quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Uzbequistão - 10º dia


Não há comparação entre dormir no catre do comboio noturno entre Khiva e Tashkent e uma boa cama de hotel! Após a nossa chegada ao hotel, deitámo-nos e dormirmos profundamente até o despertador tocar para irmos para o pequeno-almoço. 





Hoje, chegou finalmente a vez de ver Samarcanda, a rosa preferida dos Timúridas.  É a segunda maior cidade do Uzbequistão com meio milhão de habitantes, e localiza-se no vale do Zerafshan, a cerca de 200 km a oeste de Tashkent(Khiva, de onde viemos, está a 1 000 km da capital). 

Tem por detrás de si uma longa história, tendo acumulado influências culturais, bebidas dos diversos povos que a conquistaram e administraram. Macedónios, árabes, mongóis e, talvez o mais determinante para a evolução recente de Samarcanda, o grande Tamerlão, com raízes turco-mongóis, que chegou nos finais do século XIV e fez dela a sua capital. 

Samarcanda foi um ponto essencial na importante Rota da Seda, sofreu razias, foi reconstruída. O seu charme valeu-lhe epítetos diversos dos poetas que a cantaram: “Espelho do Mundo”, “Jardim da Alma”, “Jóia do Islão, “Pérola do Oriente”, “Centro do universo” ou “Roma do Oriente”. Em 2001 foi integrada na lista de património Mundial da Humanidade da UNESCO. 

Hoje em dia a cidade está dividida em duas grandes áreas: a parte antiga, onde se localizam os monumentos grandiosos, e a parte moderna, construída sobretudo ao longo do século XX, durante a era soviética.

Obviamente começámos a visita pelo 

Registão, o local que motivou esta viagem. 

O Reguistão é a grande praça de Samarcanda, o centro da sua arquitectura monumental da era de Tamerlão e, sem dúvida , o seu local mais emblemático. É a sala de visitas do Uzbequistão. 



Na época medieval existia aqui o principal mercado da cidade e foi a área escolhida para a obra mais grandiosa da cidade, a obra que transformaria Samarcanda e a marcaria até aos dias de hoje.

Os principais edifícios do complexo, todos - fachadas, pátios centrais, falsos minaretes e cúpulas - cobertos por milhares de bocadinhos reluzentes e coloridos de cerâmica, são as três madraças e a mesquita atrás de uma delas. 



A madraça de Ulugue Begue, terminada em 1420, e mandada construir pelo seu neto que lhe deu o nome, foi a primeira a surgir. Seguiram-se a de Sher Dor e a de Tilla-Kari, esta última datada de 1640.



A madraça de Sher Dor ou Shir Dar, do lado direito da praça, destaca-se pelos dois grandes leões às riscas (tigres), no cimo da fachada central que são um elemento contraditório e tardio e que não está ainda muito bem explicado. Sherdor, significa "com leões" em farsi. A “madraça do tigre” é das construções mais exemplares da época, provavelmente no mundo inteiro.

Foi construída entre 1619 e 1636 por ordem do hakim Yalangtush Bakhodur ,  o governador de Samarcanda à época. 

Na área ocupada pelo edifício existiu antes um bazar coberto, mandado construir no século XIV por Tumã-Aca, uma das consortes de Tamerlão. O neto deste, Ulugue Begue, mandou demolir esse mercado para construir um khangah (lugar de retiro espiritual) adjacente à sua madraça. 

A fachada principal, virada para Praça do Reguistão e para a Madraça Ulugue Begue é simétrica e formada por três volumes contrastantes: um imponente portal retangular, duas cúpulas gémeas com nervuras e dois minaretes esguios (um em cada uma das esquinas).



A madraça Tilla-Kari, cujo nome significa "obra dourada" ou "coberta de ouro", uma referência ao estilo de pintura kundal usado na sala de oração, que é profusamente decorada com relevos dourados, fica entre as outras duas madraças. 

Antes da madraça ser construída, no local existia o  caravançarai Mirzoi, que fazia parte dum complexo construído no século XIV por Tumã-Aca, uma das consortes de Tamerlão. Em meados do século XVII a cidade assistia a um declínio do sua atividade comercial, pelo que aparentemente o caravançarai era dispensável. Embora inicialmente tivesse sido construído para ser um seminário teológico, o edifício tornou-se rapidamente a Mesquita da oração de sexta-feira da cidade, devido à sua ampla sala de oração e ao péssimo estado da mesquita de Bibi Hanim (a maior de Samarcanda, construída em 1399–1404), e à demolição da Mesquita Alikeh Kukeltash (construída em 1440).



A madraça foi concebida para ser a maior estrutura - e mais ornamentada - do Reguistão. A fachada com 120 metros de comprimento marca o lado norte da praça, aliviando a simetria opressiva desta com a colocação da cúpula principal (da mesquita) fora do eixo. Um atrevimento do arquitecto com benefícios óbvios. 

A mesquita tem um grande cúpula ao centro que assenta num tambor cilíndrico alto. O azul monocromático da cúpula contrasta com a policromia do tambor, que é decorado com faixas de caligrafia. 


O tempo e os abalos sísmicos frequentes na região foram desgastando as estruturas e no início do século XX eram pouco mais do que ruínas. As autoridades soviéticas investiram na requalificação do complexo, uma obra ambiciosa que se estendeu ao longo de quase todo o século.


Depois de nos maravilharmos com os monumentos do Reguistão, continuámos a ver a cidade. 

Sem nos termos apercebido de que a mesquita de Bibi Hanim ficava relativamente perto apanhámos um táxi. O taxista disse-nos que seria 5000 som. Entrámos, começámos a viagem e ele disse-nos que eram 15000 som, “5000 por cada”. Protestámos, mandámos para o táxi e saímos. 

No passeio estavam duas raparigas a quem pedimos se poderiam chamar-nos um táxi pela plataforma Yandex (o Uber daqui). Elas disseram que a mesquita não era longe e que iriam lá connosco. Atravessámos o parque conversando com elas e ficando a conhecer um pouco melhor a juventude uzbeque. 



A mesquita de Bibi Hanim foi construída ainda na época de Tamerlão, entre 1399 e 1404, financiada pelo espólio que resultou da sua invasão da Índia. Chegou a ser uma das maiores mesquitas do mundo, com uma enorme cúpula azul a elevar-se aos 41 metros e um portal de entrada apenas um pouco mais baixo.

Quando foi construída deveria ter capacidade para receber toda a população masculina de Samarcanda, para a Oração de Sextas-feiras. Mas as suas elevadas proporções fragilizaram a estrutura e pouco tempo após a sua conclusão uma parte da mesquita ruiu.

Em 1897, um sismo provocou sérios danos na mesquita m, passando uma boa parte do século XX como uma ruína.  Nos anos 70 sofreu algumas obras de restauro, que se concluíram já após a independência do Uzbequistão.



Mesmo atrás da mesquita está o Bazar de Siaab, que foi durante séculos o local de reunião da comunidade, o sítio onde as pessoas sociabilizavam e trocavam informações. Muito organizado, aqui vendem-se frutos secos, especiarias, fruta, legumes, carne e pães