quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Uzbequistão - 3º dia




O  dia amanheceu radioso com um lindo céu azul e um belo sol, irradiante de luz.  Depois de um dia de chuva torrencial, foi uma benção para os nossos passeios.

E ouro sobre azul foi a tomada de decisão sobre a nossa ida para Bukhara. Vika, a gestora do apartamento que alugámos, arranjou im táxi para fazermos a viagem  de 555 km entre as duas cidades pelo preço que iríamos pagar de comboio. Uff! Problema resolvido. 

Pudemos então sair de casa despreocupadas.


A funcionária que nos vendeu os bilhetes de metro era duma antipatia assustadora, lembrando a frieza das relações da era soviética. Nunca olhou para nós, não deu um sorriso, não disse uma palavra. 

A estação de metro desemboca diretamente no mercado/bazar Chorsu. 



Este mercado localiza-se junto ao que resta da cidade antiga e o seu nome significa em farsi “quatro riachos” ou “cruzamento”. Tem vários edifícios e uma area enorme de bancas sob tendas. O edifício central tem uma arquitectura muito própria, enquadrada no espírito do chamado Orientalismo Soviético, com uma enorme cúpula assente sobre uma série de arcos. 

Como qualquer bazar, Chorsu é um pequeno mundo, sendo considerado um dos melhores mercados da Ásia Central. Ali se encontra de tudo, mais ou menos forma ordenada, distribuída por áreas especializadas, por vezes sem a mesma ordem, numa espiral de caos:venda de vegetais e legumes, carnes, pão, frutos secos,  especiarias, flores. 

Há cafés e restaurantes, bancas de comida de rua.  Há de tudo. 



Mas a melhor parte é sem dúvida a zona dos fornos do pão. É grande a azáfama. Uns seis fornos de tijolo, aquecidos a gás, cada qual com três ou quatro padeiros, que afanosamente amassa, forma, assina, humedece e põe no torno milhares de pães.  O pão é preparado sem fermento e tem ao centro a marca do padeiro. 












Lindas e muito coloridas são as bancas das especiarias, da frita fresca e das oleaginosas. Alias aqui tivemos uma experiência muito divertida. A zona das oleaginosas é no andar superior. Aproveitei  e pus uma lente de grande angular na câmara do telemóvel para tirar uma fotografia, abrangendo todo o mercado. Alguns homens rodearam-nos e quiseram ver que objeto era aquele.  Pediram-me para pôr nos telemóveis deles e qual crianças pequenas com um brinquedo novo começaram a tirar fotografias. Estavam divertidíssimos e riam-se muito. Quando nos quisemos vir embora , começaram a pedir que lhes vendesse a lente, chegando até a oferecer-me um grande saco de açafrão! Mas não fiz negócio e seguimos. 



Saímos do mercado e fomos ver a madraça Kukeldash que fica mesmo entre o mercado e a mesquita Juma, inicialmente construída em 1570. Ao longo do tempo sofreu danos diversos, especialmente com os muitos tremores de terra que abalaram a região. Foi renovada já no século XX. 


A madraça ainda está em funcionamento. Tem 250 alunos de ambos os sexos. Alguns dos quais são internos.  Foi construída com tijolo amarelo e tem a forma quadrada tradicional com um grande portal e um claustro, à volta do qual estão as celas/ os quartos dos alunos. O portal tem 20 metros de altura e contém duas torres em seus lados.



Logo ao lado está a mesquita Juma, a mesquita principal para a oração de sexta-feira.  A sua história remonta ao inicio do século IX, tendo sido construída  no ponto mais elevado da cidade de então. Desde essa altura já foi inúmeras vezes  destruída e reconstruída, renovada a ampliada. A última intervenção data de 2003, quando foram adicionadas duas cúpulas à mesquita.  

Conta-se que as mulheres que eram infiéis aos maridos eram colocadas vivas dentro de sacos que eram  cosidos todos à volta e depois atirados do alto do minarete, que tem 20 de altura . Nada se sabe que castigo recebiam os maridos infiéis às suas mulheres…

Era a hora da oração e de todo o lado vinham homens que rapidamente descalçavam os sapatos e entravam na mesquita. As obrigatórias abluções ja deviam vir feitas…

Não podendo visitar a mesquita, sentámo-nos num murete fora de portas para decidir aonde ir a seguir.  Aproximou-se de nós uma rapariga e, num Inglês escorreito,  se apresentou. Era aluna do curso de Turismo e estava com um grupo de colegas a entrevistar turistas sobre o que achavam do Uzbequistão.  E la estivemos uns 15 minutos a falar com os estudantes. Depois aproveitámos a presença de alguém que falava inglês para perguntar onde havia um banco. Ninguém sabia, mas tiraram os telemóveis dos bolsos e  começaram a procurar no Google. “Do outro lado da praça ha um”. Agradecemos e atravessámos a praça. Havia três bancos… mas, na realidade, eram somente maquinas multibanco. Entrámos numa loja para perguntar por um banco. Nao sabiam, mas se nós quiséssemos elas poderiam trocar-nos o dinheiro. Nao funcionou este mercado negro, porque elas só aceitavam dólares. 

Continuámos à procura e tivemos êxito. 



E agora de um táxi para irmos ao Monumento às Vitimas do Sismo. Deixámos a vergonha de lado, entrámos numa livraria e perguntámos se alguém podia pedir um táxi pela app do telemóvel. Uma senhora prontificou-se logo para o fazer. Os uzbeques são muito simpáticos. 

Este monumento, também conhecido como Memorial da Coragem, foi erigido em 1976, mas comemorações do décimo aniversário do grande sismo de 1966.

No dia 26 de Abril desse ano um forte abalo sísmico com uma potência de 9 na escala de Richter arrasou uma boa parte da cidade, estimando-se que um quarto de milhão de pessoas tenha perdido os seus lares.

O monumento, criado por D.B. Ryabichev e S. R. Adylov, honra todos aqueles que se empenharam na reconstrução de Tashkent, sendo um excelente exemplar de estatuária soviética. Uma família está em frente de uma grande racha na terra, que termina num cubo com a data e a hora exata do sismo.