terça-feira, 14 de junho de 2016

IX RAID Kwanza Sul - Dia 5 - 13 de Junho de 2016

Hoje dormimos numa tenda debaixo de uma árvore de amarula nas margens do rio Cuito. Ainda bem que não há elefantes aqui pois estaríamos com problemas : o chão estava coberto de frutos a fermentar e os elefantes são doidos por amarula fermentada. 
Acordámos bem cedo e vimos p sol a nascer sobre o rio. Um momento mágico. O céu começa a ficar alaranjado, sobre o rio levanta-se um leve véu de nevoeiro e aos poucos a luz vai surgindo. Sentimos uma forte ligação a todo o universo. 
Saímos às 7h00 e a meio da manhã estávamos em Mocusso, na fronteira com a Namíbia. As picadas fizeram-se bem, tinham areais de quando em quando mas muito estradão. 
A passagem da fronteira foi demorada apesar de o Governo Provincial ter prometido publicamente toda a ajuda. Na fronteira angolana a morosidade foi devida ao tratamento manual de todos os documentos - não esquecer que somos uma caravana composta por 18 portugueses, 13 angolanos, 4 luso-angolanos e 1 alemão - e da emissão de 3 salvo-condutos para os angolanos que não tinham passaporte consigo. 
Para os habitantes da zona fronteiriça não há problemas burocráticos. A dada altura chegou, vinda do lado namibiano, uma carroça puxada por uma parelha de bois. O homem simplesmente abriu o portão e a família passou tranquilamente sem apresentar documentos nenhuns. Interessante ver que todos tinham um candjauiti, um porrinho com machado, útil para se defenderem dos animais selvagens com que eventualmente se cruzem e para cortar a lenha, essencial para cozinharem e para se aquecerem. 
Pensávamos nós que a entrada na Namíbia seria simples. Qual quê! Começaram por exigir o carimbo de saída de Angola, que por razões práticas e previamente combinadas com o Governo Provincial,  não tinha sido apostado. Depois quiseram que os passaportes fossem apresentadas pessoalmente. La fomos um a um ao guichet mostrarmo-nos. Depois exigiram que a nossa saída daqui a 2 dias seja feito por este mesmo posto fronteiriço. Ora, o nosso plano é reentrarmos em Angola por Kongola. Felizmente está connosco na caravana o Dr. Gime, representante do Governo Provincial, e que está a tentar resolver essa maka, como em Angola se diz problema. 
Os primeiros 25 km em território angolano são de estradão mas depois entra-se numa estrada asfaltada em ótimas condições. Uma fronteira é uma linha imaginária e no entanto nota-se logo que estamos noutro país com um nível de desenvolvimento totalmente diferente. 
Hoje e amanhã pernoitamos no Mazabala Lodge, uma unidade hoteleira lindíssima. O começo foi logo mágico. Deixámos os jipes no parque de estacionamento e um barco traz-nos ao aldeamento por canais do rio Cuando. Ao longo do percurso vamo-nos cruzando com crocodilos, lindos pássaros que sobrevoam a superfície da água  e grupos de hipopótamos, que mergulham quando o barco passa para voltar à superfície assim que passamos - todas estas bucólicas cenas envoltas na luz encarniçada  do sol poente.  
O aldeamento tem no centro uma casa grande, totalmente aberta e ligada a uma torre de observação de 360 graus. À sua volta estão dispostos os bungalows, casinhas muito simples mas muito bem integradas na paisagem. A parte lateral é toda rasgada mas sem vidros , somente com rede e cortinas do lado de dentro. O teto é de colmo. Sentimo-nos bem na "nossa" casa dos próximos dois dias. 
O aldeamento pertence a um americano de Washington e o pessoal, multi-funções, parecem ser estudantes universitários em férias: todos novos, simpáticos e irradiação positiva.  
O jantar foi servido na casa grande e foi delicioso: creme aveludado de cogumelos, bife estroganof com espinafre, abóbora com canela e arroz e, à sobremesa, bolo ensopado em calda com pêssego. E para terminar a noite uma chávena de chá roiboos.