segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Porto Santo, a bela ilha dourada




Quando as expectativas são baixas, tudo nos agrada. Aproveitando uma ótima promoção, viemos passar um fim de semana ao Porto Santo. Os horários do voo direto da TAP são fantásticos para este efeito: saída de Lisboa na 6ª f às 20h05 e regresso no domingo às 23h30. Seria perfeito se a TAP cumprisse os horários.
Marcámos quarto, ou melhor uma suite com varanda virada para a piscina e ao longe o mar, na INATEL. Em maio passado decidimos associar-nos. E no verão surgiu o “Dia Louco”: durante 24 h todas as unidades da Inatel estavam com 50% de desconto. Resumindo: por duas noites numa suite em regime de pequeno-almoço pagámos ... €60!
O avião partiu pontualmente. Apesar de ser um voo com uma duração de somente 1h35, a TAP oferece um pequeno snack e uma grande variedade de bebidas com e sem álcool: um wrap vegetariano de cogumelos, espinafre e queijo, queijo fresco e bolachas de água e sal e uma amêndoa de chocolate. O vinho servido - apesar de ter um nome horrível (Pouca Roupa!!!!!) - era bom.
O aeroporto é minúsculo, como é de esperar numa ilha com 12 km de comprimento e 6 km de largura. Na placa havia um único avião: o que nos trouxe!
Saímos do terminal e procurámos um táxi. Na praça de táxis havia somente dois.
- Isto agora é difícil. Chegou também um barco.
Esperámos uns 5 minutos e lá apareceu um carro - amarelo, claro, que esta é a cor dos táxis na Madeira - que nos trouxe para o Inatel, que fica quase na Ponta da Calheta.
Como já nos tinham sido pedidos por e-mail os dados de identificação, o check-in foi muito simples e rápido: dissemos o nome e deram-nos a chave do quarto... e o comando da televisão.
O quarto é espartano mas espaçoso e confortável. Não tem quadros nas paredes nem nada supérfluo. Somente o necessário para dormir bem.

Acordar. Abrir as cortinas. Deixar entrar o sol.
O pequeno-almoço é na cave mas ao nível da piscina, uma sala de refeições com muita luz. E com uma grande oferta. Nunca esperei encontrar num hotel de 3 *** estrelas um bufete ao pequeno-almoço. Com uma boa oferta de pão fresco, dois tipos de queijo (flamengo e mozzarella), fiambre e fiambre de peru, vários cereais, resumindo, um bom pequeno-almoço.

Com energia suficiente pusemo-nos a caminho - para uma caminhada de 22 km! Seguimos pela praia, pela areia dourada, até à cidade.

Perto da cidade a praia deixa de ser somente de areia para ter muitas pedras. Parece que, a partir do momento em que foi construído o Porto de Abrigo do Porto Santo, a areia que circula com as marés ali fica presa, acumulando-se dentro do Porto de Abrigo.
Estátua de Cristóvão Colombo

Estátua do Infante D. Henrique

Passámos as estátuas de Cristóvão Colombo e do Infante D. Henrique e começámos então a subida até ao Pico do Facho, ponto mais alto ilha,com 516 m de altitude. Vai-se pela estrada mas não incomoda pois há pouquíssimo trânsito para lá. Em tempos, este pico foi importante, pois era daqui que se informava a população da ilha e da Madeira da aproximação de piratas.

Agora o cimo está ocupado pela NAV que ali tem as suas infraestruturas de radar.

Interessante haver muitos picos aqui em Porto Santo. Dizem que eram as chaminés dos vulcões há mais de 10 milhões de anos.


No regresso ao hotel fomos surpreendidos pela chuva que tinha passado o dia a ameaçar cair. Chegámos completamente encharcados.
O inatel não tem secadores  de cabelomas empresta um a pedido.
Depois de um belo duche quente, preparámo-nos para o jantar na Ponta da Calheta. Porém para aperitivo - e enquanto esperávamos que chegasse a carrinha que nos iria levar ao restaurante - quisemos beber uma poncha. Pedimos no bar do inatel. Veio o barman João Rocha que nos preparou na hora a poncha tradicional madeirense feita de aguardente de cana,açúcar e sumo de limão: No fundo de um copo colocou a casca de 1/2 limão e 2 colheres de açúcar. Bateu com o pau do almofariz
Juntou 1 copo de aguardente de cana, 1/2 copo de sumo de 1 limão e 1/2 copo de 1 laranja e mel a gosto. Bateu bem com o caralhinho, o pau usado para mexer a poncha. Coou e serviu-nos.
Segundo uns historiadores um antecedente longínquo desta bebida já era usado nas navegações portuguesas e castelhanas do século XVI: nas longas viagens marítimas, conservava-se o limão em aguardente e mel de cana. No Brasil originou a caipirinha e em Cabo Verde o grogue . E na Índia o pãnch, feita com arrack – aguardente de arroz ou noz de coco -, sumo de limão, açúcar, especiarias e água.

Logo chegou o transporte - gratuito - para o restaurante Ponta da Calheta. O restaurante está mesmo em frente do Ilhéu da Cal, tão perto que me apeteceu nadar até lá - mas não dá por causa das correntes cruzadas. Tive pena!
Ilhéu da Cal

Consolei-me com a boa comida da cozinheira Celina. A sopa de peixe, à base de atum, estava divinal. O atum fresco grelhado com milho frito estava de comer e chorar por mais. 
Sopa de peixe

Atum grelhado com milho frito


Pudim de maracujá
Mas quando fui falar com a Celina para ela me explicar como fazia ... fiquei a saber que compra já congelado na Madeira e só frita no restaurante. Mas não deixa de ser bom. Tudo vem da Madeira. Os pescadores e outros fornecedores artesanais do Porto Santo não têm atividade declarada nas Finanças e não podendo passar facturas não podem ser considerados fornecedores... É uma pescadinha de rabo na boca. E há que cumprir a lei. Ainda há meses o restaurante foi alvo de uma rusga por parte da GNR. Entraram por ali adentro e investigaram tudo.

O nascer do sol da janela do nosso quarto 
O dia amanheceu cheio de sol, mesmo convidativo para um nova caminhada, desta feita pelo lado sudoeste da ilha.

Caminhámos pela praia até à Ponta da Calheta. Apesar de nos terem dito que não dava, tentámos chegar à praia do Zimbralinho pelas falésias. A maré estava a subir e a meio do caminho concluímos que não iríamos conseguir. As ondas já estavam a bater por onde passávamos e resolver voltar para trás e fazer o caminho indicado pela estrada.
As falésias do Cabeço das Flores, na ponta mais a oeste do Porto Santo, e que formam a baía do Zimbralinho, elevam-se a cerca de 183 metros acima do nível do mar. Em direcção ao horizonte, no lado sudeste, erguem-se as Ilhas Desertas – onde moram as cagarras... Do lado sudoeste, vislumbra-se a ilha da a Madeira.
Baía do Zimbralinho


Desde o entroncamento para o miradouro do Cabeço das Flores, o caminho à direita segue em direcção ao Zimbralinho - 1 km de terra batida muitíssimo íngreme. Mas vale a pena. Pelo caminho, pontinhos brancos chamaram a nossa atenção: eram m fósseis de caracóis. Milhares de fósseis de caracol. A 400 m da enseada, onde o caminho se torna mais íngreme uns cartazes bem visíveis avisam do perigo de queda de pedras. A ida até à enseada faz-se por risco próprio. Nós arriscámos. Realmente nota-se que ali muitas pedras se soltam da falésia. Felizmente chegámos sãos e salvos à enseada. A praia é somente de calhau mas as águas são turquesas e totalmente cristalinas. Depois de um belo banho nas águas cálidas comemos a nossa sandes ao som das pedras a rolarem nas ondas.
Havia que arranjar força para subirmos uma ladeira íngreme de 1km de extensão. Felizmente no caminho há muito que ver para nos distrair do esforço da subida, como por exemplo, as sequências vulcânicas submarinas, de natureza basáltica, contemporâneas da fase de pré-emersão da ilha. Ou os melhores exemplares de lavas em almofada ou em rolo (pillow lavas), devido ao seu aspeto de secção sensivelmente esférica. Estas lavas são representativas de erupções subaquáticas.
Também se pode ver alteração do tipo esferoidal ou em bola, que ocorre frequentemente em rochas de origem magmática, devido ação erosiva causada pela diferença de temperatura e em especial pela ação química da água.
O que nos chamou a atenção foram muitos pontinhos brancos no meio das pedras. Aproximámo-nos e vimos que eram milhares de fósseis de caracóis.



De regresso à estrada, parámos na Adega das Levadas onde o Sr. Caetano produz vinho generoso a partir de castas autóctones: canim, jaqué e um pouco de caracol para o vinho doce e monocasta caracol para o vinho seco. Na sua propriedade tem também "pregilo", uma planta comestível cozida e em escabeche ou como salada.
A adega da Adega das Levadas do Sr. Caetano

Aguardente de vinho com paus de cana do açúcar

O nosso último jantar foi no restaurante Panorama, na ponta nordeste da ilha com uma fantástica vista para toda a ilha e um lugar privilegiado para ver o pôr do sol. 
Mesmo com nuvens o pôr do sol é maravilhoso

Fantástica vista sobre toda a ilha

Adquirido há quatro anos por um jovem casal da Madeira, o restaurante tem um pessoal muito afável e uma cozinha fantástica e muito cuidada. Deliciámo-nos com camarão frito à entrada, medalhões de atum fresco braseado com puré de batata doce e legumes estufados e tarte de abóbora com gelado de baunilha para a sobremesa. 

Camarão frito

Atum braseado sobre puré de batata doce e legumes estufados



Todo o nosso fantástico fim de semana sofreu uma grande impato negativo como  voo de regresso da TAP que atrasou 2 horas! Partimos às 00h45, só tendo aterrado em Lisboa às 2h da manhã. A informação da TAP aos passageiros foi nula e nenhum gesto de simpatia no seguimento deste atraso.