Toda a cidade de
Nottingham está construída sobre várias camadas de casas, formando um conjunto
de centenas de grutas, um verdadeiro labirinto feito por gerações passadas onde
se vivia, trabalhava, se divertia e até se morria durante mais de 1000 anos.
Nottingham está construída sobre arenito macio, uma pedra fácil de trabalhar
com instrumentos rudimentares e que permite a criação de grutas onde as pessoas
se podiam abrigar do frio e da chuva e de animais ferozes – o local ideal para
se ficar se não se tivessem posses. Bastava ter uma pá, um ferro ou um martelo
e rapidamente construía uma “casa” para si e para a sua família.
Atualmente, a cidade de Nottingham já catalogou mais de 500 grutas na
cidade, incluindo 100 que só foram descobertas nos últimos quatro anos.
Antigamente, Nottingham era conhecida por Tigguo Cobauc que
significa “local de grutas”, tendo sido assim referida pelo monge galês Asser,
mais tarde bispo de Sherborne, na sua obra A vida do rei Alfredo I, escrita em 893 d.C. quando estava ao
serviço do rei. A parte das grutas que hoje se pode visitar é o que de mais
antigo existe na cidade. Aqui foram encontradas peças de barro que datam do
século XIII. Estas grutas foram habitadas até 1845 quando foi publicada uma
lei, a chamada “St.
Mary's Inclosure Act, que proibiu o aluguer de caves e grutas para habitação.
Nos finais dos anos 60 do século XX, quando se
iniciou a construção do Centro Comercial Broadmarsh ainda
se ponderou encher as grutas de cimento. Felizmente, foi criado um movimento
cívico para a proteção das grutas que conseguiu a sua classificação como Monumento
Histórico; as grutas foram então limpas por voluntários e abertas ao público em
1978.
Das partes mais interessantes das grutas são os curtumes que ali estiveram
em funcionamento de aproximadamente 1500 a 1640. É o único curtume subterrâneo
conhecido no Reino Unido. Ainda se podem ver os tanques circulares na Gruta da
Coluna e uns tanques retangulares numa outra gruta. Como os tanques são
pequenos, pensa-se que ali só eram curtidas peles de caprinos e ovinos. Havia
uma abertura que dava para o rio Leen onde provavelmente as peles seriam
lavadas. O cheiro nas grutas deveria ser insuportável pois as peles eram
hidratadas com fezes e urina de animais durante três meses, a que se seguia um
estágio de 16 meses em ácidos à base de casca de carvalho e água – não é de
admirar assim que os curtidores tivessem uma esperança de vida muito curta, de
somente 27 anos. No entanto, o cheiro horrível dos curtumes não tinha somente
desvantagens: quando a peste negra grassou na região matando milhares de
pessoas, os curtidores sobreviviam pois nem os ratos se atreviam a entrar
naquelas grutas.
O bairro do Monte Drury era, como é fácil de imaginar, uma das piores zonas da cidade, sendo
até um dos piores bairros de lata da Grã-Bretanha do século XIX. Famílias
enormes viviam, dormiam e comiam em “casas” de uma única “assoalhada” nas
grutas, completamente sobrepovoadas e sem saneamento algum e onde grassavam
doenças como a cólera, tuberculose e varicela. A única medida possível era
fecharem-se as grutas.
No entanto, durante a 2ª Grande Guerra, 86 grutas foram reabertas para
servir de bunker. Como o arenito
macio é muito forte, as grutas eram o lugar mais seguro para proteger os
habitantes dos raids aéreos alemães,
especialmente durante o grande bombardeamento de 8 de maio de 1941, durante o
qual a Força Aérea Alemã largou sobre a cidade 400 bombas incendiárias.
Hoje em dia, as grutas servem a paz, podendo ser visitadas por turistas e
escolas.