sexta-feira, 15 de março de 2019

2º dia - Doha - Kilimanjaro - Arusha

Chegámos descansados a Doha. 
Qatar é um país no deserto. Hoje de manhã, ao aterrarmos, chovia. Chuva no deserto. 
O voo não teve direito a manga pelo que tivemos direito a batismo de boas vindas. 
O aeroporto é moderno com uma grande zona comercial. Tem pelo menos duas salas de oração, ambas com as separações obrigatórias para mulheres e homens. 


O voo de Doha para Kilimanjaro foi num A319 - também meio vazio em Económica nas cheio em Business. Todos os 8 lugares foram ocupados por membros de uma família qatari. As mulheres entraram com abbaya, mas minutos depois já estavam de calças de ganga e as abbayas pretas no fundo do saco. 

Na classe económica, a maioria dos passageiros são adultos nos 30 anos e que me parece - isto é pura especulação - irem subir o Kilimanjaro. Um dia também o farei. Mas a subida ao kilimanjaro e um Safari são normalmente projetos separados. Com a subida convém contar com, pelo menos, 5 - 6 dias. Fazer ambas as rotas fica muito apertado e stressante. 

Estranhei a falta de entretenimento a bordo num voo com uma duração de 6h20. Se no outro voo tivemos uma variada paleta de 400 filmes e não sei quantas horas de música, neste não há nada. Não me preocupei. À falta de filmes mergulhei no meu livro. 

O que realmente me chamou à atenção nestes dois voos da Qatar foi o cuidado que a tripulação tem com a limpeza do cabine, especialmente da casa de banho. A 1a vez que fui à casa de banho fiquei toda contente de ser a primeira: o papel higiénico estava com a ponta dobrada em triângulo e a sanita estava coberta com um papel protetor. Senti-a muito limpa (tenho de confessar que as casas de banho dos aviões me repugnam mas, mesmo assim, tenho de as usar. Não há volta a dar, em especial nos voos de longo curso. Tenho visto - e infelizmente usado - casas de banho que é melhor nem descrever...). O interessante foi que de todas as vezes que ia à casa de banho tinha a sensação de ser a 1ª pessoa a usá-la: estava sempre  com o papel higiénico com a ponta dobrada em triângulo e a sanita  coberta com um papel protetor! Será que a tripulação verifica as casas de banho depois de cada utilização? 

O meu lugar preferido nos aviões é na coxia. Mas nos voos diurnos sobrevoando terra gosto de ir à janela a observar a paisagem. Este voo entre Doha e o Kilimanjaro foi especialmente bonito pois sobrevoámos a Península Arábica e conseguimos ver o deserto e os caminhos que o atravessam. Muito belo foi também ver como o deserto se atira para o mar ao chegar ao golfo, como se quisesse beber toda a sua água para acalmar a sede. Lindo o contraste do amarelo torrado do deserto com o azul do mar. 





Entrámos no continente africano pela região de Djibouti, que continua a ser uma mancha amarela. No passado - as lendas falam do tempo da rainha do Sabá - a Península Arábia e o Norte e África estavam juntos e a rainha reinava sobre toda a região. 
Gosto também de ver as nuvens brancas por baixo de mim, lembrando verdadeiros rebanhos, com as sombras na terra. A primeira vez que andei de avião, nos idos de 1972, fi-lo num avião da Força Aérea que levava soldados para a guerra nas nossa colónias em África. No meio daqueles soldados todos, duas meninas: eu e a filha de um outro oficial. A meio da noite houve uma grande tempestade tropical. Nós estávamos a voar por cima e lembro-me perfeitamente de ter ficado maravilhada de ver a origem dos relâmpagos. 

Quase ao aterrar tivemos então a felicidade de ver o Kilimanjaro, o pico mais alto do continente africano com os seus 5895 m de altitude. Ali estava ele, a espreitar por cima das nuvens. Ao lado um outro pico, mais baixo e sem neve. Dizem os peritos que as neves do Kilimanjaro estão muito reduzidas o que já está a originar problemas de falta de água as populações. E há ainda que não acredite no aquecimento global e nas alterações climáticas. 

O Kilimanjaro
O aeroporto do Kilimanjaro é pequenino. Começa -se por se tratar do visto. Sem problema nenhum. Estranho é pagar-se e não se receber nenhum recibo bem comprovativo. Cá fora esperava-nos Ahmed, o senhor da agência de alugueres dos jipes, CHAH. Muito simpático propôs assinarmos logo ali o contrato e pagar o que faltava (pagáramos um sinal ao reservar). Achei estranho. Ali, no parque de estacionamento? Não seria a 1ª fez. Em Pemba foi assim que recebemos o jipe. Mas dissemos que preferíamos ir ao escritório 
Fomos então para Arusha para o escritório que era mais ou menos um barracãozito. Mostrou- nos as ferramentas do jipe. E o equipamento de campismo. Pedi-lhe para abrir a tenda. “Não tem nada que saber. É como abrir um livro”. Insisti. Vem, era um daqueles livros difíceis.... nada batia certo. Tudo com um aspeto de nunca ter sido limpo.
Ahmed, do escritório de Arusha do CHAH



O estado da tenda

A tenda foi retirada
Recusámos. Que nos dessem outra tenda. O problema é que do tinham mais tendas em Dar es Salam. Depois de falar para o escritório na capital económica disse -nos que iriam trazer uma tenda “como as da África do Sul” e que nos entregariam amanhã ao final do dia vá terra onde estivermos. Veremos... Agora temos um jipe sem tenda. 
Entretanto escurecera. O jipe estava quase sem combustível. Tínhamos de atestar mas... só tínhamos dólares. E as bombas não aceitam cartão de crédito. 
Achávamos que ainda conseguiríamos chegar ao hotel mas a dada altura vimos que não. Parámos numa bomba e começámos a negociar. Ao fim de 20 minutos conseguimos pôr 20 l de gasóleo e pagar com dólares. Uff!

Quarto no The Vijiji Center




No Vijiji Center, que tínhamos reservado, fomos muito bem recebidos. O restaurante estava quase a fechar mas ainda nua fizeram , de raiz, uma galinha guisada com arroz e batatas fritas - e, claro, cerveja Kilimanjaro. Uma premium lager muito boa. 


Ao fim de 30 horas depois de termos saído de casa, caímos na cama