domingo, 6 de novembro de 2022

Uzbequistão - 6 º dia



 



Bucara é uma cidade de gatos. Há felídeos por todo o lado. Ontem, ao jantar, sentámo-nos à mesa. Ao colocar a mochila na cadeira livre, senti algo quente e mole debaixo da toalha. Não conseguia perceber o que poderia ser. Levantei um pouco a toalha. Vi uns olhos e dei um grito. Todas as pessoas no restaurante viraram as cabeças. Os empregados correram para a nossa mesa para ver o que se estava a passar. De imediato percebi que era somente um gato e, ao ver o ridículo da situação , pedi desculpa…


Hoje de manhã, pedimos no hotel um táxi para o palácio de verão do emir. Entrámos no táxi, ele partiu e perguntámos quanto iria custar. O condutor respondeu que me diria quando chegássemos. Pedimos que nos mostrasse o taxímetro e ele apontou… para o relógio do carro.  Zangadas, exigimos que parasse ineditamente o táxi. Ele encontrou e tentou nao estar a perceber o que queríamos. Dissemos ou nos diz o preço ou nos mostra o taxímetro. Ou nós sairemos do carro. Continuamos firmes. Ele continua a tentar não entender. Por fim, ele abre a app e liga o taxímetro. E nós pensamos: Viu como era fácil? Porque nos queria enganar? 


O palácio de verão foi mandado construir pelo penúltimo emir de Bukhara, Nasrullah Khan. Nada resta daquele palácio original, exceto o nome e a localização. Nasrullah Khan era um khan louco e cruel, mas amava muito sua esposa. Quando ela morreu no parto, ele deu o nome dela ao palácio. Ele comparou a sua beleza à lua, o nome dela era Sitorabony. Assim se tornou Sitora-i Mokhi Khosa Saroy, o palácio de uma estrela como a lua.

Segundo a lenda, o Emir solicitou aos aksakals ( barbas brancas) de Bukhara que recomendassem um local para sua residência de verão. Disseram-lhe para cortar um cordeiro e pendurar os pedaços nos quatro cantos da cidade. A peça que havia sido pendurada no norte ainda estava fresca após alguns dias (!) E, assim, foi esse o local escolhido para o palácio de verão.

No século XIX, o neto de Nasrullah Khan, Abdul Ahad Khan, mandou reconstruir o palácio. O seu filho, Alim Khan, o último emir de Bukhara, mandou construir o palácio de verão tal como o que conhecemos hoje. Concluído em 1917, não o pôde porem gozar por muito tempo. Três anos depois, o comandante bolchevique Mikhail Frunze chegou à frente do exército  a Bukhara. O emir fugiu para o Afeganistão com as duas quatro mulheres, enquanto os soldados desfrutavam de sua recompensa: as 40 mulheres do harém do Emir.


O palácio tem um estilo único, fundindo características europeias e orientais. Arquitetos russos projetaram as fachadas e estruturas externas, enquanto os artesãos locais decoraram o interior.

Atualmente o palácio tem somente três edifícios, mas quando foi construído tinha muitos mais. 

Logo à entrada da residência do emir, está o salão de banquetes, uma obra-prima do típico estuque Bukharan com muitos nichos e espelhos. O salão é iluminado por um enorme lustre trazido da Polónia; as fechaduras e maçanetas das portas foram trazidas da Inglaterra e a maioria dos móveis foi importada da Rússia. Os espelhos vieram de Veneza e as salamandras esmaltadas da Alemanha - a Europa em Bukhara! Entre as as curiosidades interessantes temos o armário com espelhos que, se refletir a nossa imagem 42 vezes, significa que os nossos sonhos vão ser  realizados. 


Outra curiosidade são os painéis das paredes que eram mudados quatro vezes por ano, sempre que a estação do ano mudava. 

Os outros dois edifícios que ainda existem é o harém e a residência das visitas. Esta foi construída especificamente para Olga, a irmã do czar russo Nicolau II, por quem o emir se tinha apaixonado, mas que nunca aqui veio porque entretanto rebenta a II Grande Guerra. O harém alberga agora uma vasta coleção de suzanis (tecidos bordados). Em farsi, 

suzani significa “trabalho de agulha”. Estes nunca são perfeitos, porque só Deus pode fazer coisas perfeitas. 



Do palácio fomos para o mausoléu de Ismail Samani, construído para receber os restos mortais de Ismail Samani, o fundador da dinastia Samânida, encontrando-se também ali sepultados o seu pai e o neto Hasr.

O mausoléu foi concluído em 905, sendo o edifício islâmico mais antigo da cidade. Notavelmente apenas a sua cúpula necessitou de trabalhos de restauro desde a sua construção.

Esta cúpula semi-esférica assenta no corpo principal do edifício, em forma de cubo com 10,8 m de altura,  lembrando a kaaba de Meca. Além desta cúpula, existem quatro cúpulas pequenas. 

As paredes exteriores, com 2 m de espessura, estão decoradas com padrões geométricos. Todos os lados são iguais. Há 10 janelas de cada lado para iluminar o interior  

Com o tempo ficou soterrado o que a protegeu de ser destruído pelas invasões mongóis. Foi  descoberto em 1934 pelas tropas soviéticas. Os soviéticos construíram um grande jardim à volta, onde funciona atualmete um parque de diversões. Foi aqui que almoçámos: somsa (um pastel de carne, shorba (sopa de carne e legumes) e Okroshka (sopa fria).  



Seguimos para a mesquita Bolo Hauz, em frente da fortaleza e que com ela  forma um kosh, um arranjo urbanístico típico da Ásia Central, no qual dois monumentos formam um par simétrico, segundo um mesmo eixo longitudinal. A mesquita faz parte dum conjunto arquitetónico que também inclui um hauz (lago artificial) e um minarete. A sua construção foi iniciada em 1712, por ordem da esposa de Abul Faiz Khan. 



O desenho da mesquita apresenta caraterísticas híbridas curiosas, que refletem o clima rigoroso de Bucara, com calor sufocante no verão e frio de gelar no inverno, com clima ameno entre as estações. Os arquitetos adaptaram os edifícios a esses extremos climáticos dotando-os de ivãs (espaços retangulares, exteriores, mas  cobertos), voltados para norte ou leste, abertos em pelo menos um dos lados para proporcionar ventilação e sombra no verão. Nos meses de inverno, os ocupantes deslocavam-se para o interior, onde eram acesas lareiras. 

No verão, os fiéis usavam o espaçoso ivã do lado oriental (construído somente no século XX), que tem 42 de comprimento por 10 metros de largura e 12 metros de altura, sustentado por 20 pilares de madeira e delimitado em três lados por paredes de tijolos. 

 

Para terminar a visita de Bukhara fomos ainda até à cada-museu de Fayzulla Khojaev,  construída em 1892.

 Fayzulla Khojaev era um próspero negociante que se aliou aos soviéticos para depôr o emir Alim Khan, tendo com isso ganho uma posição de destaque na nova República Soviética. Caiu porém em desgraça e Estaline mandou-o executar em 1938. 

Hoje em dia a casa é muito procurada por noivos para as suas fotografias do casamento, que são tiradas alguns dias antes da cerimónia.