quarta-feira, 17 de julho de 2019

A anta de Monte Abraão


Muitas vezes conhecemos o mundo inteiro, mas não sabemos o que está ao virar da esquina da nossa casa. Foi um pouco o que me aconteceu. Desde que moro em Queluz que sabia que havia uma anta no Monte Abraão. Há muitos anos quis lá ir com os meus filhos, mas, na altura, aconselharam-me a não ir porque a zona não seria recomendável.
Finalmente hoje, procurei a anta no mapa do Google, calcei os meus ténis e meti-me a caminho. Segundo o mapa, a anta estaria a 1.8 km da minha casa. 28 minutos a andar. Metade do caminho fez-se bem. Graças ao novo eixo verde-azul seguimos sempre paralelo ao rio Jamor. Mas a meio do caminho começou o troço mais difícil: a estrada é muito, mesmo muito inclinada até chegarmos ao cimo do monte. Para piorar a situação, o vento era muito forte, tendo algumas vezes dificuldade em nos mantermos de pé.
Até que chegámos ao final da zona de casas e à nossa frente só tínhamos o “monte dos vendavais”. No cimo, os postes de alta tensão assobiavam. E o vento era ainda mais forte, ali no cimo do monte. Sem nada a prendê-lo, podia soprar à vontade, fazendo os fios dos cabos de alta tensão assobiarem ainda com mais força.
Metemo-nos pelo descampado. Num caminho de cabras que passa mesmo por debaixo dos cabos de alta tensão. Os campos magnéticos debaixo desses cabos são forte. O meu telemóvel “morreu” apesar de ainda ter mais de 50% de bateria e eu senti-me muito tonta, a cambalear.
Até que por fim lá vimos as pedras ainda existentes da anta. Foi em 1876 que este monumento funerário foi descoberto pelo engenheiro militar e geólogo Carlos Ribeiro. As suas escavações sugerem que serviu de túmulo para 80 pessoas e que deve ter sido erigido em meados/finais do Neolítico, entre o ano 4000 e 2500 a.C. A anta foi constituída por uma câmara com 3,6 metros de diâmetro, e um corredor com 2 m de largura e 8 de comprimento, orientado a Este. As pedras usadas na construção deste monumento funerário foram trazidas dos arredores. O solo também foi convenientemente preparado para a edificação do dólmen. As escavações realizadas na Anta do Monte Abraão forneceram uma indústria típica muito variada constituída por placas de xisto, cilindros de calcário, pontas de seta, cerâmica e ossadas humanas.
Esta necrópole terá tido três sepulcros. A anta que ainda se pode ver terá tido seis esteios (pedras verticais) assentes diretamente na rocha. O chapéu, a laje de cobertura, já não existe. Segundo o arqueólogo Vergílio Correia Pinto da Fonseca haveria pinturas rupestres na superfície no esteio maior da cabeceira, que eu não pude confirmar. Estes desenhos teriam carácter antropomórfico, representando um elemento masculino e um elementos feminino.  No local terão igualmente sido encontrados vários objetos como cabeças de flechas, cerâmica, ferramentas de pedra, que poderão ser vistas no Museu Geológico.
Apesar de estar classificado este dólmen está praticamente abandonado. Veremos se não se estraga..