São
vários os vestígios romanos que encontramos no Alentejo, como as ruínas de
Torre de Palma ou as Ruínas Romanas Ferragial d' El Rei em Alter do Chão. Por estes dias fomos à
descoberta de Ammaia, uma grande cidade romana, localizada perto de Castelo de
Vide e de Marvão, que terá tido uma área de 25 hectares
Perto de São Salvador da Aramenha, nas margens
do Rio Sever, cresceu entre os séculos I e IV d.C. a cidade de Ammaia, que é hoje em dia
o vestígio mais importante da sua época existente na região do norte
alentejano. Pensa-se que a povoação tenha sido fundada no tempo do imperador
Augusto nos finais do século I a.C., tendo sido elevada a Civitas
durante o reinado de Cláudio por volta do ano 44/45 d.C. Ainda durante o século I, terá obtido o
estatuto de Mvnicipivm - no entanto apenas existem documentos sobre o mesmo
no ano de 166 d.C. no reinado de Lúcio Vero, mais provavelmente durante a época
de Vespasiano.
Ammaia viria a desenvolver-se
como um importante núcleo urbano devido à sua localização - um ponto de
cruzamento de vias romanas que uniam importantes núcleos urbanos, por exemplo,
ligando Ammaia à capital da província, Emerita Augusta (atualmente Mérida) - e
à exploração dos recursos minerais e naturais da região, como o quartzo e o ouro.
Os lavradores foram porém
sempre encontrando partes da cidade. Muitas das pedras da antiga cidade romana
foram sendo usadas a partir do século XVI para a construção de palácios e
igrejas em Portalegre, das muralhas de Marvão e de Castelo de Vide e de várias
edificações particulares da Escusa, Porto da Espada, Portagem e S. Salvador.
Aos poucos, a cidade foi
desaparecendo até que no século XX foi redescoberta. Nos anos 40, o local foi
declarado de interesse histórico – mas além disso nada foi feito. Em 1995 iniciaram-se no local as
escavações arqueológicas que colocaram a descoberto cerca de 3 000 m2.
Graças a esses trabalhos e
à integração de abordagens
não-destrutivas em sítios arqueológicos complexos, hoje em dia já muito se pode
saber e ver sobre a cidade romana de Ammaia. No museu anexo às ruínas pode
ver-se um filme que nos dá uma visão muito abrangente de como terá sido Ammaia.
Mas é no campo que podemos ver o que resta da cidade. Duas estruturas circulares, que revelaram ser o arranque de duas torres, ladeavam a Porta Sul da cidade, estando por sua vez adossadas à muralha romana. As torres possuem um diâmetro externo de 6,30 m e estavam ligadas por um arco - Arco da Aramenha - transportado para Castelo de Vide em 1710 e posteriormente destruído. As pedras que estariam por debaixo do arco ainda hoje se veem – e deixam bem visíveis as marcas dos milhares de carros (romanos, não os carros/automóveis atuais) que por ali passaram.
Foi descoberta igualmente uma
praça pública, pavimentada com blocos de granito muito regulares. O lajeado do
lado direito possui um comprimento de 21,30 m, e uma largura de 10,75 m. Os
lajeados ladeiam uma das principais ruas da cidade (Cardo Maximus), que segue
em direção ao Fórum, possuindo cerca de 4 m de largura.
Em 1996, os trabalhos
arqueológicos identificaram um pequeno tanque revestido por placas de
mármore, que se pensa que faria parte do complexo balneário do Fórum: ou o tepidarivm (tanque de água
tépida) ou o frigidarivm (tanque
de água fria).
Atravessando a EN359, que corta a antiga cidade,
chegamos ao Forum e ao templo, do qual só se pode ver o podivm, uma estrutura retangular (18 m x 9 m).
No museu, podemos ver uma parte do imenso espólio recolhido
nos trabalhos de escavação arqueológica realizados na área da Cidade de Ammaia:
moedas, terrae sigillatae,
cerâmica comum, vidros, fragmentos de braceletes e lucernas, além duma
importante coleção de epígrafes.
Fotos: Hans-Jürgen Müller
Fotos: Hans-Jürgen Müller