Sobreturismo em Veneza |
Estamos em Sófia, a capital da Bulgária, na conferência de aviação AviationEvent. Discute-se a aviação, aeroportos e turismo. Aqui no Leste da Europa ainda não se fala de overtourism (sobreturismo), como em Portugal e Espanha. Aqui, ainda se tenta atrair touristas, nalguns casos, manter o interesse turístico pela cidade, pela região, pelo país.
Este
fenómeno é visto como algo negativo para as comunidades, apesar de criar uma
grande valorização para esses locais. Qual
será, porém, a melhor aproximação ao tema? Queremos turismo ou mais turismo,
mas como não cair no overtourism? Na Europa de Leste, ainda ninguém de
queixa de sobreturismo. Para Sergiu Manea, presidente da Associação dos
Empregadores da Indústria de Turismo da Moldova, e para Denitsa Milosavljevic, diretora
do Departamento de Desenvolvimento do Negócio da Aviação, os esforços estão
dirigidos para a atração de turistas. Trabalham de mão dadas com os aeroportos
e outras infraestruturas e desenvolvem campanhas de marketing, criando
narrativas atraentes.
Denitsa Milosavljevic
sabe que são as companhias de aviação, normalmente as companhias de baixo
custo, que criam a procura. A maioria dos aeroportos servidos por estas
companhias pagam-lhes para elas voarem para lá (ou para que mantenham as
rotas). As companhias de baixo custo têm feito um bom trabalho na criação de
interesse por um destino. Tal como Owain Jones, chief corporate affairs
officer da Wizz Air, referiu “Estamos a crescer em Sófia e Sófia está a
crescer connosco”. Este fenómeno já aconteceu em Cluj, em Quixinau e noutras
cidades do leste europeu (e não só).
Para Andreas
Papatheodorou, professor de Economia Industrial e Espacial e diretor do
departamento de Turismo da Universidade do Egeu, tudo tem de andar de mãos
dadas: infraestrutura – marketing - cidades – companhias de aviação. O turista
quer experiências completas sem problemas, seamless como dizem os
anglo-saxões. Mas para que tudo funcione bem tem de haver inclusão de todas
partes interessadas, incluindo as populações locais. E para que não se caia no
exagero, no overtourism, as autoridades locais têm de ver além, e pensar
noutros destinos. Um exemplo que Martina Groenegres, ex-diretora do Lufthansa
City Center International, contou a experiência de boas práticas que teve este
ano no nosso país. Estava a planear fazer o congresso das agências de viagens
alemãs em Lisboa. O Turismo de Portugal disse que só apoiaria o congresso se
fosse fora de um dos grandes centros e propôs Braga. A sugestão foi aceite – e
os organizadores ficaram entusiasmados com a alteração, tendo continuado a
promover as infraestruturas do Norte de Portugal e ficando a conhecer (e com
vontade de integrar em programas turísticos futuros) uma região desconhecida e que
nem tinha sido tida em consideração.
Todos os peritos
presentes em Sófia estavam de acordo que não se pode cair no sobreturismo, que
para tal é preciso ver além e promover regiões em vez de cidades, tal como se
tem feito com a cooperação doe Alentejo com a Extremadura espanhola. Ou, como
referiu Sergiu Manea, um pacote para visitar Iasi, na Roménia, Quixinau, na
Moldova e Odessa, na Ucrânia. Pretende dar-se ao turista a possibilidade de visitar
mais países numa só viagem, onde, porém, tudo tem de funcionar: aeroportos,
comboios, estradas. Um plano que parecia interessante e que ficou parado por
causa da guerra, mas que não foi abandonado.