terça-feira, 18 de novembro de 2025

Viagem à Guiné-Bissau - Bissau: O Coração do país

 



Estive em Bissau em 1972 quando o avião militar que me levava para Moçambique, onde o meu Pai estava em missão, parou na Guiné para uma escala técnica. Voltei agora passados 53 anos… A expetativa era grande, especialmente porque já tive duas viagens programadas que tive de cancelar em cima da hora por razões diversas.

O que me espera? Como será Bissau agora? Estás as perguntas que fazia.  

Bissau está igual a ela própria.  Coberta com um fino véu de terra vermelha.  Edifícios coloniais parados no tempo,  A vida faz- se na rua. Há vendedores, cozinheiros, crianças a irem para a escola, …..





E como estamos em plena campanha eleitoral - as eleições são no b domingo, 23/11- a cidade ainda está mais animada.




 Muito  esclarecedora foi a conversa com Miguel Nunes, português nascido em Bissau e que aqui tem sempre vivido. É o dono da Residencial Coimbra, da livraria e de muitos outros edifícios. O avô veio de Góis , na  Beira, muito jovem e vingou na vida graças ao seu espírito empreendedor. 


Também a conversa com Júlio Gomes, bijagó das Ilhas das Galinhas, foi muito informativa. Falou- nos sobre as diversidade étnica e que como tal diversidade não leva à desunião entre as diferentes etnias no porque o sentimento guineense é mais forte e une- os a todos. 

 Bissau, a capital e maior cidade da Guiné-Bissau, está situada no estuário do Rio Geba. É o principal centro político, administrativo, económico e portuário do país, funcionando como o seu principal portal para o mundo. Com uma história rica e complexa, a cidade carrega as marcas do período colonial português e os vestígios dos conflitos que moldaram a nação.

Fundada pelos portugueses no século XVII como um porto comercial e entreposto escravista, Bissau cresceu inicialmente como um pequeno forte na ilha que lhe dá o nome (que na verdade é uma península, mas era historicamente tratada como ilha).

O seu papel central consolidou-se em 1941, quando se tornou a capital da Guiné Portuguesa, substituindo Bolama. Este estatuto trouxe algum desenvolvimento urbano, mas a cidade foi palco de intensa atividade durante a Guerra Colonial Portuguesa (1963-1974), um conflito que culminou na independência do país.

O centro histórico da cidade, conhecido como Bissau Velho, ainda apresenta a arquitetura colonial da época, caracterizada por edifícios em ruínas, mas com um charme nostálgico. Destacam-se o Palácio Presidencial (danificado por conflitos) e a Catedral de Bissau , um ponto de referência católico imponente. O Mercado de Bandim é conhecido pela sua azáfama e variedade de produtos.






A Catedral de Nossa Senhora da Candelária de Bissau é o principal templo católico do país e um dos edifícios históricos mais proeminentes da capital. É um marco arquitetónico e religioso, localizado no centro da cidade.

Foi construída no local de um templo mais antigo, mas o edifício que vemos hoje é resultado de um projeto da era colonial portuguesa. A construção da atual catedral foi iniciada em 1935 e foi concluída e consagrada em 1950. O seu estilo arquitetónico é geralmente descrito como neoclássico/neorromântico, com uma notável simetria e uma estrutura imponente que domina a paisagem da Praça da Catedral. Destaca-se a sua fachada com uma entrada principal elevada e duas torres sineiras laterais. Uma das características mais distintivas são os seus vitrais coloridos e a cúpula sobre o santuário.

A Catedral de Bissau não é apenas uma igreja, mas também o local da Sé Episcopal (a sede do bispo) da Diocese de Bissau. A sua importância ultrapassa a esfera religiosa. Devido à sua dimensão e localização central, é um dos pontos de referência mais conhecidos de Bissau e um local de encontro social.

Ao contrário de outros edifícios históricos em Bissau (como o Palácio Presidencial), a Catedral tem sido geralmente bem conservada, embora tenha passado por fases de necessidade de restauro, especialmente após os períodos de conflito na cidade.






 

A economia de Bissau está intrinsecamente ligada à função de porto marítimo da cidade, que é vital para a exportação do principal produto de exportação da Guiné-Bissau: a castanha de caju. O caju é a espinha dorsal da economia nacional, e a sua movimentação anual dita o ritmo de vida e comércio na capital.

O caju foi introduzido na Guiné-Bissau pelos Portugueses durante o século XVI, no contexto das suas rotas comerciais e expansão colonial. A introdução do caju na Guiné faz parte de um movimento global pelos portugueses, que o levaram da sua origem no Brasil para as suas colónias na África e Ásia (como Moçambique e Índia). Embora o caju tenha chegado no século XVI, a sua grande expansão comercial e importância económica na Guiné-Bissau só ocorreu muito mais tarde, a partir dos anos 90 do século XX, quando se tornou o principal produto de exportação do país.

As infraestruturas de Bissau e de todo o país são um verdadeiro desafio. A falta de investimento em estradas, saneamento básico e eletricidade é uma realidade quotidiana que afeta a maioria dos seus habitantes, embora os mercados e zonas comerciais fervilhem de atividade.

Aliás, Bissau é cidade cheia de vida, caracterizada por uma mistura de etnias e línguas, refletindo a diversidade do país. Embora o Português seja a língua oficial, o Crioulo (Kriol) é a língua franca e o idioma mais falado nas ruas e nos mercados.

Apesar das suas dificuldades económicas e políticas, Bissau mantém-se como o motor e a esperança de uma nação jovem, um local onde a resiliência e o espírito comunitário se manifestam diariamente sob o calor tropical.