quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Ilha das Flores, Açores - 2




Um dia de muita chuva e vento forte. Mesmo assim, mantivemos o nosso plano de ir descobrir a costa norte e nordeste da ilha. A linha costeira das Flores é muito recortada, formando grande número de baías, em geral de difícil acesso, muitos rochedos de formas bizarras. Dos inúmeros miradouros que existem no cima das falésias pudemos ir seguindo todo recorte da costa. 



A primeira grande paragem foi em Alagoas, com uma linda praia de pedras vulcânicas e um simpático parque de merendas cuja casa do guarda é uma antiga casa típica da ilha. Ai encontrámos uma família alemã que está a conhecer a ilha percorrendo os seus trilhos e pernoitando em tendas. 



Daí fomos para Pinta Ruiva, onde vimos a sinalização de “Museu”. Seguimos e… não vimos nada. Olhámos melhor e reparámos que na porta duma das casas estava uma chave. Batemos à porta. Ninguém respondeu. Rodámos a chave e a porta abriu-se de roldão. Assustámo-nos. Lá dentro estava escuro. Pensámos: Isto é uma casa particular   As pessoas ainda têm na mesa a louça do pequeno-almoço.  Encontrámos um interruptor e acendemos a luz. Uma casa velha, cheia de tralha amontada cheia de pó. O netos do dia a dia, da lavoura, da pesca, …Era o dito museu. 


Mas como surgiu o nome de Ponta Ruiva?

No século dezasseis, um pescador de uma povoação do Norte da ilha das Flores andava um dia a apanhar peixe, quando ouviu uma voz muito bonita de mulher a cantar por perto, mas numa língua que não conhecia. Ficou a cismar que por ali havia uma sereia. Logo espalhou pelo povoado a novidade e, pela maneira como falava da sereia, todos ficaram a pensar que ela encantava os homens. 
O pescador não pensava noutra coisa e, logo que pôde, poucos dias mais tarde, voltou à pesca, sonhando com a ideia de que havia de ver a sereia. Tinha acabado de lançar o anzol ao mar, quando começou a ouvir o canto que tanto o perturbava. Recolheu logo a linha e pôs-se a escutar com muito cuidado e a seguir o som. Por fim encontrou a dona de tão melodiosa voz. Não era uma sereia, como ele pensava, mas uma linda rapariga de olhos azuis, pele clara e sardenta e cabelos ruivos. Muito assustada, ao começo, nada disse, mas por fim o pescador ficou a saber a sua história. Era irlandesa e tinha-se escapado de um navio pirata, atirando-se ao mar quando tinha visto terra ali próximo. 
 O pescador ficou ainda mais encantado e, depois de conquistar a confiança da rapariga, voltou para casa, trazendo consigo a mulher mais bela que alguma vez a gente do lugar tinha visto. 
 Algum tempo mais tarde, o pescador casou com a “sereia” e deles nasceram muitos filhos, todos de olhos azuis e ruivos como a jovem irlandesa. 
 Assim àquele lugar da ilha das Flores se passou a chamar, por causa da cor dos cabelos de muitos dos seus habitantes, Ponta Ruiva e ainda hoje ali há muitas pessoas de pele clara, sardentas e de cabelos ruivos, como a rapariga irlandesa que um dia ali apareceu.



Sem termos visto a sereia, seguimos para Ponta Delgada (das Flores), parando de miradouro em miradouro. Fomos até ao farol de Albarnaz. O Plano Geral de Alumiamento e Balizagem considerava a edificação de um farol de 4ª ordem na Ponta Delgada. Não compartilhava desta opinião a Comissão de 1902, propondo antes, que fosse instalado um aparelho de 1ª ordem, na Ponta do Albarnaz. Não foi no entanto uma decisão pacífica a desta Comissão. Chegou a ser aventada a hipótese de instalar um aparelho hiper-radiante mas como a despesa era grande e a diferença dos alcances andava à volta de 3 a 5 milhas, não compensava de forma alguma optar-se por este tipo de aparelho. Acabou por ficar decidido instalar um aparelho de 1ª ordem como inicialmente era proposto. 

Em 1922 para a implantação do farol, foi feito um contrato amigável de expropriação de 5525 m2 de terreno, com João Lourenço, pela quantia de 3.500$00.

O farol do Albarnaz entrou em funcionamento em 28 de janeiro de 1925. Foi equipado com um aparelho lenticular, não de 1ª ordem como o previsto, mas de 3ª ordem, grande modelo (500 mm distância focal), sendo a fonte luminosa um candeeiro a petróleo de nível constante. A rotação da óptica era produzida pela máquina de relojoaria.

O candeeiro de nível constante foi substituído pela incandescência pelo vapor de petróleo em 1938.

Em 20 de janeiro de 1944 um avião militar despenhou-se no mar muito perto do farol.

O farol foi eletrificado através de grupos eletrogéneos em 1956.

Em 1959 foi instalado um telefone. Para a ampliação das instalações do farol, foram comprados em 1968 ao padre João de Deus, 200 m2 de terreno pela quantia de 1000$00.


Pesca à baleia nas Flores



No final do passeio fomos ainda visitar o Museu Fábrica da Baleia do Boqueirão, rmSanta Cruz das Flores. Como começou essa atividade nas Flores? 

José Constantino da Silveira e Almeida importou botes dos EUA em 1856 e capturou a primeira baleia em Santa Cruz em 1869, sendo nos Açores o primeiro armador de estações localizaras em terra.  O êxito da campanha animou outros indivíduos para esta atividade . Em 1864, já havia três armadores. A rápida multiplicação de armações levou à escassez de baleeiros, conhecedores e experimentados, o que conduziu a fracos resultados. 

O início do século XX foi fatal para esta atividade económica. Os armadores venderam os botes para o Faial e para o Pico. A I grande Guerra fez aumentar o preço do óleo da baleia e novos armadores lançaram-se para reativar a pesca. 

O facto de os botes poderem ser atingidos pelas barbatanas caudais dos cachalotes fazia parte da baleação. O Grémio dos Armadores da Pesca da baleia exigia de cada baleeiro uma declaração de que sabia nadar antes de poder ir à baleia. Daí talvez ter havido tão poucos acidentes fatais. 


Em 1981 foi capturada e transformada última baleia.