terça-feira, 13 de junho de 2017

Ananases em Queluz


Duas das quatro estufas de ananases
Seguindo uma tendência nos jardins ornamentais no século XVIII, também a realeza portuguesa mandou construir um jardim botânico do Palácio de Queluz, embora de de pequena escala, quando comparado com outros jardins botânicos desta época. A botânica, no sentido histórico da construção do conhecimento, ganhou inúmeros adeptos nos remos europeus, tornando-se uma moda cortesã partilhada por curiosos, aventureiros, naturalistas e colecionadores, cujo entusiasmo serviu de multiplicador para a construção e plantação de jardins botânicos públicos e privados rico em raridades vegetais do novo e do velho mundo. É a época das orangeries, de plantas exóticas e tropicais. O ananás, um fruto muito associado à realeza, não podia faltar neste jardim botânico, como realçou Manuel Baptista, presidente do Conselho de Administração da Parques de Sintra, ontem aquando a inauguração do Jardim Botânico do Palácio Nacional de Queluz, que contou com a presença da secretária de Estado do Ordenamento do Território e da Conservação da Natureza, Célia Ramos.
Célia Ramos e Manuel Baptista
Construído entre 1769 e 1780, este jardim botânico foi contemporâneo das grandes realizações setecentistas do período barroco-rococó nos jardins de Queluz. De pequena escala, quando comparado com outros jardins botânicos desta época, Queluz assume uma natureza de entretenimento, ao contrário do propósito eminentemente experimental dos projetos de estado, esses inspirados na fisiocracia naturalista setecentista.
Com a ida da família real para o Brasil em 1807, os jardins foram abandonados. Sucessivamente destruído por fenómenos naturais e abandonado, o jardim botânico perdeu a sua função original, tendo sido transformado em roseiral em 1940. Em 1983, na sequência das cheias que destruiriam praticamente esta zona, o jardim foi completamente desmontado e transformado numa área ampla para picadeiro da Escola Portuguesa de Arte Equestre.
Há cinco anos, a Parques de Sintra – Monte da Lua iniciou uma investigação histórica que possibilitou a consequente intervenção patrimonial com vista à reconstituição do jardim botânico de Queluz. O projeto ganhou novo ânimo com a descoberta e identificação de diversas cantarias - das fundações das estufas, das peças de água e dos ornamentos - que haviam sido desmontadas em 1984 e entretanto integradas ou esquecidas noutros lugares dos jardins de Queluz.

Legenda das plantas
Ao longo dos trabalhos de reconstrução do jardim, realizada com base num desenho de 1865, foram recriadas as quatro estufas de ananases (Ananas comosus, variedade 'Cayene'), produzidos em tempos para os banquetes de Queluz. Na construção das estufas foi reintegrada a cantaria original das fundações,  com a ajuda de desenhos históricos e como resultado das sondagens arqueológicas realizadas no local. Foram igualmente reconstruídos os alegretes e respetivos bancos e painéis azulejares, as cantarias do lago central e a estatuária de acordo com o desenho inicial do jardim.

Pormenor do alegrete

Pormenor do alegrete

Pormenor do alegrete

Foram igualmente executados caminhos em saibro granítico, sob os quais foram instaladas as diversas infraestruturas de abastecimento de água, drenagem, energia e comunicações. Uma rede de caminhos delimita 24 canteiros, representando os espaços necessários às plantações representativas das 24 ordens de plantas de Carlos Lineu. Nas bordaduras dos canteiros foram plantadas aproximadamente 10 mil plantas de murta (Myrtus communís ssp tarentina).

Serviu de base à reconstituição da coleção botânica o Index de Manuel de Moraes Soares de 1789, que reúne as espécies existentes na época no jardim Botânico de Queluz.
Estufas de ananases