terça-feira, 21 de junho de 2016

IX RAID Kwanza Sul - Dia 12 - 20 de Junho de 2016

Logo de manhã começaram a chegar à fazenda mulheres com as filhas , com cestos de milho branco já descascado à cabeça. O milho é lavado em tanques e depois posto a secar ao sol. 
O pequeno almoço foi de reis e rainhas. Muita fruta tropical, bolo de cenoura e de chocolate ,tudo preparado com muito amor e carinho. 
O chá de caxina, ou de príncipe, era delicioso. 
Antes de partirmos a Sra. d. Odete distribuiu pelas senhoras uma rosa de porcelana. Realmente uma simpatia. 
A poucos quilómetros da fazenda fizemos um desvio para as nascentes de água quente da Tocota. As águas saem do solo a uma temperatura alta. Pode mergulhar-se no tanque para onde a água cai - sentimo-nos num jacuzzi sem bolinhas. Segundo os locais, a água tem propriedades benéficas para a pele deixando-a muito suave. 
Seguimos caminho para a Gabela, uma pequena cidade jardim no tempo colonial. Tem ainda muitas casas coloniais. A praça central com o seu jardim está relativamente recuperada. 
O município vizinho da Kilenda fica somente a 30 km mas são precisas duas horas para lá chegar. Não há estrada nem alcatroada bem estradão somente uma picada cheia de veios largos e profundos. Fomos recebidos por Maria Monteiro José, administradora do município, no largo principal onde se encontra o edifício da administração, a igreja católica construída possivelmente nos anos 1970 e um parque infantil, ainda do tempo dos Portugueses. 
Segundo os dados existentes, os atuais habitantes vieram de Calulo (atual município do Libolo) de um grupo de emigrantes chefiados pelos sobas Kinhama Ya Vunge e Kilenda Ya Vunge que atravessaram o rio Nhia, fixando-se nas montanhas do território que já era habitado. 
Viviam da agricultura, da caça, da pesca e da criação de amimais de pequeno porte.   
Kilenda foi elevada a concelho em 1965. O município tem atualmente 94197 habitantes. O esforço na educação tem sido grande e o município tem atualmente 42 escolas, das quais são 20 definitivas e as restantes provisórias, construídas em colaboração com os encarregados de educação: os pais constroem a cubata com adobe e  o município fornece as carteiras. 
Problemas com as crianças que ficam sozinhas quando as mães vão trabalhar. Foi pedida ajuda ao município de Almada. Projeto prévio (arquitetura e organograma) para uma creche e jardim infantil é uma sala de reuniões separada) para 200-250 crianças. 
O projeto vai agora ser posto à consideração do conselho educação social. 
Segundo um responsável pelo município, o absentismo escolar é ainda um problema. As crianças ajudam muito em casa. Por exemplo, no tempo das queimadas, as crianças   ficam encarregues de apanhar os ratos que fogem do fogo (receita no final do texto). Noutras épocas, as crianças são enviadas para o mato para apanhar caracóis e outros animais. Para efetuar estas atividades, as crianças têm de faltar à escola. O município tenta educar os pais para deixarem as crianças ir à escola, contando para tal com o apoio das igrejas (há 18 confissões cristãs no município ) e das autoridades tradicionais locais. 
A nível de saúde o município tem 1 hospital e 12 centros de saúde com um enfermeiro por posto. Não é suficiente, mas é o possível, segundo informou a administradora. 
Já há água potável na maioria das localidades - só que, com a escassez de combustível os geradores não funcionam há quase dois anos. E se os geradores não  produzem  energia, as bombas da água não trabalham. Há alguns anos foi construída uma potente central de bombagem e tratamento de agua, mas que está parada por falta de energia. 
Há grandes problemas de acesso, sendo as estradas muito más. De Gabela a Kilenda são somente 30 km mas que demoraram 2 horas a ser percorridos devido aos longos e profundos veios na picada. O executivo central prometeu a asfaltagem ainda este ano - a ver se acontece. 
A crise fez diversificar a economia do país, e o município está a apostar muito na agricultura e no turismo, tendo já incentivado a fundação do Centro Turístico do Mugige junto ao rio homónimo, onde almoçámos. 
O almoço foi oferecido pela Administradora do Município: caldeirada de cabrito, carapau grelhado e galinha de cabidela, kizaba, banana e batata doce cozidas. 
Foi a cozinheira do Centro Turístico que me deu a receita de rato assado: passa-se o rato rapidamente pelas brasas para sair o pêlo. Abre-se ao meio, retiram-se as víscera e lava-se bem. Ao lume temos uma panela com água a ferver. Deitamos dentro o rato e deixamos cozer alguns minutos.  Retira-se, escorre-se e leva-se ao grelhador. Grelhe durante 20-30 minutos. 
À tarde passámos ainda pelas chachoeiras do Binga, onde o rio Keve se despenha alguns metros. Este rio acompanhou-nos ao longo do dia. Entre Conda e Gabela, passámos pelas antigas Seis Pontes que foram destruída em novembro de 1975 para travar o avanço das forças sul-africanas quando estas invadiram Angola. 
Ao início da noite chegámos a Porto Amboim onde jantámos ao som do marulhar da rebentação, no restaurante O Farol, mesmo em cima da praia. Foi servida moamba de ginguba, muito idêntica ao caril de amendoim moçambicano, e calulu. Muito bom.