sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Diário de um tratamento termal

1º dia
Uns dias antes ligáramos para a Sulfúrea, em Cabeço de Vide,  para confirmar o horário das consultas. “Todos os dias das 8h às 11h e das 15h às 17h30”.
Por causa das eleições decidimos ir à consulta de Domingo, 6/10, à tarde. Chegámos às 16h05. A inscrição foi rápida. Perguntámos quantas pessoas estavam à nossa frente : 4. E quanto tempo vai demorar: “Isso é que não lhe posso dizer. Sei lá!” 
Lembrei-me então de perguntar se as consultas já tinham começado. “Não!”
Ok. Início atrasado. O tratamento termal é também um exercício de paciência. Paciência é uma virtude, dizem is chineses.
E ali fiquei na sala de espera, felizmente cheia de luz, ... à espera....
Às 16h30 chamaram a 1ª pessoa. E logo a seguir a 2ª, a 3ª... Que consulta rápida, pensei. Afinal a chamada era para pesar e medir a tensão. No meu caso tudo ok, disse a funcionária que é ao mesmo tempo recepcionista e auxiliar de consulta.
E depois nova espera ... pela consulta. Dava ideia que o médico ainda não chegara ...
Eram quase 18h quando nos chamaram. A consulta foi rápida. Praticamente não tínhamos doenças, só um problema de sinusite crónica e de laringite recorrente.
Como já era tarde, já não dava para fazer o 1º tratamento.Fomos para casa jantar.

2º dia
Começámos os tratamentos e tudo correu sem uma única pedrinha na engrenagem. O pessoal técnico é muito simpático e atencioso.
Obviamente todos os tratamentos são feitos com a famosa água termal de Cabeço de Vide.Já os romanos utilizavam estas águas para fins medicinais. Pensa-se que a origem das termas é do ano 119 a.C. 
Estas águas são sulfurosas, hipossalinas e hipercalinas., sódicas e cálcicas, oxilidradas, com um pH muitíssimo elevado (11,5) e com elevado teor de sílica, cloretos e algum zinco.
São indicadas para doenças osteoarticulares e reumatismais crónicas, doenças das vias respiratórias e de pele. 
A sua captação é feita através de um furo a 120 m de profundidade. 


3º dia
Hoje a água estava mais quente e pareceu que até tinha mais efeito.
à tarde fomos (re)visitar as ruínas romanas de Torre de Palma e o Winehotel Torre de Palma. 
Estas ruínas romanas foram descobertas por acaso. Segundo reza a história, "numa manhã de março de 1947, a aiveca do charrueco de Joaquim Inocêncio, pôs a descoberto um pequeno fragmento de mármore trabalhado que pertencia ao capitel de uma coluna. À hora do jantar, ao meio-dia, engoliu rapidamente a açorda, muniu-se de um enchadão e foi direito ao local. A uns cinquenta centímetros de profundidade encontrou um pavimento de pedrinhas coloridas com figurações para ele totalmente desconhecidas.(...) Consciente do que tinha diante dos olhos, mandou remover alguma terra em volta da porção de mosaicos visível - deste modo começou a pôr a descoberto nada mais nada menos, do que o monumental Mosaico das Musas de 10,24m x 6,35m” (Lavoura Portuguesa,  nº.3 – 4, Março - Abril – 1967)
Saímos do telheiro que serve de bilheteira e começámos a visita pelas ruínas da Basílica Paleo-Cristã, provavelmente do século IV, com três naves de sete tramas e absides contrapostas, a qual tinha um batisfério em forma de cruz, de Lorena, com dois lanços opostos de quatro degraus, considerado como sendo um dos mais complexos da Península Ibérica, só paralelos na Palestina e no Norte de África.
Basílica Palo-Cristã
Depois aventurámo-nos pelo campo adentro, para visitarmos a Villa rustica. Trata-se duma sumptuosa residência que terá pertencido a uma poderosa família romana, os Basilii, cujo nome é conhecido através de uma inscrição encontrada no local, que aqui viveram entre os séculos II e IV e aqui construíram uma sumptuosa residência, explorando um vasto latifúndio, que incluía lagares, celeiros e outras dependências agrícolas.
A villa desenvolve-se em torno de um vasto pátio interior, de forma trapezoidal. As amplas instalações da residência dos proprietários, cuja entrada principal se fazia através do tablinum ou sala de receção, onde se encontrava o célebre mosaico das Musas, agora em Lisboa, estavam dispostas em torno de um peristylium, um pátio quadrangular com um alpendre assente em colunas que tinha um tanque ao meio, o impluvium, e era pavimentado com mosaicos diversos.
A axedra, a sala destinada à prática musical e ao convívio, abria também para o pátio, e o seu pavimento era constituído pelo mosaico dos cavalos. A sala dos banquetes ou triclinium, estava revestida de frescos com desenhos de flores e frutos; o pavimento era constituído por um mosaico com reproduções de flores.

Mesmo tendo sido despojada do seu principal tesouro, vale ainda a pena visitar a Torre de Palma, entre Vaiamonte e Monforte, no Alentejo.

A 150 m das ruínas está o Torre de Palma Wine HotelA antiga Herdade de Torre de Palma  da Sociedade Agrícola da família Costa Pinto, de mais de 2000 hectares, esteve durante mais de três décadas ao abandono. Tendo sido ocupada durante a Reforma Agrária, foi sede duma cooperativa agrícola durante nove anos. Começou então uma dura batalha jurídica entre os antigos proprietários, a família Costa Pinto, e o rendeiro, Dr. Teófilo Duarte, que chegou a ir até ao Tribunal Europeu. A ação foi ganha pelo rendeiro que acabou por vender a propriedade a um casal de farmacêuticos de Vila Fernando, Paulo Barrada Rebelo e Ana Isabel Rebelo, que se apaixonaram por ela assim que a conheceram. Uma história de amor que deu frutos: uma bela unidade hoteleira exclusiva entre Vaiamonte e Monforte.
Durante dois anos e dois meses e com um investimento de 6 milhões de euros, operou-se a transformação de edifícios agrícolas a um hotel, num compromisso muito bem conseguido entre o moderno e o tradicional.
Foram incorporados quer na arquitetura quer na decoração, tudo o possível. Infelizmente, muitos objetos tipicamente alentejanos desapareceram ao longo dos anos, como por exemplo, a bela mesa dos ganhões, as pias batismais e as cantarias da capela, entre outros.
Assim que se passa o original portão de grades, agora recuperado, fica-se numa ampla eira. À frente a antiga casa senhorial com a torre no cimo da qual um catavento com um orgulhoso galo marca presença. 
Antes de entrarmos na casa senhorial, paramos na pequena capela, à esquerda. Pequena, simples, todas em branco, com um altar de mármore sobre o qual está pendurado um belíssimo Cristo, feito em cortiça pelo artista plástico Pedro Vaza que, com esta obra, mostra mais uma vez a relação ancestral do homem com a natureza, tão típica do seu trabalho.
Entramos então na casa principal e subimos à torre que aprece rasgar o céu. Do seu alto, o cenário não poderia ser mais idílico, com o olhar a perder-se pela imensidão das terras, ainda com algumas searas e vinha. Visto do daqui, o pôr-do-sol é lindo, deixando o horizonte pintado com tons alaranjados dum fim de dia alentejano. 
Os alojamentos foram inspirados na vivência diária dos romanos. Marcados pela simplicidade e sofisticação, os 19 alojamentos (oito casas típicas alentejanas, um loft rural, cinco quartos no antigo celeiro e casa senhorial) esperam o visitante. As unidades de alojamentos, todas com uma decoração diferente, têm quarto e sala de jantar/de estar, mas não têm cozinha, podendo as refeições serem encomendadas no restaurante. 
Todos os locais comuns são polivalentes e multifunções. 
Nas antigas cavalariças foi instalado o bar, amplo e com baloiços como assentos. A biblioteca está na Sala da Torre. Na antiga cozinha com uma enorme lareira — aliás no hotel existem 21 lareiras — está a sala de jogos.
Para relaxar, o hotel tem à disposição não só duas piscinas (uma interior e uma exterior), como um spa e oferece ainda passeios pedestres, de BTT e a cavalo. Na adega está a loja onde se podem comprar não só o vinho da casa como produtos da região.



4º a 8º dias
Além dos tratamentos para as vias respiratórias - aerossóis, inalação, irrigação - fizemos também massagens. Fomos atendidas por uma massagista brasileira de Minas Gerais, Silvana Prudenciano, atleta de BTT e professora de Educação Física com "várias formações na área da massagem", há vários anos em Portugal. Em Portalegre vive somente há 4 meses.  
As tardes foram aproveitadas ou para passear de bicicleta, por exemplo, até Fronteira ou Alter do Chão ou para passear a pé pelos campos ou para ficar em casa a ler.
Enfim, 8 dias de tratamentos e sossego. Veremos como passaremos o inverno.