas.
Depois levou-nos por um caminho
muito bem tratado até ao nosso domos, um iglo branco, grande. A porta não se
abre com a chave, mas com um fecho de correr. E logo a recomendação: mantenham
o fecho sempre fechado para que o domos não arrefeça.
Entrámos no quarto. Espaçoso. Com
uma cama virada para uma “parede” de plástico que nos permitia ver o mar de
luzes do vale do Fundão. Será que iríamos ser teletransportados como o Sr.
Américo Duarte dos Santos, o Guardião da Serra, que afirmou ter desvendado
os incríveis segredos da enigmática, Serra da Gardunha? Será que iríamos descobrir a entrada para a dita gruta no fundo
do qual existe uma mesa com sete cadeiras à volta? Ou mesmo a base das naves
dos extraterrestres que, segundo alguns, existe dentro da serra?
Tudo é possível. Dizem que a serra é
oca. Gardunha, o nome da serra, da palavra árbae guardunha que significa
“refúgio”.
O magnetismo da serra não nos deixou
porém dormiu bem. No dia seguinte, logo após um belo pequeno-almoço partimos à
descoberta da serra, em direção ao marco geodésico, o Cavalinho, na crista da
serra, ao lado da torre de vigia, a quase 1200 m de altitude. A caminhada
faz-se facilmente. O caminho, largo, é de terra batida. Como nos dias
anteriores à nossa chegada tinha chovido muito, havia grandes poças de água,
que eram quase pequenos lagos.
A vista a partir do Cavalinho é
espetacular. No vale, o casario da vila do Fundão. Mais ao longe, Covilhã. À
direita a barragem de Santa Águeda. Em frente, ao longe, o conjunto montanhoso
da Serra da Estrela. Ali ficámos um tempo a respirar esta paisagem fantástica.
Belmonte
Descemos a serra, metemo-nos no
carro e rumámos a Belmonte, vila bem conhecida pelo seu passado judaico
sefardita e por ter sido o berço de Pedro Álvares Cabral.
Belmonte recebeu a carta de foral em
1199 concedida por D. Sancho I, o nosso segundo rei. Mas foi somente o rei D.
Afonso III ordenou a D. Egas Fafes, então o bispo de Coimbra,
que procedesse a construção de uma torre e castelo, cuja construção terá sido
terminada durante o reinado de D.
Dinis.
Perto do castelo, numa das ruas da
antiga judiaria, foi inaugurada em 1996 a sinagoga
“Beit Eliahu” (Filho de Elias). Os membros da atual comunidade judaica de
Belmonte são descendentes de cristãos-novos que durante a inquisição, e apesar de oficialmente
se terem convertido ao cristianismo, conseguiram preservar os ritos e as
orações, mantendo o culto e tradições culturais judaicas no
âmbito familiar.
Em 2005 foi inaugurado o Museu Judaico de Belmonte, onde se pode entrar em contacto com as
tradições e a vida quotidiana da comunidade.
Para ficar a conhecer o descobridor do
Brasil e os Descobrimentos, nada melhor do que visitar o Museu dos
Descobrimentos e o seu Centro de Interpretação "À Descoberta do Novo Mundo".
Este espaço propõe-se dar a conhecer, estudar e divulgar o feito de Pedro Álvares Cabral e explorar a história do
Brasil.
Mais núcleos
museológicos há na vila. Mas havendo pouco tempo, o melhor é deixar-se embeber
pelo espírito da vida, passeando descontraidamente pelas ruas de Belmonte.