Atlanta
é mais do que a sede da Coca Cola e da CNN ou a paróquia de Martin Luther King.
É por exemplo a cidade onde se encontra a fábrica de cerveja Sweetwater (www.sweetwaterbrew.com). Três vezes
por semana, a Sweetwater abre as portas aos seus clientes para
conhecerem a fábrica e as suas cervejas.
Steve, o nosso guia à cervejaria Sweetwater |
Apesar de só ter sido fundada em 1997 e em Atlanta, as raízes da Sweetwater estão em Boulder, Colorado, quando dois estudantes universitários, Freddy Bensch e Kevin McNerney, partilhavam um quarto numa residência da Universidade do Colorado, nessa cidade. Durante o seu curso, dedicavam-se mais à cerveja do que aos livros. Paralelamente aos estudos encontraram um trabalhito a lavar barris numa pequena fábrica de cerveja a troco de… cerveja gratuita! Tornaram-se assim o centro das amizades de todos os colegas… Quando acabaram os cursos, aprofundaram os seus conhecimentos na Ciência da fermentação na American Brewers Guild na Califórnia, começando depois a oferecer os seus serviços profissionais a diversas fábricas de cerveja na Costa Oeste, sonhando um dia a vir a ter um negócios próprio.
Dia de portas abertas na cervejaria |
Freddy passou o verão de 1996 em Atlanta a trabalhar para os Jogos Olímpicos – e onde notou que a cidade não tinha nenhuma cerveja que se visse. Rapidamente viu que ele e o seu amigo Kevin eram as pessoas ideais para alterar a situação. Dito e feito! Deitaram as mãos à massa, pediram apoio financeiro à família, a amigos e aos bancos e no ano seguinte fundaram a sua própria fábrica de cerveja. E que nome lhe dar? Para se refrescar do calor abafador do verão da Georgia, Freddy gostava de ir andar de caiaque para o rio Sweetwater que atravessa o Parque Nacional com o mesmo nome. A fábrica de cerveja foi então batizada de Sweetwater e o slogan adotado foi “Don’t Float the Mainstream” (Não vás com a corrente). A 17 de fevereiro, Kevin e Freddy começaram a vender cerveja em Atlanta numa velha carrinha. Atualmente fabricam por ano 100 000 barris de cerveja não-pasteurizada, de diversos estilos. Nós apaixonámo-nos pela 420, uma pale ale, com intenso sabor a lúpulo e um final refrescante.
Mas se “nem só de pão vive o Homem”, nós também não vivemos só de cerveja e fomos almoçar o Fox Bros. Bar B Q (www.foxbrosbbq.com), o restaurante com a melhor comida grelhada de Atlanta, dos texanos Jonathan and Justin Fox , onde nos deliciámos com pão de milho e malaguetas, tatter tots (puré de batata frito aos montinhos), piano grelhado, pulled pork (carne de porco cozida lentamente e despois desfiada), frango fumado, Brunswick stew (estufado de várias carnes com milho e feijão), frito pie (chilli com carne com batatas fritas dentro), entre muitas outras especialidades.
Mas se “nem só de pão vive o Homem”, nós também não vivemos só de cerveja e fomos almoçar o Fox Bros. Bar B Q (www.foxbrosbbq.com), o restaurante com a melhor comida grelhada de Atlanta, dos texanos Jonathan and Justin Fox , onde nos deliciámos com pão de milho e malaguetas, tatter tots (puré de batata frito aos montinhos), piano grelhado, pulled pork (carne de porco cozida lentamente e despois desfiada), frango fumado, Brunswick stew (estufado de várias carnes com milho e feijão), frito pie (chilli com carne com batatas fritas dentro), entre muitas outras especialidades.
O
nosso segundo dia em Atlanta era um domingo. Começámos por um brunch no
restaurante Local Three. Quem são os “local three”? Dois cozinheiros, Chris
Hall e Todd Mussman, e o gerente Ryan Turner. Com uma filosofia comum no que
respeita comida, bebidas, saber receber e saber fazer negócios. A sua
prioridade são as pessoas, o que faz sentido são produtos sazonais, o que
impera é a autenticidade, o que governa é a qualidade, o que sustenta tudo é a
prudência.
À
tarde fomos até ao Parque Nacional da Ribeira de Sweetwater, a tal musa
inspiradora dos fundadores da cerveja Sweetwater.
Reza
a lenda que Sweetwater seria o nome por que era conhecido Ama-Knast , o chefe
dos índios cherekee que viviam na região.
Do que podemos ter a certeza , por haver muitas vestígio, que a região
era habitada por índios já no chamado
“período da floresta”, ou seja, entre 1000 a.C. a 100 d.C.
Em
1830, as tribos cherokee foram obrigadas a sair do estado. Esta parte da
Georgia foi então dividida em lotes de 40 hectares cada um e distribuída pelos
interessados por sorteio.
Em
1849, dois empresários instalaram aqui uma fiação, a New Manchester
Manufacturing Company. A topografia da Ribeira de Sweetwatwe era a localização
ideal para uma fábrica a trabalhar à base de água– Infelizmente, em 1861
rebentou a Guerra Civil e a fábrica foi obrigada a trabalhar para as tropas
confederadas, tornando-se um bom alvo para as forças da União. Durante a
Batalha de Atlanta o general da União William T. Sherman ordenou a destruição
das fiações em diversas localizações, incluindo a New
Manchester. A fábrica foi incendiada a 9 de julho, tendo ficado totalmente
destruída.
As ruínas da fiação |
Hoje
em dia, as ruínas da fábrica junto à Ribeira de Sweetwater são um destino
agradável dos caminhantes do parque natural. As águas da ribeira, cristalinas e
com ligeiros rápidos, convidam a que se molhe os pés ou que se fique somente
sentado nas margens a apreciar o marulhar das águas e a descansar a mente dos
barulhos da cidade.
No
dia seguinte embrenhámo-nos no centro de Atlanta. Começámos por visitar a casa
de Margaret Mitchell (www.atlantahistorycenter.com/mmh), a autora do livro que
serviu de base ao famoso filme “E tudo o vento levou”.
A casa onde viveu Margaret Mitchell |
Foram
problemas de saúde que levaram Margaret a começar a escrever. Trabalhava como
repórter de um jornal quando partiu um
pé que a obrigou a ficar parada em casa. O marido trazia-lhe livros da
biblioteca pública e que ela lia avidamente. Um dia, a brincar, o marido
desafiou-a:
-
Já leste os livros todos da biblioteca. E que tal escreveres tu agora um livro?
Era
a acha que precisava de ser ateada. Apaixonada pela história da Guerra Civil,
Margaret escreveu num ápice uma história de amor em tempo de guerra.
A máquina de escrever de Margaret Mitchell |
Lançado a 10 de junho
de 1936, o livro “E tudo o vento levou” depressa se tornou um
"best-seller". Em outubro, já havia vendido um milhão de exemplares e
os direitos de filmagem, comprados pelo produtor David O. Selznick por 50 mil
dólares, à época uma pequena fortuna. Em maio de 1937, o livro foi
premiado com o prémio Pulitzer.
O filme homónimo foi
estreado em Atlanta em dezembro de 1939. Margaret Mitchell não escreveu mais
nenhum livro, tendo vivido dos direitos de autor e da adaptação cinematográfica da sua única obra.
Dali
fomos para uma obra do final do século XX, o parque olímpico, o Centennial
Olympic Park (www.centennialpark.com),
criado para os Jogos Olímpicos de Atlanta em 1996, cujo financiamento veio de
doações do setor privado da cidade.
Centennial Olympic Park em Atlanta |
A
parte mais concorrida do parque é a Fonte dos Anéis, Fountain of
Rings: dos
cinco anéis olímpicos pintados no chão saem 251 jatos de água controlados por
computador. Quatro vezes ao dia, estes jogos de água são acompanhados por
música. Para crianças — e adultos — os jogos de água são um motivo de grande
brincadeira e boa disposição.
À
volta estão as bandeiras dos países para participaram nos Jogos Olímpicos e
oito torres que lembram a torre da chama olímpica. Espalhada pelo parque há
muita arte urbana, que inclui uma estátua de Pierre de Coubertain, o pai dos
jogos olímpicos da era moderna.O
extenso parque olímpico (85 000 m² ) faz parte do projeto Growing
Green para a preservação do meio ambiente . Assim por
exemplo, nas casas de banho públicas são usados papel higiénico e papel toalha
reciclados, o escritório de administração recicla o seu lixo e usa apenas papel
100% reciclado, os seguranças deslocam-se em bicicletas no parque, a água da
rega e da Fonte dos Anéis vem de um poço e de uma cisterna.
O passeio pelo parque
abriu-nos o apetite e fomos para o restaurante mais antigo de Atlanta, o Mary
Mac’s Tea Room.
No final da 2ª Grande
Guerra, em 1945, Mary MacKenzie abriu o Mary Mac’s Tea room. Nessa épica,
muitas mulheres, muitas delas viúvas, começaram a abrir restaurantes em Atlanta
para sobreviver e ao chamarem-lhes “tea room” estavam a elevar-lhes o estatuto.
Com os anos, o restaurante foi crescendo, mas o seu espírito mantido.
No restaurante, com
atualmente sete salas de jantar, continua a ser preparada a verdadeira cozinha
sulista, só que não da maneira romântica como é apresentado no folheto.
Os publicitários são
bons no trabalho que fazem. Escrevem textos lindos…. Mas que podem não
corresponde à realidade. Escrevem por exemplo que “todas as manhãs, pelamos o
milho, arranjamos cuidadosamente os legumes (…)”. Uma frase muito bonita que
nos leva à verdadeira cozinha caseira. Mas nos Estados Unidos, comida caseira
em restaurantes (e até em casa!) é algo muito raro. Ao falarmos com o gerente,
vimos que afinal não é bem assim. O restaurante recebe os legumes… congelados —
”É que ao fritá-los, ficam mais estaladiços”. Os frangos vêm de aviários
— ”Temos um produtor exclusivo que só cria frangos para nós”, mas infelizmente
não se tratam de frangos caseiros.
Mas tirando estes
pormenores, o Mary Mac’s Tea Room tem na realidade um ambiente especial.
Pequenas mesas de madeira, cobertas com toalhas de algodão alvas, espalhadas
por pequenas salas de jantar. O ambiente e a fama atraem a clientela que vai de
“senadores e secretárias, canalizadores e CEO, celebridades e turistas,
professores e estudantes”. A oferta gastronómica mantém o seu traço sulista:
frango frito bem estaladiço, piano de porco grelhado, gambas panadas e fritas,
quiabos fritos e estaladiços, nabiças cozidas, guisado de Brunswick, pão de
milho, caracóis de canela, entre muitas outras especialidades.