Muitas vezes conhecemos o mundo inteiro, mas não
sabemos o que está ao virar da esquina da nossa casa. Foi um pouco o que me aconteceu.
Desde que moro em Queluz que sabia que havia uma anta no Monte Abraão. Há
muitos anos quis lá ir com os meus filhos, mas, na altura, aconselharam-me a
não ir porque a zona não seria recomendável.
Finalmente hoje, procurei a anta no mapa do Google,
calcei os meus ténis e meti-me a caminho. Segundo o mapa, a anta estaria a 1.8
km da minha casa. 28 minutos a andar. Metade do caminho fez-se bem. Graças ao
novo eixo verde-azul seguimos sempre paralelo ao rio Jamor. Mas a meio do
caminho começou o troço mais difícil: a estrada é muito, mesmo muito inclinada
até chegarmos ao cimo do monte. Para piorar a situação, o vento era muito forte,
tendo algumas vezes dificuldade em nos mantermos de pé.
Até que chegámos ao final da zona de casas e à
nossa frente só tínhamos o “monte dos vendavais”. No cimo, os postes de alta
tensão assobiavam. E o vento era ainda mais forte, ali no cimo do monte. Sem
nada a prendê-lo, podia soprar à vontade, fazendo os fios dos cabos de alta
tensão assobiarem ainda com mais força.
Metemo-nos pelo descampado. Num caminho de cabras
que passa mesmo por debaixo dos cabos de alta tensão. Os campos magnéticos debaixo
desses cabos são forte. O meu telemóvel “morreu” apesar de ainda ter mais de
50% de bateria e eu senti-me muito tonta, a cambalear.
Até que por fim lá vimos as pedras ainda existentes
da anta. Foi em 1876 que este monumento funerário foi descoberto pelo engenheiro militar e
geólogo Carlos Ribeiro. As suas escavações sugerem que
serviu de túmulo para 80 pessoas e que deve ter sido erigido em meados/finais
do Neolítico, entre o ano 4000 e 2500 a.C. A anta foi constituída por uma
câmara com 3,6 metros de diâmetro, e um corredor com 2 m de largura e 8 de
comprimento, orientado a Este. As pedras usadas na construção deste monumento
funerário foram trazidas dos arredores. O solo também foi convenientemente
preparado para a edificação do dólmen. As escavações realizadas na Anta do
Monte Abraão forneceram uma indústria típica muito variada constituída por
placas de xisto, cilindros de calcário, pontas de seta, cerâmica e ossadas
humanas.
Esta necrópole terá tido três sepulcros. A
anta que ainda se pode ver terá tido seis esteios (pedras verticais) assentes
diretamente na rocha. O chapéu, a laje de cobertura, já não existe. Segundo o arqueólogo
Vergílio Correia Pinto da Fonseca haveria pinturas rupestres na superfície no
esteio maior da cabeceira, que eu não pude confirmar. Estes desenhos teriam carácter
antropomórfico, representando um elemento masculino e um elementos feminino.
No local terão igualmente sido encontrados vários objetos como cabeças de
flechas, cerâmica, ferramentas de pedra, que poderão ser vistas no Museu
Geológico.
Apesar
de estar classificado este dólmen está praticamente abandonado. Veremos se não
se estraga..