À noite,
passeando na marginalizados de Caminha víamos maravilhados as muitas luzinhas
da outra margem do rio Minho. Tínhamos de ir descobrir A Guarda e o monte de
Santa Tecla, onde abundam castros.
No dia seguinte
tomámos o ferry Santa Rita de Cássia, padroeira de Caminha. 15 minutos depois
estávamos em Espanha, ou melhor, na Galiza.
Esta zona é
habitada há já mais de 4 000 anos, tendo sido encontrados petróglifos (pinturas
rupestres) em várias das pedras do monte, dos quais se destaca a “ Laje
Sagrada ou Laje do Mapa”: várias espirais, círculos concêntricos e
traços lineais mais ou menos paralelos que os seus descobridores interpretaram
como um mapa da desembocadura do Minho.
O castro teve
uma ocupação continuada entre o século I a.C., quando começou o processo de
romanização da Galiza, e o século I d.C. A partir que a partir desse momento os
habitantes começaram um lento abandono para novas localidades situadas nos
vales e próximas às terras de maior valor produtivo.
O sistema
construtivo do castro reflete pouca influência romana com um predomínio quase
absoluto de construções circulares frente às retangulares).
Nesta região há um grande
número de castros, sendo que a maior parte se encontra coberta por mato e
árvores, e quase não é percetível.
O castro está delimitado por
uma simples muralha, que acolhe uma extensão de terreno com uns eixos máximos
de 700 metros (Norte-Sul) e 300 metros (Leste-Oeste). Terá sido assim um dos
maiores castros dos encontrados por enquanto, tanto em terras galegas como do
norte de Portugal.
A muralha foi
realizada em alvenaria travada com barro, não ultrapassando os 160 cm de
grossura máxima, sem acessos interiores a elas, como escadas ou rampas.
Quase todas as
cabanas são circulares ou ovaladas de pequenas dimensões e com paredes grossas,
assentando diretamente sobre a rocha. Restos de pigmentação encontrados
indicariam que estariam pintadas com diferentes cores.
Muitas das
cabanas apresentam um vestíbulo de acesso onde se encontraria um simples forno.
No interior,
algumas apresentam bancos acaroados, e o pavimento em alguns casos é de terra
pisada e em outros de laje. Em muitos dos limiares de entrada podem-se ver os
gonzos, buracos nos quais se ajustariam as portas.
As cabanas eram
cobertas com um telhado cónico revestido por materiais vegetais.
No centro
estavam as lareiras aquecimento e cozinhar.
No interior
destas construções encontraram-se restos de ânforas, algum moinho, seixos para
talhar, etc.
Estas
construções adaptam-se ao terreno com a ajuda de pequenos muretes de terraço
que delimitam o espaço.
A distribuição
urbanística caracteriza-se pela presença de grupos de construções formando
conjuntos perfeitamente individualizados, talvez Unidades familiares
formadas por moradias e armazéns, com um pequeno pátio comum.
A nível de infraestruturas,
o castro incluía uma complexa rede de canais de drenagem de águas pluviais
situadas sob os pavimentos e chãos.
Santa Tecla
Este conjunto
de castros está situado no monte de Santa Tecla (Santa Trega). Quem foi esta
mulher que recebeu o título de "Igual aos Apóstolos" e
"protomártir entre as mulheres"?
Santa Tecla não
vem citada na Bíblia. A única fonte de informações sobre sua vida é o livro de Atos
de Paulo e Tecla, escrito provavelmente no século II, dos Evangelhos apócrifos.
Aí ficamos a saber que, quando o apóstolo Paulo chegou a Icónio, ficou
hospedado na casa de Onesíforo. Tecla tinha 18 anos e estava prometida a Tamire.
No entanto, ao ouvir as pregações de Paulo, Tecla fica tocada e decide dedicar
sua vida à pregação do Evangelho – o que não agradou nada nem aos pais de Tecla
nem a Tamire que denunciou Paulo às autoridades que o prenderam.
Tecla suborna os
guardas com todas as joias que tinha e Paulo é liberto. Tecla junta a Paulo mas
é encontrada. A mãe mantém a intenção de a casar com Tamire. Ao ver que Tecla
se mantinha irredutível, a mãe pediu às autoridades que a condenassem à fogueira.
Quando a pira foi incendiada, Tecla benzeu-se. Surgiu então á sua volta uma luz
que impediu que as chamas lhe tocassem. De repente, começou a chover e a cair
granizo e o fogo foi apagado.
Tecla abandonou
a cidade e foi procurar Paulo que estava em uma caverna com um grupo de
seguidores. Tecla passou a acompanhar Paulo nas suas viagens pela Antioquia. Aí
o dignitário Alexandre, vislumbrado por sua beleza, pede-a em casamento. Tecla
recusa. Alexandre ordena que Tecla seja colocada numa jaula com animais
famintos mas nada lhe acontece. Manda então amarrar a jovem e prender as cordas
a bois. No entanto, as cordas rebentaram e os bois fugiram. Finalmente, Tecla é
libertada.
Tecla
estabeleceu-se em Silifke,
na Turquia, onde pregou a palavra de Deus, curou enfermos e converteu pagãos ao
cristianismo durante vários anos. Quando tinha 90 anos, feiticeiros pagãos
invejando a popularidade de Tecla, tentaram matá-la. Tecla pediu ajuda a Deus e
naquele instante uma rocha abriu-se e escondeu a virgem, que aí entregou sua
alma ao Senhor.
Tecla foi a
intercessora das orações dos ascetas, tendo sido invocada durante a tonsura de
mulheres no monaquismo (uma forma de vida cristã totalmente
consagrada a Deus no retiro, no silêncio, na oração, na penitência e no
trabalho).