sábado, 21 de junho de 2014

7º dia do VIII Raid do Kwanza Sul: Foz do Cunene – Quedas do Monte Negro (208 km)

A noite foi muito fria, com a temperatura a rondar os 6º C! no entanto, dentro da tenda e do meu saco de dormir, dormi lindamente, de fio a pavio. O despertar foi bem cedo, 
às 5h pois teríamos de chegar a Monte Negro ainda com luz e para os pouco mais de 208 km de hoje iríamos necessitar umas 10 h!
Para evitar demorarmos novamente 2h30 para subirmos a duna da Foz do Cunene, os jipes ficaram quase todos no cimo, só descendo os jipes das malas. Mesmo assim, não conseguimos sair tão cedo como se pretendia. Um jipe chocou com uma pedra, não conseguindo andar nem para a frente nem para trás. Para o libertar demorou-se mais de meia hora. Depois havia que pôr ar nos pneus, pois a picada de hoje não seria de areia mas de pedra. Só que… a saída das dunas ainda era arenosa. Alguns jipes ficaram atolados e tiveram que voltar atrás, tirar um pouco de ar e voltar a tentar. Outros tentaram…. de marcha a ré. O principal era conseguir ultrapassar as dunas.
Tivemos de conduzir com muito cuidado pois a picada era terrível com muita pedra-faca ou pedra cortante, troncos, amontoados de folhas secas. Trata-se de xisto lascado que se espeta nos pneus e logo os rebenta. A região tem grandes lajes de xisto que explodem com a grande diferença térmica entre o dia a e anoite. Ao explodir, partem em inúmeras lascas, pontiagudas (daí o nome de pedra-faca) que são um perigo para os pneus. É claro que com um cenário destes muitos foram os pneus se 

(Foto Katana)
furaram, ou melhor, rebentaram. Alguns ficaram verdadeiras obras de arte.
Voltámos a passar na Espinheira onde parámos numa gruta pré-histórica. Como era Dia de Portugal, o Laureano sugeriu cantarmos o hino nacional – e esta ação ser gravada para as televisões.
De quando em quando um rapaz herrero a guardar as suas cabras ou as suas vacas. A pergunta que sempre fazíamos era como se alimentava o gado, o que poderia comer ali no meio das pedras. Passámos também por famílias, nómadas, que vivem completamente isoladas do mundo. Parámos junto de uma composta por um homem, as suas duas mulheres e quatro ou cinco filhos. Demos um par de chinelos à mulher que ficou feliz; calçou-os, mas… não sabia andar com elas! Demos também uma conserva; sabiam abri-la. Começaram logo a comê-la, usando a tampa como colher. No final, para limpar a boca, baixaram-se, pegaram numa pedra e limparam a boca!
Os hereros são um povo nómada e vivem da pastorícia. As mulheres usam saias feitas com peles de animais, muitos colares de missangas, alguns dos quais amassados com uma pasta feita de raízes aromáticas de árvores e terra que assim evitam que os maus cheiros cheguem ao nariz. O cabelo das mulheres é empapado com uma pasta feita com bosta de boi, raízes de árvores, erva e terra. Os rapazes rapam o cabelo deixando somente uma espécie de penacho no alto da cabeça que é igualmente empapado com aquela pasta e com que fazem uma espécie de corno para cima na parte de trás da cabeça.

O acampamento foi feito num terreno pertence à polícia angolana, muito perto da aldeia. Os aldeãos deviam estar em festa pois do kimbo ouvia-se alta musicata até altas horas.