sábado, 11 de junho de 2016

IX RAID do Kuanza Sul - Dia 3 - 11 de Junho

Que bem dormimos hoje num hotel "a sério"! A cadeia Ritz, que nada tem a ver com a portuguesa, tem em Menongue, a Serpa Pinto do tempo colonial, um "lodge " com bungalows espaçosos, limitados com cercas de rosas. A cama tem um bom colchão que permitiu descansar da longa etapa de ontem. E o bom duche de água bem quentinha ajudou a retemperar as forças. Só faltou um 2º cobertor. A temperatura baixou aos 9 graus e a noite foi fresca. Estou a ficar preocupada com as duas noites que vamos passar no mato  sem unidades hoteleiras .... Também pensei nas populações locais. Como devem passar frio nas palhotas feitas de terracota! 

São 11.00 e ainda saímos. Estamos em compasso de espera. Não podemos sair de Menongue. Em Caíla, na fronteira com a Namíbia, não há combustível. A falta de combustível é uma realidade em Angola. Poderíamos ir atestar os jipes à Namíbia mas aqui o problema é a falta de divisas. A organização do RAID  tem um grande quebra-cabeças para resolver. 
Já demos um passeio à volta do hotel. Fomos até ao "mercado": três bancas com uma mão cheia de tomate e outra de peixe. Ah, e uns montinhos de dentes de alho. Nada mais. 
No caminho cruzámo-nos com rapazinhos a brincar com o que têm à mão: uma vassoura a fazer de volante de carro, outro a puxar um carrinho de madeira sem rodas, outro a empurrar um aro. 
As meninas que encontrámos estavam a trabalhar : na banca do mercado , outras estavam a lavar a louça num alguidar com água de natureza duvidosa, outras vinham com as mães com baldes de água à cabeça e nas mãos. Igualdade de género é algo desconhecido aqui. As mulheres são verdadeiras heroínas. Tratam dos filhos e da casa, vão buscar água , tratam da horta, recolhem lenha - tudo isto com os bebés às costas e uma catrefada de outros pela mão. 


Partimos às 12.00. Os primeiros 130 km foram numa fantástica estrada que nos fez suspeitar que essa estrada não terá sido feita por empresas chinesas...
No caminhando vimos , tal como ontem, carcaças de tanques. Não nos podemos esquecer que esta província do Cuando Cubando foi fortemente castigada durante a guerra civil, tendo sido palco de sangrentas batalhas. 
Passámos pela ponte sobre o rio Cubando onde só cabe um carro de cada vez. 
Pouco depois da ponte entrámos na picada com paisagens  encantadoras, montes de térmitas mto grandes, lindas aldeias de tribos koisans, o povo mais antigo do mundo, que falam aquela fantástica língua dos estalidos. 
Almoçámos umas sandes nas margens do rio Cubango onde havia uma linda canoa que fez lembrar "Rosinha, minha canoa" do Erico Veríssimo. 
O sol pôs-se depois de se ter transformado numa bola de fogo bem encarnada. Estávamos ainda a 70 km do destino do dia que tiveram de ser feitos às escuras. 
Chegámos a Kaila onde está a Cuvango Lodge, que também pertence à cadeia Ritz. Pensara que hoje iria voltar a ficar em contentores mas esta unidade hoteleira é lindíssima, chegamo-nos a sentir já  na Namíbia, que está somente a 12 km daqui. 
Os bungalows são enormes, simples mas decorados com muito gosto (só a casa de banho é que é feia). É a cama tem um edredão muito quentinho, ideal para a noite fria que faz. 
A sala de jantar é pouco acolhedora e com luzes neon frias mas o jantar foi delicioso : guisado de galinha do campo com funge que era de comer e chorar por mais. 

Amanhã esperam-nos 300 km de picada... arenosa até Dirico.