Estávamos em Beirute, mas
logo depois do pequeno-almoço partimos para o interior. A saída de Beirute
estava totalmente entupida. Depois, começámos a subir, mas não descobríamos a
auto-estrada. Parámos numa farmácia, perguntei pela auto-estrada… era aquela a
estrada para Baalbeck. Auto-estrada não havia... A estrada era péssima, sempre
a subir, só com duas faixas, cheia de camionetas. Mas finalmente, o trânsito
melhorou, a estrada melhorou, e o caminho tornou-se bem agradável. Montanhas,
montanhas, áridas, sem vegetação alguma, cabras e ovelhas.
Primeira paragem, Aanjar,
também conhecida por Haouch Moussa (a quinta de Moisés). Foi fundada por refugiados
arménios que fugiram da Turquia, do “Grande Genocídio” de 1915, no qual pereceu
mais de um milhão de pessoas.
Interessante em Aanjar são as
ruínas da antiga cidade omíada, construída há 1300 anos. A cidade era
fortificada, cortada em quatro quartos iguais por duas grandes avenidas de 20 m de largura. Foi
construída nos primeiros tempos do Islão, sentindo-se assim ainda grandes
influências das antigas culturas. Parece que o material usado foi reciclado de
antigas estruturas bizantinas, romanas e gregas.
Visitar Aanjar à hora de
maior calor não terá sido ideal, mas foi a hora possível… Havia relativamente
poucos turistas, mas… uma cobra enorme, talvez de 1.5 m , bem preta que se
assustou com os nossos passos.
Para refrescar, fomos até
Ksara, onde visitámos as caves. O Chateau de Ksara são as caves mais antigas do
Líbano — o nome vem da palavra árabe qsar que quer dizer castelo. As
primeiras vinhas foram plantadas em 1857 por padres jesuítas. O vinho amadurece
numas caves naturais, nuns túneis já usados pelos romanos e descobertos durante
a 1ª Grande Guerra por mero acaso, como quase sempre acontece nestes casos—2 km
de túneis a uma temperatura constante de 11 a 13º C. Além de vinho branco e tinto
mono-castas e de multicastas, as caves também produzem arak, a
aguardente de anis tão apreciada no Líbano e na Turquia.
Ao final da tarde chegámos a
Baalbeck, o centro da Herzbollah no Líbano, mas também o local onde se encontra
o maior complexo de templos do império romano. Nem em Itália existe um complexo
tão grande! É algo fenomenal. O muro à volta tem pedras de 1 toneladas — como
foi possível trazê-las até ali e colocá-las exactamente umas ao lado das
outras! Andamos pelos templos e sentimos a História a ser-nos contada pelas
pedras. Sobreviveram ao tempo, às guerras aos tremores de terra, um conjunto de
seis colunas com a trave mestra original e um templo maior que o Partenon (!),
com as suas colunas e o seu tecto todo trabalhado em baixos-relevos.
Ficámos
num hotel mesmo em frente das ruínas de Baalbeck — fenomenal abrir a porta da
varanda e ver a monumental escadaria, mandada construir pelo imperador
Caracalla, que leva ao propileae, um pórtico de doze colunas flanqueadas
por duas torres de base triangular. De resto o hotel era simples, três camas e
um lavatório, casa de banho e duches comuns. Mas por US$ 30 por noite não se
pode pedir muito mais...
Baalbek
significa "Deus do Sol (Baal) de
Beqaa" e se refere à região da planície fértil de Beqaa. Segundo
historiadores libaneses, o local não era muito importante no passado, pois não
se conhecem registos em textos assírios ou egípcios. Sabemos que foi habitada
por fenícios; o local foi escolhido por estar próximo de nascentes de água e
dos rios Litani e Al-Aasi. Na era dos Seljúcidas e dos Romanos, a cidade era
conhecida por Heliópolis (ou "A Cidade do Sol").
A
época de ouro de Baalbek começou quando o Imperador Júlio César fundou uma
colónia romana na área e construiu um templo em homenagem ao deus Júpiter, com
um vão central de mais 4000 metros quadrados , com os maiores granitos
em peça única do mundo.Depois do governo do Imperador Trajano, que em muito
privilegiou a adoração ao Deus Júpiter, que segundo ele, travou importantes
batalhas junto ao Império Romano. Trajano, inclusive, construiu jardins que
ligavam a cidade ao templo, com hexaedros de grande tamanho.
Na volta que demos pela cidade, descobrimos a bela mesquita,
coberta de azulejos azuis e desenhos persas. É o mausoléu de Khawla, a filha do
íman al Hussein. Era dia de festa. Entrámos, mas sentimos alguma hostilidade.
Saímos.
De
Baalbeck saem duas estradas principais, ambas para Tripoli. Uma dá a volta pelo
norte do país e a
outra segue por Bcharré e por Os Cedros, a estância de esqui do Líbano. Era
esta que queríamos tomar, pois em Bcharré queríamos ver o Museu Kahil Gibran.
Começámos a viagem bem cedo.
À
hora de almoço, chegámos finalmente a Bcharré, tendo ido directamente para o
Museu dedicado a Kahlil Gibran, o grande poeta místico libanês, autor de “O
Profeta”, entre outras obras. O museu, que alberga uma colecção de 170 dos seus
440 quadros, foi instalado num antigo mosteiro, comprado por Gibran que aí
pensou fazer o seu retiro de velhice. Morreu porém pouco tempo depois da
aquisição. Na antiga igreja, está não só a sua cama como também o seu caixão
(!).
A
alguns metros, uma gruta dedicada a Maria, a que foi dado o nome de Nossa
Senhora de Lourdes. Segundo a lenda, um dos monges do mosteiro tinha a seu
cargo a horta. Perto do mosteiro não havia água e o monge jardineiro tinha de
descer ao vale para ir buscar água para regar a sua horta. Nossa Senhora teve
pena dele e, um dia, teve uma visão: Maria que lhe dizia que ali mesmo ao lado
havia uma nascente. Um pouco mais acima, está um obelisco em forma de cone
(lembra um monte de formigas) que é um antigo túmulo fenício de 750 a .C.
Seguimos
por Os Cedros — bem, a “floresta” de cedros é um amontoado, pequeno de cedros.
Em tempos, todo o Líbano era coberto de florestas de cedros que foram sendo
desflorestadas — e agora já nada existe. Já nada se compara às descrições
bíblicas da região - em
1 Reis 5, 6 lê-se: “Dá ordem, pois, agora, que do Líbano me cortem cedros”. Longe
estão esses dias. No Líbano, já não há cedros, mas felizmente ainda muita
História.