sábado, 23 de março de 2019

8º dia - Lago Manyara

Após a tempestade a bonança. Uma noite terrível com vento tão forte que pensámos que a tenda iria ser levada pelos ares. As cegonhas andaram toda a noite loucas, aos gritos, não sei se do vento se da lua cheia. Mas o sol nasceu e toda a natureza ficou em paz, que só foi perturbada por centenas de cabras a descer do alto do monte onde pernoitaram. Baliam altíssimo e o pastor maasai gritava-lhes para elas seguirem pelos carreiros e não caírem pelas ribanceiras. 

Aqui neste campo o café é bom. Como já não temos pão,  comemos umas bolachas de avelã e gengibre. Um canadiano casado com uma queniana veio pedir-nos “ducktape. Com ele estava a filha mais nova, talvez com uns 3-4 anos, a quem oferecemos bolachas. Quando no-la veio devolver, vieram os três filhos: “They heard there are ginger nut cookies around”.  Crianças são crianças em todo o mundo.

Temos encontrado pessoas interessantes. Ontem falámos com uns australianos que vieram fazer férias em África para ajudar a construir uma igreja. Perguntámos se eram católicos. “We are not religious”. Mas ajudam onde é preciso e reconhecem que a igreja católica faz um bom trabalho em aldeias remotas de África. 
Há dias cruzámo-nos com um casal belga , ambos reformados, que estão a fazer uma volta ao mundo num jipe com uma tenda no tejadilho. Fazem-na em etapas de seis meses. Desta vez vão até à Cidade do Cabo, passando por Luanda. Depois põem o jipe num contentor e enviam-no para Omã, onde iniciarão a etapa da Península Arábica. 

Saímos cedo do campo e fomos logo para o Parque Nacional do Lago Manyara. Este parque está situado à volta do lago e com uma série de paisagens. Junto à entrada principal temos a floresta tropical onde vivem diversas colónias de macacos. Muitas vezes tivemos que parar o jipe porque os macacos ocupavam todo o caminho. 
Este parque também muitos elefantes, girafas, zebras, hipopótamos, gazelas, impalas, gnus, flamingos e muitos outros pássaros e leões, cuja especialidade é subirem às árvore. Vimos todos menos os leões. Devem ter ido de férias ...
Muito engraçado foi ver as girafas no lago, à beira é mesmo dentro de água. Girafas na praia...
Perto da saída sul, há fontes de água sulfurosa que sai quente do solo, a 60 graus. Os grandes mamíferos não se importam se a água é quente ou fria e gostam de se banhar nas lamas quentes. Para poder observar o lago, os animais e as fontes sulfurosas foi construído um passadiço de madeira de 325 m de comprimento e a 1,5 m da água. 
Do passadiço pudemos ver bem os flamingos e os hipopótamos. 
Águas quentes sulfurosas

Hipopótamos

Passadiço

Resolvemos sair do parque pela saída sul que nenhum turista usa. Junto à porta não há nenhum funcionário do Parque, somente um ranger que abre e fecha a cancela. Como não sabe trabalhar com o computador, a nossa autorização de saída ficou... à entrada. 
A estrada é de terra batida e passa por diversas aldeias cujos habitantes não estão ainda “infectados” pelo turismo. O que mais estranhei foi não ter visto ninguém com os trajes típicos mas com roupas mais ou menos ocidentais. Por exemplo, as mulheres usavam uma t-shirt e uma capulana enrolada à cintura. 
Será que não são maasais ou são dessa tribo e querem vestir o que lhes apetece?
Só passados 25 km é que chegámos à estrada  nacional B194. 

Por volta das 17h20 chegámos ao parque de campismo público. A 500 m, debaixo de um embondeiro uma manada de elefantes comia e brincava. 
O Parque Nacional de Tarangire é famoso por ter a maior concentração de elefantes do mundo. Parece que é verdade. Este parque de campismo fica junto ao rio onde os elefantes gostam de se ir banhar. Segundo nos disse Ayudu, o rapaz que controla as entradas (tanto quanto percebemos pois ele fala pouquíssimo Inglês), os elefantes costumam passear-se no campo durante a noite. Vamos ter visitas .... Aqui só vamos pernoitar nós é um grupo de dois espanhóis (mais o guia e o cozinheiro) e dois homens que estão a construir uma casa. 
Sem dúvida idílico. O único problema é o Tarangire ser região da mosca tse -tse. O governo espalha por estas regiões uns panos azuis e pretos impregnados de um produto que mata as moscas tse-tse. Espero que funcione pois não me apetece apanhar a doença do sono. Esta doença foi erradicada do continente africano nos anos 60 mas as diversas guerras civis fizeram com que se parassem os programas preventivos e ela voltou em força. 

E como tratámos do nosso jantar hoje? Quando chegámos ao campo, comentámos com Ayudu que queríamos jantar e que estávamos a pensar ir ao Safari Lodge saber se serviam jantar a pessoas que não estivessem lá hospedadas. Mas que teríamos de regressar de noite o que não seria nada bom. Ayudu resolveu o assunto: não tem de ir ao lodge. Nós temos aqui um Chef.  O cozinheiro veio ter connosco e encomendámos um prato de peixe e um de carne - por 10000 xelins cada um, metade do que nos pediu o Emmanuel. Ou seja, hoje temos dois pratos pelo preço de um. 

A noite está escuríssima e cheia de ruídos. Ao longe ouvimos macacos, esporadicamente o rugir de um leão, uma grande trovoada ao longe e muitíssimos outros ruídos que não sei identificar. 

Daqui a pouco subo para a minha tenda e adormecerei embalada pela noite africana.