segunda-feira, 6 de abril de 2015

Ammaia, uma cidade romana no Alentejo

São vários os vestígios romanos que encontramos no Alentejo, como as ruínas de Torre de Palma ou as Ruínas Romanas Ferragial d' El Rei em Alter do Chão. Por estes dias fomos à descoberta de Ammaia, uma grande cidade romana, localizada perto de Castelo de Vide e de Marvão, que terá tido uma área de 25 hectares


Perto de São Salvador da Aramenhanas  margens do Rio Sever, cresceu entre os séculos I e IV d.C. a cidade de Ammaia, que é hoje em dia o vestígio mais importante da sua época existente na região do norte alentejano. Pensa-se que a povoação tenha sido fundada no tempo do imperador Augusto nos finais do século I a.C., tendo sido elevada a Civitas  durante o reinado de Cláudio por volta do ano 44/45 d.C.  Ainda durante o século I, terá obtido o estatuto de Mvnicipivm - no entanto apenas existem documentos sobre o mesmo no ano de 166 d.C. no reinado de Lúcio Vero, mais provavelmente durante a época de Vespasiano.




Ammaia viria a desenvolver-se como um importante núcleo urbano devido à sua localização - um ponto de cruzamento de vias romanas que uniam importantes núcleos urbanos, por exemplo, ligando Ammaia à capital da província, Emerita Augusta (atualmente Mérida) - e à exploração dos recursos minerais e naturais da região, como o quartzo e o ouro.
No entanto, a partir do século V, aos poucos a cidade vai perdendo importância e inicia-se a sua decadência. A memória popular refere que "a cidade foi engolida pela terra". Por causas ainda não determinadas verifica-se que entre os séculos V e o IX, a cidade de Ammaia foi soterrada.  No século IX, já sob domínio árabe, a cidade parece ter sido utilizada por Ibn Maruan, mas rapidamente abandonada por um local mais próximo, onde hoje se localiza Marvão.




Os lavradores foram porém sempre encontrando partes da cidade. Muitas das pedras da antiga cidade romana foram sendo usadas a partir do século XVI para a construção de palácios e igrejas em Portalegre, das muralhas de Marvão e de Castelo de Vide e de várias edificações particulares da Escusa, Porto da Espada, Portagem e S. Salvador.
Aos poucos, a cidade foi desaparecendo até que no século XX foi redescoberta. Nos anos 40, o local foi declarado de interesse histórico – mas além disso nada foi feito. Em 1995 iniciaram-se no local as escavações arqueológicas que colocaram a descoberto cerca de 3 000 m2.

Graças a esses trabalhos e à integração de abordagens não-destrutivas em sítios arqueológicos complexos, hoje em dia já muito se pode saber e ver sobre a cidade romana de Ammaia. No museu anexo às ruínas pode ver-se um filme que nos dá uma visão muito abrangente de como terá sido Ammaia.


Mas é no campo que podemos ver o que resta da cidade. Duas estruturas circulares, que revelaram ser o arranque de duas torres, ladeavam a Porta Sul da cidade, estando por sua vez adossadas à muralha romana. As torres possuem um diâmetro externo de 6,30 m e estavam ligadas por um arco - Arco da Aramenha - transportado para Castelo de Vide em 1710 e posteriormente destruído. As pedras que estariam por debaixo do arco ainda hoje se veem   – e deixam bem visíveis as marcas dos milhares de carros (romanos, não os carros/automóveis atuais) que por ali passaram.


Foi descoberta igualmente uma praça pública, pavimentada com blocos de granito muito regulares. O lajeado do lado direito possui um comprimento de 21,30 m, e uma largura de 10,75 m. Os lajeados ladeiam uma das principais ruas da cidade (Cardo Maximus), que segue em direção ao Fórum, possuindo cerca de 4 m de largura.
Em 1996, os trabalhos arqueológicos  identificaram um pequeno tanque revestido por placas de mármore, que se pensa que faria parte do complexo balneário do Fórum: ou o tepidarivm (tanque de água tépida) ou o frigidarivm (tanque de água fria).

Atravessando a EN359, que corta a antiga cidade, chegamos ao Forum e ao templo, do qual só se pode ver o podivm, uma estrutura retangular (18 m x 9 m).

As escavações na área envolvente do podivm permitiram delimitar o edifício com maior monumentalidade da cidade, o Fórum. Era aqui que se centravam os poderes administrativo, religioso e judicial e onde a população da cidade e da região vinha prestar culto às divindades do panteão romano e indígena. 

No museu, podemos ver uma parte do imenso espólio recolhido nos trabalhos de escavação arqueológica realizados na área da Cidade de Ammaia: moedas, terrae sigillatae, cerâmica comum, vidros, fragmentos de braceletes e lucernas, além duma importante coleção de epígrafes.

Fotos: Hans-Jürgen Müller