sábado, 14 de dezembro de 2024

Turismo e aviação – o problema do sobreturismo

 

Sobreturismo em Veneza

Estamos em Sófia, a capital da Bulgária, na conferência de aviação AviationEvent. Discute-se a aviação, aeroportos e turismo. Aqui no Leste da Europa ainda não se fala de overtourism (sobreturismo), como em Portugal e Espanha. Aqui, ainda se tenta atrair touristas, nalguns casos, manter o interesse turístico pela cidade, pela região, pelo país.

Este fenómeno é visto como algo negativo para as comunidades, apesar de criar uma grande valorização para esses locais. Qual será, porém, a melhor aproximação ao tema? Queremos turismo ou mais turismo, mas como não cair no overtourism? Na Europa de Leste, ainda ninguém de queixa de sobreturismo. Para Sergiu Manea, presidente da Associação dos Empregadores da Indústria de Turismo da Moldova, e para Denitsa Milosavljevic, diretora do Departamento de Desenvolvimento do Negócio da Aviação, os esforços estão dirigidos para a atração de turistas. Trabalham de mão dadas com os aeroportos e outras infraestruturas e desenvolvem campanhas de marketing, criando narrativas atraentes.

Denitsa Milosavljevic sabe que são as companhias de aviação, normalmente as companhias de baixo custo, que criam a procura. A maioria dos aeroportos servidos por estas companhias pagam-lhes para elas voarem para lá (ou para que mantenham as rotas). As companhias de baixo custo têm feito um bom trabalho na criação de interesse por um destino. Tal como Owain Jones, chief corporate affairs officer da Wizz Air, referiu “Estamos a crescer em Sófia e Sófia está a crescer connosco”. Este fenómeno já aconteceu em Cluj, em Quixinau e noutras cidades do leste europeu (e não só).

Para Andreas Papatheodorou, professor de Economia Industrial e Espacial e diretor do departamento de Turismo da Universidade do Egeu, tudo tem de andar de mãos dadas: infraestrutura – marketing - cidades – companhias de aviação. O turista quer experiências completas sem problemas, seamless como dizem os anglo-saxões. Mas para que tudo funcione bem tem de haver inclusão de todas partes interessadas, incluindo as populações locais. E para que não se caia no exagero, no overtourism, as autoridades locais têm de ver além, e pensar noutros destinos. Um exemplo que Martina Groenegres, ex-diretora do Lufthansa City Center International, contou a experiência de boas práticas que teve este ano no nosso país. Estava a planear fazer o congresso das agências de viagens alemãs em Lisboa. O Turismo de Portugal disse que só apoiaria o congresso se fosse fora de um dos grandes centros e propôs Braga. A sugestão foi aceite – e os organizadores ficaram entusiasmados com a alteração, tendo continuado a promover as infraestruturas do Norte de Portugal e ficando a conhecer (e com vontade de integrar em programas turísticos futuros) uma região desconhecida e que nem tinha sido tida em consideração.

Todos os peritos presentes em Sófia estavam de acordo que não se pode cair no sobreturismo, que para tal é preciso ver além e promover regiões em vez de cidades, tal como se tem feito com a cooperação doe Alentejo com a Extremadura espanhola. Ou, como referiu Sergiu Manea, um pacote para visitar Iasi, na Roménia, Quixinau, na Moldova e Odessa, na Ucrânia. Pretende dar-se ao turista a possibilidade de visitar mais países numa só viagem, onde, porém, tudo tem de funcionar: aeroportos, comboios, estradas. Um plano que parecia interessante e que ficou parado por causa da guerra, mas que não foi abandonado.