domingo, 1 de abril de 2018

El Marco e o fim do contrabando


À esquerda, Portugal. à direita, Espanha.
No meio a ponte internacional mais pequena do mundo
Agustina aproximou -se do nosso carro. Abrimos a janela e ela começou a falar. “Antigamente El Marco tinha muito movimento. Os meus pais tinham um comércio ali mesmo atrás. Agora já ninguém aqui vem.” Realmente a aldeia parecia morta.
Só a mini ponte internacional, de madeira, construída em 2008 com fundos europeus sobre a ribeira de Abrilongo, e que faz a ligação entre Portugal e Espanha estava com um ar atual, lembrando as pontes decorativas dos parques ecológicos. Agustina continua as explicações: “Sempre se passou a ribeira. Fazia-se muito contrabando. Em Portugal ou não havia as coisas ou eram muito caras. E as pessoas passavam a ribeira a pé. Quando tinha muita água punha-se uma escada e passava-se”.
A ponte internacional mais pequena do mundo

Há pouco tempo construiu-se a ponte. A ponte internacional mais pequena do mundo. 1,90 m sobre a ribeira de Abrilongo ligam El Marco a Várzea Grande, também conhecida por Marco. Duas aldeias raianas,esquecidas.Com um nome que vem do facto de terem sido instalados marcos fronteiriços depois do Tratado de Lisboa de 1864 (https://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_de_Lisboa_(1864)), assinado a 29 de setembro desse ano e que estabeleceu definitivamente as fronteiras entre Portugal e Espanha.
Torragem do café para consumo
em Espanha: com açúcar
Do lado português José Maria tem uma loja, Casa Palmeira, que vende tudo: café, castanhas piladas, farinha 33, galochas, ferramentas, veneno para ratos, enfim tudo.
E explica a diferença entre o café português e o espanhol. Ou melhor, todo o café é português mas a torrefação é diferente. “Os espanhóis gostam muito de café com leite. Então a torrefação do café já é feita com açúcar e alfarroba. Os grãos são pretos e brilhantes”.

Também em Várzea Grande não passa ninguém. José Maria tem muitos dias em que não abre a caixa registadora.
As vidas entre as duas aldeias estão entrelaçadas. Artur, filho de pai português e mãe espanhola, nasceu na Várzea Grande há mais de 70 anos. Fez a escola primária em Esperança, uma aldeia a uns 4 km. Quando chegou à idade de ir para a tropa, mudou-se para El Marco para fugir à guerra colonial. Tornou-se espanhol e fez o serviço militar em Espanha. Casou com Agustina, filha de pai espanhol e mãe portuguesa, natural de El Marco. Montaram um negócio que muito rendeu quando os portugueses iam a Espanha fazer compras. Agora a grande loja é um café praticamente sem clientes. As prateleiras estão vazias. Na televisão mostra o jogo entre o Guimarães e a Académica . Assim se passam os dias em duas aldeias no fim de Portugal e de Espanha.