Qatar é um país no deserto. Hoje de manhã, ao aterrarmos, chovia. Chuva no deserto.
O voo não teve direito a manga pelo que tivemos direito a batismo de boas vindas.
O aeroporto é moderno com uma grande zona comercial. Tem pelo menos duas salas de oração, ambas com as separações obrigatórias para mulheres e homens.
O voo de Doha para Kilimanjaro foi num A319 - também meio vazio em Económica nas cheio em Business. Todos os 8 lugares foram ocupados por membros de uma família qatari. As mulheres entraram com abbaya, mas minutos depois já estavam de calças de ganga e as abbayas pretas no fundo do saco.
Na classe económica, a maioria dos passageiros são adultos nos 30 anos e que me parece - isto é pura especulação - irem subir o Kilimanjaro. Um dia também o farei. Mas a subida ao kilimanjaro e um Safari são normalmente projetos separados. Com a subida convém contar com, pelo menos, 5 - 6 dias. Fazer ambas as rotas fica muito apertado e stressante.
Estranhei a falta de entretenimento a bordo num voo com uma duração de 6h20. Se no outro voo tivemos uma variada paleta de 400 filmes e não sei quantas horas de música, neste não há nada. Não me preocupei. À falta de filmes mergulhei no meu livro.
O que realmente me chamou à atenção nestes dois voos da Qatar foi o cuidado que a tripulação tem com a limpeza do cabine, especialmente da casa de banho. A 1a vez que fui à casa de banho fiquei toda contente de ser a primeira: o papel higiénico estava com a ponta dobrada em triângulo e a sanita estava coberta com um papel protetor. Senti-a muito limpa (tenho de confessar que as casas de banho dos aviões me repugnam mas, mesmo assim, tenho de as usar. Não há volta a dar, em especial nos voos de longo curso. Tenho visto - e infelizmente usado - casas de banho que é melhor nem descrever...). O interessante foi que de todas as vezes que ia à casa de banho tinha a sensação de ser a 1ª pessoa a usá-la: estava sempre com o papel higiénico com a ponta dobrada em triângulo e a sanita coberta com um papel protetor! Será que a tripulação verifica as casas de banho depois de cada utilização?
O meu lugar preferido nos aviões é na coxia. Mas nos voos diurnos sobrevoando terra gosto de ir à janela a observar a paisagem. Este voo entre Doha e o Kilimanjaro foi especialmente bonito pois sobrevoámos a Península Arábica e conseguimos ver o deserto e os caminhos que o atravessam. Muito belo foi também ver como o deserto se atira para o mar ao chegar ao golfo, como se quisesse beber toda a sua água para acalmar a sede. Lindo o contraste do amarelo torrado do deserto com o azul do mar.
Entrámos no continente africano pela região de Djibouti, que continua a ser uma mancha amarela. No passado - as lendas falam do tempo da rainha do Sabá - a Península Arábia e o Norte e África estavam juntos e a rainha reinava sobre toda a região.
Gosto também de ver as nuvens brancas por baixo de mim, lembrando verdadeiros rebanhos, com as sombras na terra. A primeira vez que andei de avião, nos idos de 1972, fi-lo num avião da Força Aérea que levava soldados para a guerra nas nossa colónias em África. No meio daqueles soldados todos, duas meninas: eu e a filha de um outro oficial. A meio da noite houve uma grande tempestade tropical. Nós estávamos a voar por cima e lembro-me perfeitamente de ter ficado maravilhada de ver a origem dos relâmpagos.
Quase ao aterrar tivemos então a felicidade de ver o Kilimanjaro, o pico mais alto do continente africano com os seus 5895 m de altitude. Ali estava ele, a espreitar por cima das nuvens. Ao lado um outro pico, mais baixo e sem neve. Dizem os peritos que as neves do Kilimanjaro estão muito reduzidas o que já está a originar problemas de falta de água as populações. E há ainda que não acredite no aquecimento global e nas alterações climáticas.
O Kilimanjaro |
Fomos então para Arusha para o escritório que era mais ou menos um barracãozito. Mostrou- nos as ferramentas do jipe. E o equipamento de campismo. Pedi-lhe para abrir a tenda. “Não tem nada que saber. É como abrir um livro”. Insisti. Vem, era um daqueles livros difíceis.... nada batia certo. Tudo com um aspeto de nunca ter sido limpo.
Recusámos. Que nos dessem outra tenda. O problema é que do tinham mais tendas em Dar es Salam. Depois de falar para o escritório na capital económica disse -nos que iriam trazer uma tenda “como as da África do Sul” e que nos entregariam amanhã ao final do dia vá terra onde estivermos. Veremos... Agora temos um jipe sem tenda.
Ahmed, do escritório de Arusha do CHAH |
O estado da tenda |
A tenda foi retirada |
Entretanto escurecera. O jipe estava quase sem combustível. Tínhamos de atestar mas... só tínhamos dólares. E as bombas não aceitam cartão de crédito.
Achávamos que ainda conseguiríamos chegar ao hotel mas a dada altura vimos que não. Parámos numa bomba e começámos a negociar. Ao fim de 20 minutos conseguimos pôr 20 l de gasóleo e pagar com dólares. Uff!
Quarto no The Vijiji Center |
Ao fim de 30 horas depois de termos saído de casa, caímos na cama