Quando estudamos História, encontramos várias situações
em que as personagens históricas são condenadas à forca. A morte por enforcamento era muito comum em períodos históricos antigos
– por exemplo, em Roma, a forca era para os cidadãos romanos, pois os bárbaros,
ou seja, estrangeiros não romanos, eram crucificados.
Portugal foi o segundo país da Europa, após o Grão-Ducado da Toscana (1786), a abolir a pena de morte. Em 1852,
foi abolida para crimes políticos como nos revela o artigo 16º do Ato Adicional à Carta Constitucional
de 5 de Julho, sancionado por D. Maria II. Na década seguinte, em 1867, foi
abolida para crimes civis, exceto por traição durante a guerra.
Nos tempos atuais, já quase não se ouve falar de penas de
morte por enforcamento. Exceto em 2006, quando alguns dos altos responsáveis
pelo Iraque, incluindo Saddam Hussein, foram enforcados por traição.
Quando este fim de semana me passeava por Cabeço de Vide,
uma simpática vila no Alto Alentejo, descobri uma forca no meio dum campo, à
saída da vila, a caminho de Fronteira. Este é o único exemplar conhecido que
escapou à destruição na sequência da abolição da pena de morte - sabendo-se que
Cabeço de Vide deixou de ser sede de concelho em 1855, tal facto pode ter
motivado a não destruição deste monumento.
Trata-se de dois obeliscos paralelepípedos de alvenaria, claro,
gastos pelo tempo. Era complemento da função do pelourinho para os casos de
pena de morte e, ao contrário deste, localizava-se fora do aglomerado
populacional.
O condenado era pendurado com uma corda ao pescoço suspensa de uma viga
atravessada horizontalmente e sustentada pelos prismas que ainda hoje se mantêm
no seu lugar. A morte dava-se por asfixia devido à estrangulação e distensão
das vértebras cervicais.
Quem terão sido os condenados desta forca? Certamente, criminosos graves, Mas quem sabe se também não terão morrido ali judeus perseguidos pela Inquisição.
Quem terão sido os condenados desta forca? Certamente, criminosos graves, Mas quem sabe se também não terão morrido ali judeus perseguidos pela Inquisição.
Sabemos pela leitura dos relatórios da Inquisição de Évora que em Cabeço de
Vide havia nos séculos XVI e XVII uma numerosa e ativa comunidade judaica.
Aliás, Cabeço de Vide terá sido mesmo, nesta época, uma das vilas do Alentejo
mais atingidas pelo terror inquisitorial: entre 1533-1668, 211 videnses terão
sido condenados por penas que iam da abjuração, perda de bens, prisão, tortura,
tendo transformado esta vila uma das mais sacrificadas pelo braço forte da
Inquisição de Évora.
Ali, bem ereta no meio do campo, a forca faz-nos
não esquecer o passado.