sábado, 13 de outubro de 2018

Cedar Rapids, cidade da harmonia religiosa


O que tem para ver Cedar Rapids? Apesar de ser a 2ª maior cidade do estado de Iowa com mais de 126 mil habitantes, tem relativamente pouco que ver. Já tínhamos visitado o museu da imigração checa e ficado a saber tudo sobre os checos na região e a sua participação nas duas guerras mundiais. 
O Museu da Imigração Checa

Bandeiras checa e americana
Já tínhamos visto o filme sobre a transposição - por inteiro! - do edifício do museu da localização anterior para a atual após as grandes inundações de 2008. Já tínhamos cheirado – impossível não sentir o cheiro – os flocos de aveia da fábrica da Quaker Oats, situada no meio da cidade (e que infelizmente não se pode visitar). 
A fábrica da Quaker Oats


Já tínhamos passeado pelo bairro NewBo (New Bohemian). 

Já tínhamos passado pelo Museu Africano-Americano – mas não podido entrar por era o dia do fecho semanal. Que mais fazer? Parámos no Centro de Turismo e a funcionária já não sabia o que nos aconselhar mais. Até que disse algo que logo nos entusiasmou: The Mother Mosque of America.
Ligámos para a mesquita para saber se estaria aberta. Atendeu-nos o imã e capelão muçulmano da polícia de Cedar Rapids, Taha Tawil, palestiniano de Jerusalém. A mesquita iria fechar às 16h30. Eram 16h20. Dissemos que estávamos a 5 minutos de lá e se poderia esperar por nós.
Felizmente esperou e contou-nos longamente história da mesquita e um pouco da sua história pessoal.

O imã Taha Tawil a falar sobre a Palestina
A mesquita – que agora se chama a Mesquita-Mãe da América por ser a mesquita mais antiga construída para este fim e ainda em uso nos Estados Unidos – foi terminada a 15 de fevereiro de 1934. É um edifício pequeno, e que ainda serve como lugar de oração para 50 famílias muçulmanas, mesmo após ter sido construída a nova mesquita, maior, para a grande comunidade muçulmana de 2 000 famílias de Cedar Rapids.
Segundo os documentos históricos, o primeiro muçulmano a chegar ao Mundo Novo foi Estevancio, vindo como prisioneiro e capturado no Norte de África, Chegou com a expedição de Panfilo de Narvaez em 1527. Seguiram-se os escravos africanos – calcula-se que 10 a 40 por cento dos escravos que vinham de África eram muçulmanos, o que dará entre 600 000 e 1,2 milhões de pessoas. No entanto, estes muçulmanos africanos não deixaram comunidades autossustentáveis e a sua história praticamente se perdeu.
No último quartel do século XIX começou a imigração do Médio Oriente para os Estados Unidos, essencialmente da Síria, da Jordânia, da Palestina e do Líbano. Em 1914 havia em Cedar Rapids 45 árabes muçulmanos. Mas esse número foi crescendo e na década seguinte já havia 50 lojas árabes que vendiam produtos halal, permitidos pela religião. Em 1925, um grupo conhecido como “The Rose of Fraternity Lodge”, completamente integrado na sociedade americana mas mantendo a sua fé, alugou um edifício para ser usado temporariamente como mesquita. E foi nascendo o desejo de terem um local próprio para oração. Juntaram-se e construíram o edifício que ainda hoje está de pé e em uso que servia de mesquita e de centro social.
A comunidade muçulmana de Cedar Rapids nos anos 30-40 o século XX


Em 1948 foi inaugurado o primeiro cemitério nacional muçulmano em Cedar Rapids e que servia toda a região central do país, conhecida por mid-west. Anos mais tarde, o Islão foi reconhecido como uma religião válida o que permitiu que os muçulmanos deixavam de ter de ser enterrados como ateus.
Nos anos 70 do século XX, o número de famílias muçulmanos já era tão grande que foi necessário construir uma mesquita maior. O edifício antigo passou a ter outras funções: armazém, igreja. Nos anos 90, o edifício estava totalmente abandonado e em mau estado. O imã Taha Tawil lançou um apelo à comunidade para o salvar. O Conselho Islâmico de Iowa comprou-o, restaurou-o e integrou-o nos Registo de Edifícios Históricos. Todas as 6as feiras, um pequeno número de famílias ainda lá faz as suas orações. De resto serve como depositário da memória muçulmana da cidade. Mais: serve de ponto de união entre todas as religiões da cidade. A 26 de março de 2017 foi organizada uma manifestação multirreligiosa: cristãos, judeus, muçulmanos, budistas, deram as mãos e abraçaram em cadeia humana a mesquita mostrando ao mundo que se pode viver em paz, respeitando todos os credos.
O imã Taha Tawil a falar sobre a comunidade muçulmana da cidade