quarta-feira, 29 de março de 2017

Peru em Portugal

Chef Javier
O restaurante peruano Segundo Muelle organizou um pequeno workshop para dar a conhecer a comida peruana que ainda não é muito popular entre nós.
Javier Iparraguirre Geldres, executive chef da casa-mãe deste restaurante em Lima, veio de propósito a Lisboa para explicar aos jornalistas - e aos cozinheiros do restaurante - três ícones da cozinha peruana: o cocktail Pisco Sour, ceviche e causa congrejo.

O causa é um prato com sabor a independência e espelho da resistência nacional. Os peruanos não vivem sem batatas – há 4 mil tipos de batatas no Peru! – nem sem o ají, a malagueta, das quais também existem diversas espécies, de várias cores e mais ou menos picantes.
Causa de congrejo
Estávamos no ano de 1880 e o Peru a Guerra do Pacífico; para ajudar as tropas, as pessoas faziam recolhas de alimentos – e, claro, o que mais se dava era milho, ervilhas, cenouras, mas muitas, mesmo muitas batatas. As mulheres juntavam-se, coziam batatas e amassavam-na com azeite, ají picado, algumas gotas de sumo de lima, dal e pimenta. Depois moldavam esta massa, recheavam-na e vendiam-na gritando: “Para la causa, para la causa”. Assim, nasceu um prato muito simples, fácil de preparar e que ajudava a resistência nacional. O chef Javier preparou uma causa de congrejo, ou seja, recheou este tipo de empadão (que porém não vai ao forno) com caranguejo, pera abacate e ovo cozido picado.
Outro prato preparado ao vivo foi o ceviche (que tem várias grafias cebiche, sebiche, seviche), peixe cru macerado no ácido do sumo de lima. Alguns historiadores sugerem que o ceviche pode ter origem árabe (sibech) e que tenha chegado à América Latina com os descobridores espanhóis. Outros dizem que este prato vem dos povos indígenas que viviam na costa, pelo que seria anterior à chegada dos espanhóis ao continente americano. Parece que há mais de 2000 anos, as mulheres do norte do Peru maceravam peixe fresco nos sumos acres da laranja amarga ou de uns frutos da família do maracujá. A este prato frio davam o nome de “siwichi”, cujo significado seria “peixe fresco ou peixe tenro”.
Cebola roxa finamente fatiada

A empratar o ceviche


Por fim, o chef Javier preparou o Pisco Sour, um cocktail feito com pisco (uma aguardente de vinho típica do Peru), sumo de lima, clara de ovo, açúcar e gelo. Diz-se que o pisco sour nasceu no mítico bar Morris no dia 1 de abril de 1916 – apesar de também haver um livro de 1903 com a receita que não levava gelo. Conta-se que o americano de Utah foi trabalhar para o Peru na empresa Cerro de Pasco Mining Company e abriu bar. Um dia, alguém terá pedido um whisky sour, à boa maneira anglo-saxã, mas tinha-se acabado o whisky. O barman não desarmou e preparou a bebida com pisco. Com os tempos, a bebida ganhou ainda a clara de ovo e o ligeiro toque de angustura.

O restaurante Segundo Muelle em Lisboa acabou de lançar o Menu Executivo, almoços peruanos constituídos por um aperitivo, prato principal, água e café por € 14.50