Quando
as expectativas são baixas, tudo nos agrada. Aproveitando uma ótima promoção,
viemos passar um fim de semana ao Porto Santo. Os horários do voo direto da TAP
são fantásticos para este efeito: saída de Lisboa na 6ª f às 20h05 e regresso
no domingo às 23h30. Seria perfeito se a TAP cumprisse os horários.
Marcámos
quarto, ou melhor uma suite com varanda virada para a piscina e ao longe o mar,
na INATEL. Em maio passado decidimos associar-nos. E no verão surgiu o “Dia
Louco”: durante 24 h todas as unidades da Inatel estavam com 50% de desconto.
Resumindo: por duas noites numa suite em regime de pequeno-almoço pagámos ...
€60!
O
avião partiu pontualmente. Apesar de ser um voo com uma duração de somente
1h35, a TAP oferece um pequeno snack e uma grande variedade de bebidas com e
sem álcool: um wrap vegetariano de cogumelos, espinafre e queijo, queijo fresco
e bolachas de água e sal e uma amêndoa de chocolate. O vinho servido - apesar
de ter um nome horrível (Pouca Roupa!!!!!) - era bom.
O
aeroporto é minúsculo, como é de esperar numa ilha com 12 km de comprimento e 6
km de largura. Na placa havia um único avião: o que nos trouxe!
Saímos
do terminal e procurámos um táxi. Na praça de táxis havia somente dois.
- Isto agora é difícil. Chegou também um barco.
Esperámos
uns 5 minutos e lá apareceu um carro - amarelo, claro, que esta é a cor dos
táxis na Madeira - que nos trouxe para o Inatel, que fica quase na Ponta da
Calheta.
Como já nos tinham sido pedidos por e-mail os dados de identificação, o check-in foi
muito simples e rápido: dissemos o nome e deram-nos a chave do quarto... e o
comando da televisão.
O
quarto é espartano mas espaçoso e confortável. Não tem quadros nas paredes nem
nada supérfluo. Somente o necessário para dormir bem.
Acordar.
Abrir as cortinas. Deixar entrar o sol.
O
pequeno-almoço é na cave mas ao nível da piscina, uma sala de refeições com
muita luz. E com uma grande oferta. Nunca esperei encontrar num hotel de 3 ***
estrelas um bufete ao pequeno-almoço. Com uma boa oferta de pão fresco, dois
tipos de queijo (flamengo e mozzarella), fiambre e fiambre de peru, vários
cereais, resumindo, um bom pequeno-almoço.
Com
energia suficiente pusemo-nos a caminho - para uma caminhada de 22 km! Seguimos
pela praia, pela areia dourada, até à cidade.
Perto
da cidade a praia deixa de ser somente de areia para ter muitas pedras. Parece
que, a partir do momento em que foi construído o Porto de Abrigo do Porto
Santo, a areia que circula com as marés ali fica presa, acumulando-se dentro do
Porto de Abrigo.
Estátua de Cristóvão Colombo |
Estátua do Infante D. Henrique |
Passámos as estátuas de Cristóvão Colombo e do Infante D. Henrique e começámos
então a subida até ao Pico do Facho, ponto mais alto ilha,com 516 m de
altitude. Vai-se pela estrada mas não incomoda pois há pouquíssimo trânsito
para lá. Em tempos, este pico foi importante, pois era daqui que se informava a
população da ilha e da Madeira da aproximação de piratas.
Agora
o cimo está ocupado pela NAV que ali tem as suas infraestruturas de radar.
Interessante
haver muitos picos aqui em Porto Santo. Dizem que eram as chaminés dos vulcões
há mais de 10 milhões de anos.
No
regresso ao hotel fomos surpreendidos pela chuva que tinha passado o dia a
ameaçar cair. Chegámos completamente encharcados.
O
inatel não tem secadores de cabelomas empresta um a pedido.
Depois
de um belo duche quente, preparámo-nos para o jantar na Ponta da Calheta. Porém
para aperitivo - e enquanto esperávamos que chegasse a carrinha que nos iria
levar ao restaurante - quisemos beber uma poncha. Pedimos no bar do inatel.
Veio o barman João Rocha que nos preparou na hora a poncha tradicional
madeirense feita de aguardente de cana,açúcar e sumo de limão: No fundo de um
copo colocou a casca de 1/2 limão e 2 colheres de açúcar. Bateu com o pau do
almofariz
Juntou
1 copo de aguardente de cana, 1/2 copo de sumo de 1 limão e 1/2 copo de 1
laranja e mel a gosto. Bateu bem com o caralhinho, o pau usado para mexer a poncha. Coou e serviu-nos.
Segundo
uns historiadores um antecedente longínquo desta bebida já era usado nas
navegações portuguesas e castelhanas do século XVI: nas longas viagens
marítimas, conservava-se o limão em aguardente e mel de cana. No Brasil
originou a caipirinha e em Cabo Verde o grogue . E na Índia o pãnch, feita com
arrack – aguardente de arroz ou noz de coco -, sumo de limão, açúcar,
especiarias e água.
Logo
chegou o transporte - gratuito - para o restaurante Ponta da Calheta. O
restaurante está mesmo em frente do Ilhéu da Cal, tão perto que me apeteceu
nadar até lá - mas não dá por causa das correntes cruzadas. Tive pena!
Ilhéu da Cal |
Consolei-me
com a boa comida da cozinheira Celina. A sopa de peixe, à base de atum, estava
divinal. O atum fresco grelhado com milho frito estava de comer e chorar por
mais.
Sopa de peixe |
Atum grelhado com milho frito |
Pudim de maracujá |
Mas quando fui falar com a Celina para ela me explicar como fazia ...
fiquei a saber que compra já congelado na Madeira e só frita no restaurante.
Mas não deixa de ser bom. Tudo vem da Madeira. Os pescadores e outros
fornecedores artesanais do Porto Santo não têm atividade declarada nas Finanças
e não podendo passar facturas não podem ser considerados fornecedores... É uma
pescadinha de rabo na boca. E há que cumprir a lei. Ainda há meses o restaurante
foi alvo de uma rusga por parte da GNR. Entraram por ali adentro e investigaram
tudo.
O nascer do sol da janela do nosso quarto |
O
dia amanheceu cheio de sol, mesmo convidativo para um nova caminhada, desta
feita pelo lado sudoeste da ilha.
Caminhámos
pela praia até à Ponta da Calheta. Apesar de nos terem dito que não dava,
tentámos chegar à praia do Zimbralinho pelas falésias. A maré estava a subir e a
meio do caminho concluímos que não iríamos conseguir. As ondas já estavam a
bater por onde passávamos e resolver voltar para trás e fazer o caminho
indicado pela estrada.
As
falésias do Cabeço das Flores, na ponta mais a oeste do Porto Santo, e
que formam a baía do Zimbralinho, elevam-se a cerca de 183 metros acima do
nível do mar. Em direcção ao horizonte, no lado sudeste, erguem-se as Ilhas
Desertas – onde moram as cagarras... Do lado sudoeste, vislumbra-se a ilha da a
Madeira.
Baía do Zimbralinho |
Desde
o entroncamento para o miradouro do Cabeço das Flores, o caminho à direita
segue em direcção ao Zimbralinho - 1 km de terra batida muitíssimo
íngreme. Mas vale a pena. Pelo caminho, pontinhos brancos chamaram a nossa
atenção: eram m fósseis de caracóis. Milhares de fósseis de caracol. A 400 m da
enseada, onde o caminho se torna mais íngreme uns cartazes bem visíveis avisam
do perigo de queda de pedras. A ida até à enseada faz-se por risco próprio. Nós
arriscámos. Realmente nota-se que ali muitas pedras se soltam da falésia.
Felizmente chegámos sãos e salvos à enseada. A praia é somente de calhau mas as
águas são turquesas e totalmente cristalinas. Depois de um belo banho nas águas
cálidas comemos a nossa sandes ao som das pedras a rolarem nas ondas.
Havia
que arranjar força para subirmos uma ladeira íngreme de 1km de extensão.
Felizmente no caminho há muito que ver para nos distrair do esforço da subida,
como por exemplo, as sequências vulcânicas submarinas, de natureza basáltica,
contemporâneas da fase de pré-emersão da ilha. Ou os melhores exemplares de
lavas em almofada ou em rolo (pillow lavas), devido ao seu aspeto de
secção sensivelmente esférica. Estas
lavas são representativas de erupções subaquáticas.
Também
se pode ver alteração do tipo esferoidal ou em bola, que ocorre frequentemente
em rochas de origem magmática, devido ação erosiva causada pela diferença de
temperatura e em especial pela ação química da água.
O que nos chamou a atenção foram muitos pontinhos brancos no meio das pedras. Aproximámo-nos e vimos que eram milhares de fósseis de caracóis.
De
regresso à estrada, parámos na Adega das Levadas onde o Sr. Caetano produz
vinho generoso a partir de castas autóctones: canim, jaqué e um pouco de
caracol para o vinho doce e monocasta caracol
para o vinho seco. Na sua propriedade tem também "pregilo", uma planta comestível
cozida e em escabeche ou como salada.
A adega da Adega das Levadas do Sr. Caetano |
Aguardente de vinho com paus de cana do açúcar |
O nosso último jantar foi no restaurante Panorama, na ponta nordeste da ilha com uma fantástica vista para toda a ilha e um lugar privilegiado para ver o pôr do sol.
Mesmo com nuvens o pôr do sol é maravilhoso |
Fantástica vista sobre toda a ilha |
Adquirido há quatro anos por um jovem casal da Madeira, o restaurante tem um pessoal muito afável e uma cozinha fantástica e muito cuidada. Deliciámo-nos com camarão frito à entrada, medalhões de atum fresco braseado com puré de batata doce e legumes estufados e tarte de abóbora com gelado de baunilha para a sobremesa.
Camarão frito |
Atum braseado sobre puré de batata doce e legumes estufados |
Todo o nosso fantástico fim de semana sofreu uma grande impato negativo como voo de regresso da TAP que atrasou 2 horas! Partimos às 00h45, só tendo aterrado em Lisboa às 2h da manhã. A informação da TAP aos passageiros foi nula e nenhum gesto de simpatia no seguimento deste atraso.