quarta-feira, 18 de abril de 2018

As grutas de Nottingham – uma cidade sob a cidade



Toda a cidade de Nottingham está construída sobre várias camadas de casas, formando um conjunto de centenas de grutas, um verdadeiro labirinto feito por gerações passadas onde se vivia, trabalhava, se divertia e até se morria durante mais de 1000 anos.
Nottingham está construída sobre arenito macio, uma pedra fácil de trabalhar com instrumentos rudimentares e que permite a criação de grutas onde as pessoas se podiam abrigar do frio e da chuva e de animais ferozes – o local ideal para se ficar se não se tivessem posses. Bastava ter uma pá, um ferro ou um martelo e rapidamente construía uma “casa” para si e para a sua família.
Atualmente, a cidade de Nottingham já catalogou mais de 500 grutas na cidade, incluindo 100 que só foram descobertas nos últimos quatro anos.
Antigamente, Nottingham era conhecida por Tigguo Cobauc que significa “local de grutas”, tendo sido assim referida pelo monge galês Asser, mais tarde bispo de Sherborne, na sua obra A vida do rei Alfredo I, escrita em 893 d.C. quando estava ao serviço do rei. A parte das grutas que hoje se pode visitar é o que de mais antigo existe na cidade. Aqui foram encontradas peças de barro que datam do século XIII. Estas grutas foram habitadas até 1845 quando foi publicada uma lei, a chamada “St. Mary's Inclosure Act, que proibiu o aluguer de caves e grutas para habitação.
Nos finais dos anos 60 do século XX, quando se iniciou a construção do Centro Comercial Broadmarsh ainda se ponderou encher as grutas de cimento. Felizmente, foi criado um movimento cívico para a proteção das grutas que conseguiu a sua classificação como Monumento Histórico; as grutas foram então limpas por voluntários e abertas ao público em 1978.
Das partes mais interessantes das grutas são os curtumes que ali estiveram em funcionamento de aproximadamente 1500 a 1640. É o único curtume subterrâneo conhecido no Reino Unido. Ainda se podem ver os tanques circulares na Gruta da Coluna e uns tanques retangulares numa outra gruta. Como os tanques são pequenos, pensa-se que ali só eram curtidas peles de caprinos e ovinos. Havia uma abertura que dava para o rio Leen onde provavelmente as peles seriam lavadas. O cheiro nas grutas deveria ser insuportável pois as peles eram hidratadas com fezes e urina de animais durante três meses, a que se seguia um estágio de 16 meses em ácidos à base de casca de carvalho e água – não é de admirar assim que os curtidores tivessem uma esperança de vida muito curta, de somente 27 anos. No entanto, o cheiro horrível dos curtumes não tinha somente desvantagens: quando a peste negra grassou na região matando milhares de pessoas, os curtidores sobreviviam pois nem os ratos se atreviam a entrar naquelas grutas.
O bairro do Monte Drury era, como é fácil de imaginar, uma das piores zonas da cidade, sendo até um dos piores bairros de lata da Grã-Bretanha do século XIX. Famílias enormes viviam, dormiam e comiam em “casas” de uma única “assoalhada” nas grutas, completamente sobrepovoadas e sem saneamento algum e onde grassavam doenças como a cólera, tuberculose e varicela. A única medida possível era fecharem-se as grutas.
No entanto, durante a 2ª Grande Guerra, 86 grutas foram reabertas para servir de bunker. Como o arenito macio é muito forte, as grutas eram o lugar mais seguro para proteger os habitantes dos raids aéreos alemães, especialmente durante o grande bombardeamento de 8 de maio de 1941, durante o qual a Força Aérea Alemã largou sobre a cidade 400 bombas incendiárias.

Hoje em dia, as grutas servem a paz, podendo ser visitadas por turistas e escolas.