quarta-feira, 2 de novembro de 2022

Uzbequistão - 2º dia



O céu resolveu abrir as portas e um dilúvio abateu-se sobre Taskent durante a noite. Chovia copiosamente quando acordámos. Enquanto tomámos o pequeno-almoço discutimos o plano para o dia. Todas concordámos  que hoje nao estava tempo para passeios a pé. O melhor seria tomarmos um taxi do apartamento ao museu que estivesse mais longe do apartamento e depois, caso a chuva parasse, viríamos a pé até casa. 

Para concretizar o plano haveria que começar por instalar a app dos táxis. Helàs! Não foi possível. Teria de ter um número de telemóvel uzbeque.  

Lembrámo-nos então de pedir ajuda na florista onde ontem estivéramos e cujos empregados foram tão simpáticas. Como ali ninguém fala inglês, escrevemos a pergunta no tradutor automático. Dito e feito. 



Primeiro obstáculo: o rapazinho que nos atendeu não fazia a mínima ideia  sobre o que era o mausoléu de Yunus Kahn. Mostrámos o guia (em Inglês), mostrámos fotos da internet e pareceu-nos que tinha entendido. Pediu o táxi, disse que custaria 20 mil som (+ ou - €2) e ficou connosco à espera. Quando o táxi chegou, entrámos e  partimos. Apesar de não termos internet, conseguíamos seguir o trajeto pelo google maps.  E o táxi pára junto de uma casa, que nos parecia particular ! Ali não era o mausoléu! Mostrei-lhe onde era no google maps. Tirou o telemóvel dele do suporte e colocou o meu para seguir o caminho. Andámos, andámos, andámos. Passámos por zonas industriais, por bosque com árvores lindíssimas multicolores, mas nada de mausoléu. Ainda pensámos que ele nos estava a raptar 🤣

A dada altura, pára  num parque de diversão. Não, dissemos nós. Não é isto. Queremos ver um mausoléu. Ele pega no meu telemóvel, sai do carro e desaparece. Chega pouco depois e diz que já sabe. Damos mais umas voltas e pára num parque de estacionamento vazio. É aqui!, diz. Não, dizemos nós. Queremos ver um mausoléu. Mostro-lhe de novo no google maps. Retoma a viagem. Vimos um grande edificio em estilo islâmico com uma grande inscrição “Academia islâmica”. Como tínhamos lido que o mausoléu estava no jardim da universidade islâmica, dissemos ao condutor que ficaríamos aí. 



Subimos a escadaria, abrimos a porta e deparámo-nos com uma espécie de congresso islâmico, cheio de homens de barba e chapelinho na cabeça. E à frente deles três mulheres de chapéu para a chuva enterrado na cabeça com ar perdido… Dirigimo-nos a um dos homens e perguntámos se falava inglês. Afinal estávamos numa universidade… mas não. Ninguém parecia falar inglês. Até que um jovem, de máquina fotográfica ao peito, avançou dizendo que falava. E lá nos indicou onde era o mausoléu. Agradecemos e deixámos os congressistas a olhar para nós. 

À direita do edifício da universidade erguia-se o mausoléu de Yunus Kahn. 




O Mausoléu de Yunus-Khan, de dois andares, foi construído no século XV e num estilo incomum para o Uzbequistão - khanaka, um estilo comum no Irão. Normalmente, as construções construídas em forma de khanaka são associadas a dervishes e ao culto muçulmano sufi.

Yunus-Khan nasceu em 1416. Aos treze anos, perdeu seu pai, e exilou-se no Irão, primeiro na cidade de Herat, depois em Yazd, onde recebeu uma excelente educação. Yunus-Khan foi ensinado pelo famoso historiador Sherefeddin al Iyezdi - o famoso autor de crónicas "Livro das Vitórias" ("Zafarname"). Sob a sua orientação, Yunus-Khan estudou literatura, teologia e as línguas árabe e persa. Aos quarenta anos, Yunus-Khan voltou à sua terra natal, onde se tornou chefe de um acampamento nómada mongol, tendo governado até os 69 anos. Após a sua morte, os seus filhos mandaram construir este mausoléu, que ainda é um dos monumentos arquitetónicos mais importantes da era timúrida.

Neste complexo arquitetónico Sheyhantaur da Universidade Islâmica há ainda o mausoléu do  Xeque Havendi at-Takhur







O mausoléu do xeque Havendi Takhur foi construção  no século XIV-XV. No entanto, a construção que permaneceu não é inicial. É erguida nas bases antigas, salvando o plano e as principais formas arquitetónicas. plano e as principais formas arquitetônicas. Tem duas cúpulas: uma mais alta e outra mais pequena.

Após a visita, voltámos à zona da conferência para ir à casa de banho. Casas de banho é um tema difícil aqui e, por isso, temos de aproveitar onde há. E como na universidade há alunas, achámos que deveria haver uma para mulheres. Na realidade havia.  Quando entrámos, duas senhoras ja de alguma idade lavavam os pés nos lavatórios, fazendo possivelmente as abluções para as orações. 

No caminho para a saída, parámos numa  banca de livros. Gostámos de uns pequenos livros para crianças que quisemos comprar. Eram baratíssimos (5.000 som = €0,46), mas quando os fomos pagar, o senhor da banca ofereceu-no-los. Os uzbeques são muitíssimo simpáticos e provaram-no mais uma vez. 

Na rua, cheirou-nos a comida. Não resistimos a ir espreitar. 



Um homem mexia um grande panelão de chorba, uma deliciosa sopa de carne, batatas e legumes. Ao lado, outro panelão de pilaf. E  um forno de terracota onde se cozem os pães. 


Como já tínhamos comido pilaf ontem, decidimos pela chorba, a sopa Ideal para nos aquecer num dia de chuva e frio. 

Com o estômago já reconfortado seguimos para as nossas visitas. Mas antes disso teríamos de ir à estação dos comboios para comprar os bilhetes para irmos de Tashkent para o Bukhara. 



Fomos para o metro pensando o que é aí alguém nos indicaria qual é a estação para sair. Obviamente a senhora da bilheteira não falava inglês. O guarda não falava inglês. Aproximaram-se duas jovens que nós pensávamos que falariam. E, na realidade, falavam … um pouco.  Primeiro que entendessem que nós queríamos ir para estação dos comboios foi muito difícil. Que nós já estávamos numa estação de comboio E ele era a bilheteira. E nós voltávamos a explicar. Sim , estávamos numa estação de metro, mas queríamos ir para estação de comboios para comprar um bilhete para Bukhara. Finalmente entenderam e explicaram-nos que teríamos de mudar de estação em Pakhtakor e depois sair em Chilonzor. Já Na plataforma quiser nos certificar de que estávamos no caminho certo. A guarda da linha não entendia uma palavra do que nós dizíamos. Vimos uma jovem que deveria falar inglês e explicámos-lhe o que queríamos. Sim, que teríamos de apanhar o metro, mas depois teríamos ainda de apanhar um autocarro para e começou a dizer uma palavra que nós não entendemos. E a repeti, a repetir, a repetir a palavra, fazendo gestos para que nós a repetíssemos. E nós íamos repetindo sem perceber nada o que estávamos a dizer. E riamo-nos muito, nós e ela. 
Até agora ainda não tínhamos andado de autocarro e não sabíamos como funcionava.  Quando o autocarro chegou, entrámos, mais ou menos empurradas. Não avançámos porque tínhamos de confirmar de que era o autocarro certo e, além disso, teríamos de pagar. Com gestos, o homem mandou-nos  avançar. O autocarro estaca cheíssimo e, com dificuldade, chegámos ao meio. O autocarro partiu vom um grande solavanco. So ver-nos um jovem, que estava sentado, levantou-se como se tivesse uma mola e ofereceu o lugar à minha amiga. Ela recusou, mas o o jovem e is homens insistiram. Entretanto, o autocarro dá um novo solavanco e quase todos caem uns sobre os outros. Os homens “salvam” a minha amiga, amparando-a e levando-a em braços até ao lugar. 

Na paragem certa saímos. Continuava a chover copiosamente. Tentamos atravessar a rua para a estação dos comboios mas esta era um rio. Por fim lá descobrimos o lugar atravessamos, entrámos naquilo que pensávamos ser a estação. Realmente era estação mas nós não ele não dá vamos com a bilheteira. Entretanto vir ter connosco guarda que nos pede os passaportes os bilhetes. Nós dizemos que não temos bilhetes que queremos comprar bilhetes. ele tenta explicar. Como não conseguiu até ao edificio ao lado onde funcionava a bilheteira.

A senhora do guichê falava um pouco de inglês. Não precisa simpática. Dissemos que queríamos três bilhetes para Bucara para o dia 4 novembro. A senhora olha para o computador e diz não há bilhetes. Como não há bilhetes? E amanhã? Também não. E no dia seguinte? Também não. Respirámos fundo. Tínhamos que pensar como chegar a Bukhara. Não havendo comboios temos de arranjar uma outra alternativa. Mas seria talvez melhor comprar já os bilhetes para Khiva e para Samarcanda. Dizemos à senhora os dias para essas duas viagens. Ela responde que sim, que havia bilhetes, mas que o comboio não tinha portas. E com os braços fazia um sinal de cruz em frente do peito. “No doors”. Como assim, como vai sem portas! E a senhora repetia “ no doors”. Mas que havia ainda lugares na outra classe. E nós perguntamos mas nessa classe a portas? E ela disse que sim. Então decidimos comprar os bilhetes. Continuamos a conversar e ela repete o que pretendemos comprar e faz então o sinal com as mãos de quem quer dormir. Foi então que percebemos que ela queria dizer “ no dorms”, ou seja, vagões-cama! 

Depois de nos rirmos muito, saímos desta sessão com os bilhetes para aquelas duas viagens e fomos procurar um táxi para o museu de artes. Combinado do preço, entrámos e começámos a viagem. Só então reparámos que as janelas dos lugares de trás Estavam cobertas com os panos pretos que não permitiam ver nada. Eu ia no lugar do pendura  e ia vendo pelo google maps o caminho para o museu. Ele pára em frente do museu Amin Timur e diz: Chegámos. E nós dizemos não. Este é o Museu Amin Timur e não o Museu de Belas Artes. Ele segue rua acima,  pára numa obra e vai falar com os operários. Volta para o carro e pede-nos o guia emprestado para telefonar para o museu. Voltou entrar no carro e diz que já sabe o caminho. Andámos um pouco e aponta para um hotel. Chegámos. E nós dizemos não, não queremos ir para um hotel, queremos ir para o museu de belas artes. Uma das minhas amigas vê um sinal na rua e diz é por aqui. A rua estava, porém, bloqueada com o carro do lixo. Pelo Google Maps pareceu-nos estarmos muito perto e então resolvemos sair do carro e procurar sozinhas o museu. 

Na realidade no fundo dessa rua estava o dito Museu de Belas Artes que cobre o último milénio e meio de produção artística no território que é hoje o Uzbequistão. Foi fundado em 1918, com um espólio inicial formado por peças confiscadas pelos soviéticos aos seus anteriores proprietários, especialmente à família imperial, os Romanov. Inicialmente chamava-se Museu da Universidade Nacional e estava alojado num palácio dos Romanov, transitando mais tarde para a chamada Casa do Povo. Esta foi demolida em 1974 e o museu foi mudado para as actuais instalações, no centro da cidade. O edifício foi desenhado em forma de cubo pelos arquitectos I.Abdulov, A. Nikiforov e S. Rosenblum. Ao espólio original foram adicionadas peças transferidas de outros museus estatais, do Uzbequistão mas também de Moscovo e de São Petersburgo.

Era já noite quando deixámos o museu. 

Regressámos ao apartamento. Amanhã é outro dia.